1 ano da chegada do Murilo, o bendito fruto entre as Moreiras
(ilustração feita pelo Frank em homenagem à Clara e ao Murilo quando eles estavam pra nascer…)

“Ele não era um menino comum, isso eu soube desde que o vi. Foi quando eu senti, mais uma vez, que amar não tem remédio.”
Caio Fernando Abreu

Querido sobrinho, quem te escreve é sua tia que mora longe, a mãe da sua prima e amiga Clara, que veio junto com você de lá do mundo dos bebês…
Estou escrevendo hoje, dia em que você completa 1 ano de vida fora da barriga da sua mãe. Ah, a sua mãe… Que mãe você escolheu… A sua mãe é uma pessoal incomparável. Nós somos muito amigas. Na verdade, nós três passamos uma infância muito unida, temos lembranças muito boas umas das outras. Nessa de lembrar, eu e a sua dinda lembramos sempre que, quando perguntávamos pra sua mãe o que ela queria ser quando crescesse, ela dizia que queria ser MÃE e CANTORA. Pois é… ela não virou cantora. Mas por sua causa ela se tornou mãe.
Sabe, querido, eu estava com ela no dia em que ela descobriu que você chegaria em breve. Ela estava na minha casa; veio para me ajudar quando a Clarinha esteve em perigo na minha barriga. Aí ela começou a passar mal, achou que era o calor, aí se enjoou, uma loucura. Cogitei a possibilidade dela estar grávida também… Ela me chamou de doida e não me deu ouvidos. Mas os dias foram se passando e ela foi ficando mais enjoada. Então, na madrugada de 24 para 25 de dezembro de 2009, depois que terminamos a ceia, fomos nós duas numa farmácia aqui em Floripa e compramos um teste de gravidez. O cara da farmácia não entendeu nada: duas moças idênticas na noite de natal comprando um teste de gravidez…
Bem, mas aí ela foi dormir e eu disse: “Olha, amanhã cedo você faz esse teste e corre me chamar”. E fomos dormir. Quer dizer, eu fui dormir, mas ela deve ter passado a madrugada em claro. Seu pai também estava, Lilo. Ele dizia que estava tranquilo…
Aí no dia seguinte, muito cedo, o meu celular tocou. Eu, meio dormindo ainda, olhei e vi no visor “LENITA”. Mas que ráios ela tá me ligando a essa hora se tá dormindo aqui no quarto ao lado?! Terminei a frase e arregalei os olhos. Saí da cama correndo – eu, que nem podia correr. E quando abri a porta do meu quarto, estava ela lá com uma fitinha na mão, chorando-rindo de feliz: “Tô grávida”. Eu dei um grito e a abracei bem forte. Choramos juntas.
Você estava chegando, meu querido…
Junto com a Clarinha.
Nós acordamos todo mundo. Lógico, isso depois da sua mãe voltar pro quarto pra contar pro seu pai. Sobre isso eu não escrevo porque eu não estava lá, só eles estavam, só eles podem te contar o que aconteceu. Mas pelo tamanho do sorriso do seu pai quando saiu do quarto, ele também estava feliz. Assustado, o pobre, mas feliz.
Tiramos uma foto daquele momento pra mostrar pra você e pra Clara um dia. É uma lembrança do dia em que soubemos que seríamos mães juntas, porque vocês estavam chegando.

Sabe, Lilo, eu e a sua mãe, quando éramos crianças, sempre brincávamos dizendo que teríamos filhos juntas. Mas eu te juro, era mesmo brincadeira. A sua tia aqui, depois, passou um tempo achando que nem teria filhos. Até que a Clara veio e mudou tudo, para minha infinita alegria. Nós dizíamos que teríamos filhos juntas, que moraríamos perto, que compraríamos uma casa na praia juntas (ela sempre diz que não lembra dessa parte, mas eu juro que é verdade) e que seria ela quem ficaria responsável – SEMPRE – pelas guloseimas quando as crianças estivessem juntas. A primeira parte deu certo. Quem sabe a gente não consegue, daqui pra frente, ir realizando as demais?
Murilo, você, então, foi um filho muito esperado. Sua mãe soube a vida inteira que você viria. Ela sempre foi a mais certinha de todas nós, a mais organizada, a filha que nunca planejou sair de casa. Ela queria ficar com a vovó sempre – eu me lembro dela dizendo isso… Me lembro de um dia em que elas – mamãe e vovó – estavam deitadas juntas na cama da vovó, assistindo tv, quando eu disse: “E você, Lenita, não quer morar sozinha não?”, e ela disse, virando pra vovó e a agarrando, daquele tamanhão todo que ela tem: “Eu não. Vou morar com a mãe até ela ficar velhinha…”. A vovó ficou lá tirando sarro dela, brincando daquele jeito “sai chulé”, que você já sabe bem qual é. Então, sabe, Lilo, hoje a titia fica muito feliz em saber que vocês estão juntos. Fico muito feliz em saber que a vovó está te vendo crescer. A tia queria muito que ela visse os netos crescerem. Como a tia ainda está longe (ainda, mas espero que não seja por muito tempo mais), ela não pode ver a Clara. Mas me conforta saber que está te vendo crescer.
Meu amor, você é um menino que me dá alegria mesmo de longe. Quando as pessoas dizem que você parece meu filho – acredite, mesmo que não pareça, isso é um elogio -, porque você é desse jeito agitado, empolgado, intenso, animado, saiba que eu fico cheia de orgulho. A tia passou a gravidez inteira com as pessoas dizendo que eu teria um filho como você. A Clara veio muito diferente, veio tranquila, calma, bicho-grilo, zen. Então fico muito feliz em saber que o mesmo gene que tem aqui, tem aí.
Meu amor, hoje você está fazendo 1 aninho. Eu chorei muito quando soube que você tinha nascido. Sentei no sofá, do lado da sua priminha que tinha apenas 1 mês de vida, e chorei muito. De felicidade, de saudade, de vontade de estar perto. Eu estava muito nervosa, porque não tinha notícias de vocês depois que sua mãe havia ido para o hospital. Então quando a vovó me ligou dizendo: “nasceu”, eu só sentei e chorei. Fiz uma oração – porque sei que sua mãe adora – agradecendo por sua chegada.
Ainda que estejamos longe, meu querido, estarei sempre do seu lado. Você poderá contar comigo sempre. Sou sua tia, sou sua amiga, sou sua parceira. Sinto sua falta e do seu sorriso com covinhas.
Nossa família sempre foi uma família de mulheres. E foi uma imensa alegria receber um menino como você.
Feliz aniversário, meu amor. Que sua vida seja sempre cheia de alegria.
Um beijo, com saudades…

Tia Ligia e Clarinha, sua prima e amiga

… morando sempre no meu coração.
Pra você, Lenita, minha irmã querida. 
“Muitas mulheres iniciam, com a experiência da maternidade, um caminho de superação, apoiadas por perguntas fundamentais. E muitas outras desperdiçam sem cessar os espelhos multicoloridos que aparecem diante delas neste período (…)” – Laura Gutman
Parabéns
por 1 ano de maternidade exclusiva. Parabéns por deixar-se transformar por ela. Parabéns por ter vestido a camisa e ter entrado com toda a alma na experiência. Parabéns pela garra, coragem e persistência durante esse ano. 

Leave a Reply