Papai Noel não existe.
É um absurdo que um senhor de idade use uma roupa tão quente em um país idem.
Compra-se, compra-se, compra-se e Natal virou sinônimo de comércio.
Renas não voam – que ideia…
Raras são as casas que possuem chaminés e por que cargas d’água, existindo a porta, um ser humano preferiria se jogar por uma?
A ideia do Natal tem sido usada como chantagem para as crianças durante todo o ano. Ganhará presente aquele que se comportou bem, que foi bem na prova, que não bateu nos amigos, que obedeceu pai e mãe, que fez as orações antes do jantar.
Há infindáveis sobras de comida no dia seguinte, porque cozinhamos muito mais do que precisamos.
Conflitos familiares teimam em aparecer nesta exata época.
Quem está sozinho nesta data fica tristonho.
Muitas vezes, crianças anseiam mais pelos presentes que pela oportunidade de reunir amigos e famílias.
Natal é uma festa cujo sentido primordial foi modificado há muito tempo, para aqueles que creem em seu sentido espiritual.
Reunião de família no Natal tem 80% de chance de terminar em confusão, em cobranças, em tios e tias fazendo perguntas cretinas ou usando de humor duvidoso.
Mentira?
Não, tudo isso é verdade.
Papai Noel existe.
Tanto quanto a bernunça, a Dona Maricota, o boi de mamão, o sapo que não lava o pé, as galinhas que são amigas do Júlio, o Manny, o Diego e o Sid. Sem esquecer do caranguejo que não é peixe e da barata que tem saias de filó.
Para quem espera por um presentinho, existem as artesãs e os artesãos, que fazem tudo um a um, com suas mãos e suas ideias. Existem também os amigos que produzem ou vendem brinquedos educativos e produtos orgânicos que movimentam a roda da economia solidária, justa e sustentável.
Nem todas as casas possuem chaminés. Imagine quanto de árvores precisaríamos cortar para produzir ainda mais lenha. No lugar de chaminés, temos portas e janelas abertas para deixar entrar o vento e cumprimentar o vizinho.
Muita gente tem usado o Natal para contar uma história, impregnada ou não de conceitos religiosos. Não uma história de um menino santo. Mas de uma mãe que viajou para longe a fim de salvar seu filho de ser machucado e que contou com o apoio de seu companheiro – que não era pai do menino, como tantas famílias nos dias de hoje. É sim uma bela história. Mais acolhedora e simpática que aquela do tal lobo que engoliu uma idosa acamada, por exemplo.
Conflitos familiares que surgiram ao longo do ano também têm mais chances de serem resolvidos na época do Natal. Talvez porque as pessoas anseiem estar juntas e estejam cansadas de guerra e desentendimentos.
Quem está sozinho ou vive longe da família aproveita o Natal para reunir amigos que também estão sozinhos ou longe de suas famílias. Gente que passa o ano inteiro assim, distante de seus familiares, mas perto de gente que elegeu para ser sua família em função do companheirismo, da força dada ao longo do ano, da parceria e confiança mútuas.
Quem já precisou passar véspera de Natal ou a própria data em hospitais, adoentado ou acompanhando quem convalescia, sabe que sempre aparece um grupo animado de pessoas que cozinharam muito nos dias anteriores para aqueles que não poderiam cozinhar. Montam mesas decoradas fartas de frutas, bolos e muito carinho apenas para celebrar junto a completos desconhecidos a existência da vida e do sentimento de comunhão como seres humanos.
Mentira?
Não, tudo isso é verdade.
Para todas as histórias existem muitos lados.
Se o Natal é uma data consumista? Para alguns. Não para outros.
Se o Natal é uma bobeira religiosa? Para alguns. Não para outros.
Se o Natal é um sentimentalismo barato? Para alguns. Não para outros.
Como lutar pelo respeito às diferenças e ignorar os múltiplos lado do Natal?
Para nós, aqui em casa, é uma data constantemente marcada por saudade.
Perdemos gente muito querida em época de festividades natalinas.
Moramos longe de nossas famílias originais, que vemos tão pouco.
Não temos família por perto.
E nem por isso nos deixamos entristecer nessa época.
Apenas porque temos mais motivos para celebrar que para entristecer.
Estamos aqui.
Estamos saudáveis.
Estamos sãos.
Estamos críticos e alertas.
E temos nossos amigos… 
Essa gente altruísta e carinhosa que nos acolhe durante mais de 300 dias por ano. Que nos abraça, nos apoia, cuida dos nossos filhos em comunhão, divide o que tem. Gente com quem dividimos a vida diária, repleta de desafios e superações.
É para eles que hoje arrumaremos nossa casa e abriremos nossas portas, para que saibam que são importantes. 
Porque é preciso dizer às pessoas o quanto são importantes para nós. É precisam que saibam o quanto são importantes. Em um mundo de tanto desprezo, onde é tão fácil ignorar os outros sem qualquer motivo, onde parece ser mais fácil ignorar o amor que reforçá-lo, hoje celebraremos a amizade e a importância que o outro tem para nós.
Esse ano, Papai Noel não virá de corpo presente, apenas em intenção e sinos tocando. Os presentes serão deixados no gramado, próximo ao portão, onde poderá ser visto um pedaço de tecido vermelho de quem tentou fugir e acabou rasgando os fundilhos. 
Para você isso é enganação?
Para mim são sonhos de infância e cultura popular.
É uma questão de escolher o lado que se quer ver.
Nesta casa, nós acreditamos no Natal tanto quanto acreditamos que as esperanças se renovam na virada de 31 de dezembro para 01 de janeiro. Não é uma crença baseada em lógica, mas em sentimento, emoção e celebração da amizade. Nós preferimos enxergar o lado bom. 
É uma escolha que fazemos: usar a data do Natal para reunir amigos, crianças, fazer comidas cheias de amor e significado, abrir as portas de casa e dizer a quem esteve conosco ao longo do ano: “Bem vindo, amigo. Você é importante para mim“.
Que é o que faço neste blog a cada madrugada em que dedico momentos preciosos para escrever aqui. Abro a porta da minha vida, das minhas dúvidas, das respostas que vou encontrando apenas para dizer: “Bem vindo, amigo. Você é importante. Seu filho e importante. Uma mulher é importante. Nós somos importantes“.
Hoje à noite, cada amigo que abraçarei representará também cada pessoa com quem gostaria de estar. Cada sorriso da minha filha representará também os tantos sorrisos de crianças que não estão sendo desrespeitadas. Cada sorriso de minhas amigas representará também os tantos sorrisos de mulheres que estão dando à luz sem violência. Porque é por isso que eu trabalho ao longo de todo o ano. 
E é isso que celebrarei.
A vocês eu deixo o mais profundo desejo de uma noite tranquila. Estejam sós ou acompanhados. Perto ou longe de quem amam. E o profundo desejo de que consigam enxergar o lado bom das coisas.
Porque a vida é muito curta para ser enxergada por um buraco pequeno e escuro.
Grande abraço a todos e um feliz Natal!
Assinado: Pollyana
(brincadeirinha…) 🙂

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