Como um ser humano faz pra escolher entre duas coisas que ama sem sofrer?
Por favor, alguém pode me ajudar a responder essa pergunta?!
E, pelo amor de Deus, por quê, para uma mulher, ter uma carreira bem sucedida e participar intimamente da criação dos filhos se tornaram coisas excludentes? Por que não posso ser uma puta profissional em atividade na minha área e, ainda assim, estar presente na vida da minha filha, que ainda é uma bebê?! Porra! Que merda é essa?!
Se, na história feminina, sair de dentro de casa, de trás do avental e da mais completa anulação e ir em direção ao mercado de trabalho, ao sucesso, ao topo, foi um salto evolutivo, estamos precisando COM URGÊNCIA de um outro salto evolutivo agora, que permita à mulher ser bem-sucedida e desenvolver todas as suas habilidades profissionais sem ter que abrir mão da presença de seus filhos.
Isso ninguém vai conseguir sozinha, isolada.
Por favor, mulheres, vamos fazer alguma coisa. Vamos encontrar uma forma. Se ela ainda não existe, vamos criar. Homens, nos ajudem nessa, a desenvolver uma forma de continuarmos nossas carreiras com sucesso sem ter que colocar nossos filhos em creches ou terceirizar o cuidado quando nem dentes eles têm ainda. Vocês terão mulheres mais felizes em casa, filhos mais seguros, e uma sociedade melhor.
Nesse momento, eu vou ter que optar. Eu passei 16 anos da minha vida batalhando arduamente pra ser bem sucedida na minha área. Abri mão da presença da minha família para ir estudar em universidades que não ficavam na cidade em que morava. Mudei de cidade muitas vezes, deixando nos lugares amigos queridos, indo em busca do melhor. Muitas vezes me senti sozinha nessa. Passei madrugadas e madrugadas e madrugadas estudando, escrevendo. Ganhei prêmios. Publiquei coisas. Defendi uma monografia, uma dissertação e uma tese. Como outras centenas de mulheres acadêmicas que existem por aí…
Aí eu fiquei grávida, minha filha nasceu, e o mercado de trabalho me chamou. E agora, ou eu a coloco em algum lugar 8 horas por dia para que eu possa continuar de onde parei (ela não tem nem dente, não falou sequer uma palavra, não deu nem o primeiro passo!), ou paro a carreira para ficar com ela, a carreira para a qual eu dediquei minha vida, onde eu fiz tudo direitinho caramba! Tudo porque nós ainda não criamos uma alternativa intermediária. Nós já fomos pra merda da lua*, deciframos o genoma humano, estamos no caminho de encontrar a cura pro câncer, desenvolvemos uma tecnologia que une pessoas dos cantos mais remotos do planeta quase que simultaneamente, criamos nanopartículas que distribuem medicamentos pelo corpo, conseguimos ver o cérebro em funcionamento em tempo real. Mas não desenvolvemos um método para que as mães que têm uma carreira possam conciliar a maternidade com o sucesso.
Que mundo é esse, porra?!
No fim, acaba ficando infinitamente mais difícil pra quem, como eu, deu a vida por uma carreira, do que se eu não tivesse exigido tanto assim de mim mesma, porque agora eu não estaria perdendo tanto. Ou ainda, seria muito mais fácil se eu não quisesse ser uma mãe presente e participante dos primeiros anos de vida da minha filha – que são, SIM, cruciais pro desenvolvimento de um ser humano do bem.
Conclusão do manual de sobrevivência à vida ordinária no planeta Terra: se você não deu a sorte de nascer rica, ou de ficar rica pelo caminho, não se exija muito não, nem queira fazer o melhor em tudo o que você vive, porque isso traz muito mais sofrimento. Tenha uma vida mediana, seja básica, compre o pacote standard. Você vai se poupar de sofrimentos.
Então eu pergunto de novo: QUE MUNDO É ESSE, PORRA?!
Você já viu a cena nojenta do filme A Escolha de Sofia, em que ela vê a filha partir, gritando por ela, e ela não pode fazer nada, porque já fez a escolha e ficou com o filho? É assim que eu tô me sentindo, bicho. E não abra sua boca pra me dizer que tô exagerando. É assim que eu tô me sentindo. Faça o favor de respeitar.

*a lua não é merda não, eu é que tô chateada…

Abaixo, vai uma imagem do dia 22 de setembro de 2010, da deputada italiana Licia Ronzulli. Ela foi à sessão plenária com seu bebê de 1 mês de vida para pleitear melhores condições de trabalho para as mulheres. Todo mundo aplaudiu e tal. Mas, com certeza, nos dias seguintes, ela teve que deixar o bebê com alguém pra voltar ao trabalho… se voltou.

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