Tu não tá cooperando!
Só entende um pouquinho. Tá tudo ocorrendo bem.
– Bem pra vocês, não pra mim. Tô morrendo de dor. A doutora não tá nem me monitorando…
Exatamente. A doutora tá lá na frente com uma criança grave.
Então faz favor de voltar pra sala agora!!

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Isso só virou notícia (de dois dias atrás) apenas porque foi filmado. Mas dezenas (ou centenas?) de gestantes passam por isso com muito mais frequência do que seria possível noticiar.
Ela é uma enfermeira. Não há nenhuma relação de poder estabelecida ali. Pelo menos, não deveria haver, até que ela tentasse estabelecer uma. Isso é desrespeito. Isso é abuso. Isso é assédio moral. Qualquer pessoa que passe por algo assim – não somente gestantes e parturientes – deve pedir o nome desse funcionário e registrar uma queixa. É claro que, em muitas situações, a vítima desse tipo de desrespeito não tem condição física ou emocional de coordenar uma postura de enfrentamento imediato. Também por esse motivo a presença de um acompanhante é assegurada por lei, para que o acompanhante zele pelo bem estar da pessoa a ser atendida.
A presidente Dilma afirmou, em seu discurso sobre o Dia Internacional da Mulher, que o SUS, a partir de agora, vai entrar em contato com mulheres que foram atendidas em seus partos para avaliar a qualidade do atendimento. Não há informações precisas sobre como isso vai acontecer – e se será realmente viável num país de desigualdades como o nosso, e onde grande parte das mulheres ainda não problematizaram as situações de desrespeito como tais. Mas é importante que isso realmente aconteça. Para que um profissional como esse seja punido como se deve.
Porque a ninguém é dada uma autoridade como essa. Não há, em nenhum momento, qualquer condição intrínseca que coloque enfermeiro, médico e paciente em degraus diferentes nas escalas de poder. Assim como há leis que protegem funcionários públicos no exercício de sua função contra procedimentos violentos, há leis que protegem as pessoas em geral contra desrespeitos e uso da força.

Todos os dias, muitos casos de mau atendimento em situações de parto e nascimento são noticiadas, embora a atenção e o destaque que se dê a isso ainda sejam mínimos. Vejam essa.

“Ontem pela manhã, a dona de casa Fatiane Bezerra aguardava a hora do parto sentada numa cadeira de plástico, porque não havia leitos disponíveis. Ela estava com crise hipertensiva, no período final da terceira gravidez, o que configura um caso de risco. “O meu caso é grave, só por isso que estou aqui. Eu já sabia que aqui era assim, complicado, mas não imaginava que era tão ruim, não vou mentir que eu estou um pouco assustada”, desabafou Fatiane. Sílvia Melo também alerta que há uma grande quantidade de cesárias eletivas (com horário marcado) que ocupam os leitos nas maternidades de baixo risco. Casos que poderiam esperar até mais algum tempo, mas só que é mais cômodo para os médicos deixarem tudo com hora marcada, já que eles recebem do SUS pela produtividade.
Para ler mais, clique na matéria “Grávidas sofrem para ser atendidas“.

Hoje eu dei uma pequena entrevista para uma emissora de rádio sobre a ação que envolve o Teste da Violência Obstétrica (que já ultrapassou os 1500 preenchimentos e continua suscitando o debate). E foi sobre isso também que falei. É necessário que haja discussão sobre o assunto inclusive a partir de nós, pessoas comuns, gente que conhece gente que já passou por isso, gente que conhece gente que pode passar por isso, gente que se preocupa com a forma como estão tratando de gente como nós.
Sabe aquela pergunta que muita gente arrogante faz?
Você sabe com quem está falando?!“, atribuindo importância a si mesmo apenas por determinada posição que ocupa?
Se há uma situação em que ela pode ser feita com propriedade é essa.
Quando um cidadão for agredido verbalmente da maneira como fez essa enfermeira, é importante que ele pergunte a quem o ofendeu: “Você sabe com quem está falando?!“.
Mas a resposta não se baseia em posições ocupadas.
Baseia-se, simplesmente, no reconhecimento dos direitos do ser humano. Que, somente por esse motivo, já é digno de respeito.
Você sabe com quem está falando? Com uma cidadã.
Então baixe o tom da sua voz antes que eu peça o seu nome e te denuncie.
Fica aí a dica de resposta.
Porque é bom que saibam com quem estão falando.

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