Alguns já sabem da historinha que antecede o que vou postar aqui hoje, mas como ela pode ser um

estímulo a tantas outras pessoas, vale a pena ler de novo.

Logo depois que minha filha nasceu, uns dois meses depois, dois projetos de pós-doutorado que eu havia escrito ainda na gestação foram aprovados. E na sequência. 
Murph e sua legislação perversa…
Eu com um bebê de dois meses e recém entrada no mundo da maternidade, cheia de descobertas, dúvidas, incertezas e ocitocina.
E de contas a pagar…
Então aceitei começar um desses projetos de pesquisa, ainda que em horário alternativo de trabalho, e encarei o desafio de reiniciar o trabalho e a pesquisa mesmo tendo um bebezinho bem pequeno. Vou resumir: muito sofrimento, muita dor, leite empedrando, falta total de sono, saudade que me consumia, sobrecarga para meu marido, qualidade de vida zero e, enquanto isso tudo rolava… uma profunda mudança de valores acontecia dentro de mim. 
Cinco meses depois: chutei tudo, virei a mesa, entornei o caldo, pendurei o antigo diploma e saí correndo pelada pela rua cantando “My sweet Lord“. Não, essa última parte é mentira. Mas é que para muitos dos meus amigos, teria sido menos louco eu realmente fazer isso do que fazer o que fiz – frase real dita por alguém de quem gosto muito.
Estava findada uma etapa bonita, amada e muito importante da minha vida. E começava uma nova… Cheia de coisas a serem desbravadas, de assuntos a serem dominados, de conceitos a serem estudados. Começar do zero é foda, não vou usar o equivalente não palavresco. Mas te dá a incrível sensação de liberdade que só alguém com muita, muita coragem, sente. Eis aí algo do qual me orgulho: não ter permanecido em um caminho conhecido e aparentemente seguro, e onde eu não estava feliz, apenas por comodismo e medo de tentar o novo. 
Sem que eu percebesse ou  planejasse, eis que surgiu então, em minha vida, uma nova forma de trabalho. Algo que eu não havia planejado, nem sequer pensado sobre ou sonhado um dia: trabalhar em casa. O tal do home office. E só percebi que isso estava realmente acontecendo alguns meses depois, com o carro já em movimento. 
Hoje eu sei: foi a melhor coisa que poderia ter acontecido comigo depois do nascimento da minha filha. Fazer o que amo fazer, no conforto da minha casa, sem precisar perder tempo com deslocamento e, melhor de tudo, tendo minha filha e meu companheiro ao lado… não, eu realmente não esperava por algo que fosse tão afim ao meu relógio biológico prioritariamente noturno, ao meu gosto, ao que valorizo. Profissionalmente, hoje posso dizer que estou feliz e satisfeita e que, ao contrário do que um dia achei, o doutorado não é apenas uma fase a ser transposta na vida. Ele é uma fase profissional muito boa e importante, por si só. 
Em meu primeiro doutorado, esse foi um erro: achar que aquela era apenas a ponte para outra fase. Hoje não acho mais. Hoje vivo o doutorado e a área em que pesquiso como uma real vocação e um fim em si mesmo. Não o estou usando para galgar uma posição futura. Faço-o pela imensa satisfação de estudar esse tema e contribuir para a mudança da realidade. 
Vivo hoje uma vida que é o oposto do que eu sempre imaginei que viveria, do que sempre almejei e do que pensei que fosse acontecer. Eu realmente achava que encararia uma rotina de 8 horas diárias no ambiente da academia e via isso como a única forma de fazer ciência e de pesquisar. Pois hoje sei que não, que há inúmeras possibilidades. E, paradoxalmente ao que eu imaginava, hoje produzo dezenas de vezes mais do que produzia quando estar nos laboratórios e na universidade era regra inviolável. E sou grata a todas as ferramentas de que dispomos hoje e que tornaram tudo isso possível.
Trabalho em quatro frentes diferentes (doutorado, empreendedorismo materno com o Bazar Coisas de Mãe, escrevendo para editoras e no blog – hoje o blog também representa um trabalho importante, em função do fluxo que acabou, sem que eu também esperasse, movimentando). De todas essas frentes, o doutorado é, para mim, a mais significativa, embora eu ame todas. E o que é maravilhoso: toco todas a partir de casa. Vou para a universidade quando realmente necessário e, por esse motivo, aproveito integralmente meu tempo quando estou lá, ao contrário do que acontecia antes, quando a obrigatoriedade de estar ali me desmotivava e me fazia perder tempo. Em casa, trabalho prioritariamente nas madrugadas, dividindo meu tempo entre todas as tarefas, mas priorizando o doutorado, que é a menina dos meus olhos.
Muita gente me pergunta como foi que tudo aconteceu e como adaptei minha vida a isso, mas infelizmente não tenho uma receita a dar. Tudo foi acontecendo. Hoje tenho uma base de trabalho funcional, completa, e uma rotina estabelecida que procuro seguir. Se é tranquilo? Nada. Nem um pouco. É aquela coisa de fazer tudo ao mesmo tempo agora, principalmente porque tem filho participando de tudo isso e com filho é tudo muito imprevisível. Mas vale a pena cada segundo. Escrevi sobre o que é trabalhar em casa lá no Minha Mãe Que Disse, caso você queira ler, está aqui (“Vem pra casa você também: quando a casa, o escritório e os filhos estão todos no mesmo lugar“).
Para finalizar: hoje me interesso, inclusive, por estudar essa coisa de home office. Vivo lendo a respeito ou conversando sobre isso com meus amigos. Eu e a Bianca, do blog Parto no Brasil, que também trabalha em casa, inclusive queremos reunir as mulheres em torno da discussão desse tema, em tom de compartilhamento de experiências e inspiração a outras pessoas, quem sabe entre esse mês e o mês que vem, avisaremos nos blogs.
Então hoje, encontrei uma matéria bacaninha sobre trabalhar em casa lá no Universia. Trouxe-o para cá porque o achei muito interessante. É para quem tem algumas dúvidas ou preconceitos com relação ao home office e para estimular a discussão sobre o assunto.
Por Universia, em 08/05/2013

