Comecei a série “Sono” falando sobre o Sono da Mãe. E hoje é a vez do sono da filha.
Meu filhotinho Clara, embora com apenas 6 meses e meio de vida extra-barriga, já apresentou diversos padrões de sono.
Logo que nasceu, dormia a maior parte do dia – muito mais nos dias nublados, padrão que se mantém até hoje.
Acho que por cerca de 2 semanas, lá bem no início, ela trocou o dia pela noite, para desespero geral da nação rubro-alvi-negra da família. Mas isso também foi devido às cólicas (ou ao que chamamos de cólicas mas bem podem ser outra coisa…). Ela chorava nas madrugadas e, claro, ficava acabada de sono durante o dia – ela, eu, o pai, os vizinhos, o bairro. Foram épocas loucas, de adaptação generalizada à nova vida familiar. Mas passou bem rápido, hoje a gente vê – porque na época parecia que chegaria 2012 mas não passariam aqueles dias…
Depois ela adquiriu um padrão bem regular – e bacana – de sono. Acordava por volta das 8:30, tirava seu “soninho da beleza” (nome gentilmente cunhado pelo papai) às 10:00; por volta da uma da tarde dormia de novo, depois lá pelas cinco tirava o último cochilo do dia (é, vida agitada dela né?), e por volta das 8 da noite dormia de vez.
De vez… De vez que eu digo é: dormia o sono noturno, porque sempre acordou de 3 a 4 vezes por noite pra mamar. Mas bem tranquilo isso: dá uma resmungadinha, mama e dorme de novo. Como sou uma pessoa notívaga, acaba que acordo, em média, somente duas vezes durante o meu sono, já que as duas outras acordadinhas mamatórias dela me pegam ainda acordada – tá pensando que eu sou besta… Uma vez falei sobre isso: mãe na madruga fugindo do sono picado. 
Clara tem um sono de pluma. Acorda ao menor suspiro, de forma que, depois que ela se vai, cuidamos ao máximo do barulho da casa – e queremos torturar cruelmente os vizinhos sem  noção que acham que todo mundo quer ouvir a conversa deles no telefone, ou que se sentem super felizes em passar aspirador de pó no apê às 10, 11 da noite.
Ela sempre foi acostumada a ser ninada no colo, de pé, e não acha a menor graça em ser ninada deitada nos braços. Batia o sono, a pegávamos no colo e ficávamos ninando. Rápido ela dormia, era o tempo de cantar três vezes (no máximo) a música Metamorfose das Borboletas e ela já estava roncando, com o corpinho todo mole no colinho. Era colocar deitadinha e catapuft, lá tava o corpo estendido…
Há cerca de 1 mês e meio, ou um pouco menos, o padrão de sono dela se alterou totalmente. Acredito que em função do nascimento dos primeiros dentinhos. Ela está com dois dentes lindos – e afiados, os bichinhos, quase arrancaram a pontinha do dedo dessa mãe inocente que achou que eles eram de brincadeirinha… Não teve nenhum tipo de alteração de comportamento, febre, irritação ou algo do tipo, apenas alteração do padrão de sono. Não queria mais saber de ser ninada no colo, preferia ser ninada já deitada na cama, comigo ou o papai deitado ao lado também. Virava pra gente, mãozinha no nosso rosto, perninha em cima da gente, e se ia…
Aí começou a acordar um monte de vezes a noite. E quem disse que queria dormir depois da mamada noturna? Nada, achava que era a hora do papinho. Foram dias loucos, principalmente porque eu tinha que acordar bem cedo no dia seguinte. Chorava ao ser colocada no bercinho que montamos ao lado da nossa cama, já que preferimos que ela continue dormindo no mesmo quarto que nós, mas se acalmava quando dormia agarradinha com a gente. Foi na época do despontar dos primeiros dentinhos, também, que ela apresentou uma outra novidade: chupar o dedinho polegar. Começou colocando os três dedos na boca, pra coçar a gengiva, e acabou ficando o polegar na boca, enquanto os demais dedos seguram o nariz. Bem clichêzão.
Ao ser perguntada sobre esse hábito, a nova pediatra (aquela homeopata bacana sobre a qual já falei aqui) esclareceu: sem paranoia. Bebês que mamam no peito prolongadamente acabam largando o dedo. E como eu pretendo mesmo que ela mame muito, tô tranquila. Fiquei meio preocupada no começo, pedi orientação para as amigas, que me tranquilizaram e me fizeram relaxar. Agora, toda hora que ela fica com sono, tá lá o dedinho na boca.
