Logomarca doada pelo artista plástico Romero Britto para ilustrar o 
programa Rede Cegonha

Quem trabalha na área de assistência ao parto acha que os termos “parto humanizado” ou “humanização do parto” estão ficando batidos. Eu acho que quando trabalhamos por uma causa, acabamos estudando, lendo ou falando demasiadamente alguns termos ou expressões. E isso pode nos dar  a sensação de que são assuntos desgastados.
Mas no exemplo em questão – humanização do parto – garanto que não se trata de algo batido, não.
Muito pelo contrário: é um assunto que mal começou a ser discutido pelas pessoas em geral, pela massa, que é quem realmente precisa saber do que se trata. Nós, envolvidos ativamente na temática, já sabemos do que se trata. Quem precisa ter acesso a informações sobre o que é o parto humanizado, como ele pode ser proporcionado, o que fazer para ter um parto nessas condições é, realmente, a população em geral.
Então eu não me canso de falar sobre o assunto e, na verdade, estou apenas começando…

A busca pela humanização do parto, na verdade, acompanha a busca pela humanização dos serviços de saúde em geral, que, por tempo demais, andam sendo feitos de maneira mecanizada, fria e impessoal, tratando pessoas como máquinas, tratando dos sintomas como se eles fossem desprovidos do elemento humano.

Em março deste ano, a presidente Dilma Rousseff anunciou um programa chamado por sua equipe de Rede Cegonha.O programa é composto, incialmente, por um conjunto de medidas que visam garantir a todas as brasileiras, via Sistema Único de Saúde (o SUS), atendimento adequado, seguro e humanizado e contará, para isso, com mais de 9 bilhões de reais do orçamento do Ministério da Saúde para investimentos até 2014. Entre as diversas medidas propostas, a Rede Cegonha prevê a qualificação dos profissionais de saúde que darão assistência às gestantes e aos bebês e, entre as novas estruturas propostas, estão as Casas da Gestante e do Bebê e os Centros de Parto Normal, que funcionarão, de acordo com o proposto pelo Governo, com o objetivo de humanização do nascimento. Claro, Clóvis, que essas são as intenções do governo. Daí à sua realização são outros quinhentos.

Mas por que estou falando disso hoje?
Porque, de acordo com o Jornal do Brasil, o Diário Oficial da União publicou hoje portaria regulamentando a Rede Cegonha. Cliquei aqui para a matéria
Embora ainda seja apenas uma mera “intenção formalizada”, estou esperançosa porque o tema tem se inserido cada vez mais na pauta governamental atual.
Quer mais um exemplo disso?
Está disponível no site do Ministério da Saúde um texto de Sônia Lansky com o título de “Por um novo modo de nascer no Brasil“. Ela é pediatra, doutora em Saúde Pública pela UFMG e supervisora do Plano de Qualificação das Maternidades e Redes Perinatais da Amazônia Legal e Nordeste. No excelente texto dela, pode ser encontrado, entre outros tão importantes quanto, o seguinte trecho:

“A expectativa em relação ao governo da primeira mulher presidente do país não pode ser pequena. Traz consigo o forte simbolismo da importância da mulher na sociedade e a possibilidade de se concretizar o anseio de que seja dada a devida consideração ao parto e nascimento. A decisão por uma política pública efetiva de saúde, de cultura e educação que promova o parto e nascimento respeitoso e saudável, o bom parto, pode ser uma marca do governo Dilma”.

 Aqui, o trecho inicial do texto da Sônia Lansky:

“Há algumas décadas enfrentamos no Brasil um paradoxo no nascimento. A intensa medicalização influenciou de forma determinante o modo de nascer, reduzindo este grande acontecimento fisiológico e natural da vida familiar e social a uma intervenção médica- cirúrgica. Ao mesmo tempo, os índices de mortalidade materna e infantil persistem muito altos e incompatíveis com o nível de desenvolvimento do país, e as causas de morte são em grande parte evitáveis por ação dos serviços de saúde. É preciso mudar o modelo de atenção ao nascimento no Brasil para a solução deste grave problema de saúde pública. É preciso alcançar os níveis os patamares desejáveis na mortalidade materna e infantil, e melhorar a satisfação da mulher e da família no momento do nascimento de seus filhos. O foco deve ser o parto respeitoso e digno, apoiado na rede de atenção articulada que garanta acesso oportuno à atenção qualificada desde o pré-natal até o parto. Que garanta o protagonismo e os direitos da mulher e da criança neste momento ímpar de celebração da vida e do afeto, de forma a promover sua saúde e as relações humanas e da sociedade.” – Clique aqui para ler o texto na íntegra diretamente no site do Ministério da Saúde.

Como São Tomé, só vendo pra crer. Mas que o fato de um governo estar incorporando isso de maneira declarada às suas políticas públicas já nos dá uma esperança e uma motivação a mais, ô se dá!

Estarei atenta. Quero ver se a cegonha virá mesmo ou se foi só um alarme falso…

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