A matéria original utilizou essa imagem. Mas, na boa?
Ela não representa em nada a minha realidade de trabalho em casa.
Seria ótimo e eu até tento. Mas não, não rola…
Isso é muito Manoel Carlos na cabeça da pessoa…
Acha que trabalhar em casa pode ser mais produtivo? Confira alguns mitos e verdades sobre o famoso home office e a melhor maneira para lidar com essa situação

Um levantamento divulgado pela Car Insurance, organização norte-americana de seguradoras, avalia que a qualidade de vida de funcionários que trabalham de casa é normalmente maior. O estudo apontou muitos benefícios para a saúde dos trabalhadores e para o meio ambiente. Mesmo com esta constatação, muitos empregadores continuam acreditando em certos mitos sobre o famoso home office.

Se você deseja flexibilizar os seus horários de trabalho e ter mais qualidade de vida, confira alguns mitos sobre trabalhar em casa:
Mitos sobre trabalhar em casa: 1. Profissionais perdem muito tempo com internet, mensagens de texto e redes sociais
O fato de passar horas na internet ou nas redes sociais não significa falta de produtividade. De acordo com a pesquisa da Universidade Nacional de Singapura, os profissionais que navegam na internet durante o horário de trabalho têm um melhor desempenho e são mais produtivos. Ao contrário do que muitos chefes acreditam as pessoas também gastam tempo com essas coisas no escritório.

Mitos sobre trabalhar em casa: 2. Os funcionários podem ser desonestos fora do escritório 
Os profissionais podem ser desonestos em qualquer lugar. Você pode prender uma pessoa dentro de um escritório durante todo o expediente e, mesmo assim, ela pode não cumprir as suas funções. Lembre-se: não é o ambiente que faz a pessoa serem desonestas, mas as suas atitudes.

Mitos sobre trabalhar em casa: 3. Empregados que trabalham em casa são mais difíceis de serem encontrados 
Com as novas opções de tecnologia no mercado, isso não é verdade. Você pode muito bem trabalhar em casa e conversar com o seu chefe via smartphones, tablets e laptops. Assim como no escritório, os funcionários ficam disponíveis em todos os momentos.

Mitos sobre trabalhar em casa: 4. Os funcionários não conseguem se comunicar com outras pessoas na empresa 
Mais uma vez, as tecnologias de comunicação estão disponíveis para essa finalidade. Para manter todos os funcionários conectados, você pode usar um telefone, mídias sociais, Skype, Google Hangouts ou qualquer tecnologia para reunião virtual.

Mitos sobre trabalhar em casa: 5. Os funcionários não podem participar de brainstorms 
Esqueça esse conceito de que as melhores decisões ou ideias vêm da cafeteria. Um brainstorming pode acontecer em qualquer lugar. Na verdade, os melhores ambientes para ser realizar esse tipo de reunião são fora do ambiente de trabalho.

Mitos sobre trabalhar em casa: 6. Os profissionais trabalham menos horas 
Os funcionários que trabalham em casa não têm o seu tempo controlado, na realidade, eles acabam trabalhando mais horas que os outros.

Mitos sobre trabalhar em casa: 7. Trabalhar em casa é como um período de férias 
Trabalhar em casa não é um período de férias. E muitas vezes, isso pode ser até mais estressante. Trabalhar em casa tem os seus benefícios, mas você também encontra muitas distrações que não estão presentes no seu ambiente de trabalho. E isso pode atrapalhar muito o seu rendimento.

Postei isso hoje ao final das atividades a que me propus no dia, depois de organizar minha mesa para o dia seguinte, ouvindo My Sweet Lord, tomando um chazinho e calçando pantufas de botinha que comprei pra trabalhar no inverno. Coisas do home sweet office
Não… Não troco.

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