Ao perceber que a noite de sono dela melhorava muito quando dormia agarrada na gente, começamos a deixar com mais frequência que ela dormisse ali. E não é que a gente começou a gostar muito disso, dela dormir com a gente? A famosa “cama compartilhada”, que a gente temia, ou com medo de esmaga-la dormindo, ou porque ficávamos muito espremidos, é realmente incrível e proporciona momentos de muito amor em família. No fim de semana que passou, ficamos juntos os três um tempão, rindo das palhaçadinhas que ela agora resolveu fazer: tá batendo palminha, tá girando a mão pra dar tchauzinho, tá dando cada gargalhada… Em outro momento falarei exclusivamente sobre a cama compartilhada – mesmo porque, ainda estou me aprofundando aos poucos no assunto, e o papo hoje é sono mesmo.
Do ponto de vista neurobiológico, é totalmente explicável – e esperada – essa mudança constante que os bebês experimentam em seu padrão de sono. Afinal, é o cérebro em desenvolvimento que permite essa enxurrada de novidades que os bebês apresentam de tempos em tempos. Essa semana, inclusive, teve uma noite atípica: Clara mamou depois do banhinho e, quando estava prestes a capotar de sono, começou num chororô, que se repetiu diversas vezes a noite, sem nenhum motivo aparente. E eis que no dia seguinte ela aparece cheia de novidades. Era esse cérebro doido, se reorganizando, fazendo novas conexões.
Clara é daquelas bebês que, na madrugada, mamam dormindo e capotam em sequência, não precisam que os pais fiquem acalentando para dormir novamente. São bebês chamados de autotranquilizadores (diferentemente dos sinalizadores, que precisam que os pais o acalentem novamente para que voltem a dormir). Segundo o cara que descreveu e cunhou esses termos, os bebês autotranquilizadores são EXATAMENTE OS MESMOS que apresentam maior propensão a usar a sucção dos dedos para adormecer! Olha que coisa mais incrível isso: exatamente o que acontece com a Clara. Segundo outros autores, a criança começa a chupar o dedinho por uma série de fatores (muitos de base psicológica); quando ela suga o dedo apenas quando está com sono, está sinalizando que aprendeu uma forma de se autogerir; para essas crianças, continua desaconselhado o uso de chupetas, uma vez que a tendência é abandonar a sucção dos dedos assim que ela encontrar uma outra forma de adormecer – que normalmente vem com o amadurecimento cerebral.
Como muitos bebês, ela começou a velha e boa “luta contra o sono”. Mas
até a luta da Clara é pacífica: ela não fica chorando; ela balbucia o tempo todo, conversa alto, emite sons que algumas pessoas chamam de “mantra do sono”, que os bebês começam a oralizar antes de dormir, até que o sono chegue. Mas por que todo bebê luta contra o sono?
Coloque-se no lugar dele: estar acordado significa estar em contato com a família, principalmente a mãe, que é quem o alimenta na maioria das vezes. E a mãe (ou o pai, ou o cuidador frequente) é o porto seguro do bebê, é quem a aninha e a faz adormecer. Dormir significa romper – mesmo que momentaneamente – aquela ligação, e o bebê ainda não entendeu que é momentaneamente. Então, embora o pequeno esteja com sono, ele não quer dormir, ele quer ficar ali. E aí começa a luta…
Na dependência da personalidade, os comportamentos variam: vai desde a luta brava mesmo, beirando a guerra mundial, até a reclamação ou manifestação de repúdio pela presença do sono – caso da Clara. Ele emite uns sons onde deixa claro que tá acabada, mas não gostaria de sair de cena, meio que um “ô saco, esse sono chato que toda hora vem e eu que quero continuar aqui com eles… mas eu tô com sono, mas quero ficar, tô com sono, queria ficar mais um bocadinho. Tá, vou!” e vai…
Sobre esse assunto, recomendo a leitura de um artigo muito bacana, completo e aprofundado, intitulado “Moduladores dos hábitos de sono na infância”, de autoria de Lorena Teresinha Consalter Geib, da Universidade de Passo Fundo.
Vai lá e se aprofunda!
Se seu bebê estiver dormindo, claro…

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