Foto tirada no dia que esse livro chegou pela
primeira vez às minhas mãos. Foi um choque…

Todo mundo que visita esse blog sabe que sou divulgadora e defensora do Livro da Maternagem. Tanto que me envolvi em sua pós-produção, a ponto do Cientista Que Virou Mãe ser hoje um ponto exclusivo de aquisição de sua segunda edição.
Mas por que eu me envolvi nisso?
Por que, desde minha gravidez, eu sentia falta de um livro para mães, pais e cuidadores que fosse completo, que não fosse medicalizante, que fugisse do senso comum, que orientasse mães e pais a criarem seus filhos mais preocupados com o amor do que com questões exclusivamente pediátricas. Que falasse tanto sobre a parte filosófica da maternidade quanto das dicas imprescindíveis para mães, pais, crianças e cuidadores. Até então, nenhum livro brasileiro tinha minha total simpatia.
Então, um dia, a Thelma, sua autora e organizadora, criadora da comunidade Pediatria Radical (onde ficou conhecida carinhosamente como Dra. Relva) conheceu esse blog e gostou dos textos que eu escrevo e compartilho aqui, especialmente os que tratavam da medicalização e da criação com apego. E me convidou para escrever um texto para integrar seu livro, convite que aceitei com muita alegria.  Até então, eu sabia que ela estava trabalhando em um livro, mas não sabia exatamente como ele seria.

Então, quando o livro ficou pronto, ela me escreveu pedindo meu endereço para envio de alguns exemplares. Dali a pouco, chega aqui em casa uma caixa de livros que, por seu tamanho, parecia conter uns 20 exemplares. E qual não foi minha surpresa quando abri e vi apenas 5 livros?! Ou seja: era um livro imenso, quase um compêndio sobre maternagem!

Fiquei encantada… Abri e, junto com meu marido, folheamos, lemos trechos e ficamos admirando aquela obra, totalmente surpresos. Telefonei para ela e contei sobre meu choque, surpresa, gratidão e alegria! E colocar o blog à sua disposição caso ela quisesse divulgá-lo aqui foi coisa quase automática. Eles tinham tudo a ver um com o outro. Tudo o que eu queria era que outras mães, pais e demais cuidadores encontrassem aquele livro, que falava sobre coisas tão especiais, com tanto amor e respeito.

E foi assim que ele chegou até aqui…
Rapidamente, a primeira edição se esgotou. Thelma então se dedicou mais uma vez, de corpo e alma, a correr atrás da segunda. Também batalhou bastante para que seu preço pudesse ser reduzido, de forma a se tornar um pouco mais acessível. E então, está aqui, disponível desde o último domingo, a segunda edição do Livro da Maternagem.

Todo mundo que teve a chance de tê-lo em mãos gostou. Mas no fim, Thelma acabou, ela mesmo, falando muito pouco sobre sua obra. Então hoje ela conta um pouco sobre o livro, do que ele trata, como foi feito e outros detalhes.

Thelma de Oliveira – Autora de O Livro da Maternagem 

CQVM – O termo “maternagem” não era, até então, tão empregado quando se falava em cuidados com a infância. O que é a maternagem?

Thelma de Oliveira – Cuidados de maternagem vão desde o modo de carregar o bebê, falar com ele e agir com estabilidade, de modo que ele sinta que nascer vale a pena, que a linha de sua vida está/será preservada e que poderá desenvolver suas capacidades, sempre em direção ao amadurecimento. A educação intuitiva para exercer a maternagem começa na gravidez, preparação para o parto, amamentar ou alimentar com amor, toque afetivo etc.

CQVM – No livro, você menciona que existem novas mães e que elas estão “saindo do armário”. Você poderia explicar um pouco melhor essa expressão?

Thelma de Oliveira – São mães que procuram desenvolver a maternidade intuitiva para ligar-se ao bebê com amor, e também as que participam suas descobertas e dificuldades a outras mães, pela internet. Quando eu comecei a [comunidade] Pediatria Radical, todos esses assuntos eram alta novidade. Em 7 anos, a coisa ‘bombou’; hoje existem centenas de blogs maternos ou correlatos, que falam abertamente de assuntos ligados à gravidez, parto, bebês, etc.

CQVM – Quais você considera serem os principais tópicos do LIVRO DA MATERNAGEM?

Thelma de Oliveira – 1. Cuidados com a própria saúde, envolvendo alimentação, hidroginástica, yoga, repouso, lazer, grupos de amigas. Procurar preparar-se para o parto, conhecer as vantagens do parto normal (e buscá-lo, sempre que possível).2. O que quer uma parturiente? Respeito, cuidado, acolhida familiar, acompanhamento do companheiro e/ou de uma doula na hora do parto. O pulo do gato é: não ir precocemente para a maternidade, esperar em casa que o TP se estabeleça, para evitar intervenções excessivas.
3. E o bebê, de que precisa? Dos braços da mãe, de sua voz e seu sorriso, e do leite materno. Não precisa do famoso ‘quarto do bebê’ que é mais um local de isolamento/solidão.
4. Para que serve o resguardo? Para que mãe e bebê se conheçam, se acostumem com o cheiro um do outro, para mamãe e bebê descansarem do trabalho de parto (exaustivo para ambos).5. Por que algumas mães têm depressão pós-parto? Por cansaço, sono insuficiente, instabilidade hormonal da gravidez, insegurança, isolamento, cobranças impositivas sobre sua performance de mãe e ‘pitacos’ desfavoráveis de parentes e visitas, dificuldades financeiras etc.6. Por que o bebê precisa do leite materno? Porque é o leite apropriado para a espécie humana, tanto em seus componentes quanto nos anticorpos protetores.7. Por que os bebês precisam tanto da mãe? Para não se sentirem abandonados, o que seria uma catástrofe; eles requerem os cuidados constantes, o calor e o toque da mãe para vencerem o desamparo existencial de chegar a este mundo sem saber o que os espera. Sua ‘tábua de salvação’ é a mãe; contar com seus cuidados continuados e previsíveis é tudo de que precisam. 

CQVM – Quais foram as principais linhas norteadoras do LIVRO DA MATERNAGEM?

Thelma de Oliveira – Que a criança trabalha sem cessar na construção de si mesma; o papel importantíssimo do pai para o sucesso do parto e sua assistência moral e material para com a mãe e o bebê; o fato da chegada de um novo irmãozinho abalar a autoconfiança do maior, o que requer que se faça um preparo que facilite sua aceitação do bebê; que a casa deve ser preparada para a ch
egada da criança, inclusive com olhar atento para perigos comuns como fogão, escadas, baldes, piscinas, etc;. E, finalmente, a grande mensagem que perpassa todo o livro: UM BEBÊ NÃO EXISTE SOZINHO, ELE EXISTE COM SUA MÃE, segundo o pediatra inglês Winnicott.

CQVM – Com relação à parte técnica, como você descreve esse livro?

Thelma de Oliveira – É um livro escrito em português claro, sem jargão técnico, acessível a toda pessoa. Um livro lindamente ilustrado, com imagens coloridas, especialmente selecionadas pelo que representam simbolicamente. Ele pode ser lido de forma contínua ou aleatória, de trás pra frente e de diante para trás sem perder o sabor, o que é especialmente importante para uma mãe, que geralmente acaba tendo um tempo quebrado para sua leitura. Preocupei-me com todos os detalhes, da escolha dos textos à gramatura e tom do papel, de forma que a leitura fosse fácil, fluida e agradável

CQVM – No total, Thelma, quanto tempo você levou para preparar um livro dessa magnitude, que conta com tantos textos, sobre tão diferentes temas, da gestação à infância?

Thelma de Oliveira – Dediquei três anos e meio ao preparo desse livro. Três anos e meio, mais três hérnias de disco e mais uma vida inteira de experiência e contato com mães e suas crianças. Penso nesse livro como um legado que deixo, fruto desse aprendizado todo. 

Aproveito para dizer algumas coisas que ela mesma, talvez por humildade, não disse. Thelma não  apenas escreveu e organizou esse livro. Ela dedicou totalmente sua vida a ele enquanto o produzia. Preocupou-se com cada detalhe, deu o melhor de si para que ele se tornasse realidade, conectou mulheres, enfrentou críticas de colegas pediatras, trabalhou centenas de horas juntinho com o diagramador, a designer, a gráfica, acompanhou cada etapa de sua confecção, olhar atento, escolhendo o que de melhor havia. No meio disso tudo, ainda teve equilíbrio emocional para lidar com problemas de saúde já superados. E se disponibilizou a vir até Florianópolis apenas para conversar com um grupo de mães e pais sobre como criar crianças em comunidade. Então eu gosto desse livro não apenas por seu conteúdo, mas pelo amor que tem ali, vindo de sua própria autora. Thelma pariu esse livro daquele jeito que a gente sempre estimula as mulheres a parirem seus filhos: com muito amor.

Aqui no Cientista Que Virou Mãe, Thelma já publicou os textos “Ando meio desligado“, sobre o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, e “Tabus Alimentares“, texto que está, inclusive, em seu livro.

Ah, sim, um lembrete!
A segunda edição do Livro da Maternagem conta com três textos adicionais, que não estão presentes na primeira edição. Mas você, que já tem a primeira, não precisa se preocupar. Nós vamos disponibilizar esses três textos aqui no blog.

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