Depois que a Clara nasceu, comecei a perceber em mim habilidades que antes eu nem imaginava que poderia ter. Na verdade, essa percepção começou ainda na gestação, quando comecei a fazer coisas que não sabia que conseguiria fazer. Mas está mais evidente ainda agora, que sou mãe pra valer.
Fiquei pensando se essas novas habilidades não poderiam ser fruto das inúmeras tarefas que uma nova-mãe passa a realizar. Mas aí caí naquela história: desenvolvi novas habilidades porque faço muita coisa ou faço muita coisa porque desenvolvi novas habilidades? Acho que os dois. Afinal, esse nosso corpo é um sistema dinâmico, não funciona apenas unidirecionalmente.
Hoje consigo fazer coisas que antes não conseguia – como escrever (mesmo que um garrancho) com a mão esquerda quando a Clara tá no colo ou embalá-la enquanto separo a roupinha pro banho, por exemplo. Do jeito que eu sou meio estabanada, se eu tentasse fazer algo assim antes, com certeza alguma das duas coisas iria parar no chão. Ui, credo! Já pensou? Ainda bem que teve atualização do sistema. E tem aquela história que inúmeras mães contam, de estar fazendo trocentas coisas ao mesmo tempo em que se balança o carrinho. Bom, isso pra nossa geração já pode ser resolvido com o uso do sling, mas já aconteceu por aqui também…
Mas essas novas habilidades não se restringem apenas à esfera motora. Pelo contrário. Acredito que as maiores novas habilidades estão é na parte psicológica mesmo. A capacidade de amar parece que dobrou; o senso de responsabilidade fez um upgrade inédito; a noção de horário parece mais clara; o afeto está ultradesenvolvido; a empatia e a compaixão parece que melhoraram também; e a gente se sente muito mais motivada a fazer coisas boas. Isso sem falar na audição supersônica e na intuição poderosa. Ontem mesmo eu disse: “deixa eu fazer isso logo que tô sentindo que ela vai dar uma acordadinha”, embora já fosse a hora em que ela chapa de sono… Dito e feito: lá pelas onze da noite, Clara cumpriu a profecia da mamãe.
Aí eu ficava pensando, como uma boa interessada por neurociência: tenho certeza de que meu cérebro está se remodelando. Pena que o cérebro não faz barulhinho de processamento, como o estômago. Senão eu jurava que poderia ouvi-lo se reestruturando. Mas se eu, uma pobre maria-ninguém, falo uma coisa dessas, que o cérebro aumenta sua atividade ou, pelo menos, a remodela, todo mundo me perguntaria: e quem disse isso? E, nesse caso, dizer Sena (2010) não valeria muito, já que não sou especialista nisso…
E eis que hoje saiu uma matéria no jornal dizendo que pesquisadores do National Institute of Mental Health, nos EUA, mapearam os cérebros de mulheres que deram a luz e perceberam que, SIM, o cérebro cresce. E, olha que legal: cresce exatamente em áreas relacionadas àquelas mudanças que a gente observa: áreas relacionadas com a motivação, a recompensa, as emoções, o raciocínio e o julgamento.
Eu me lembro, quando era adolescente, de ouvir muito dizer que, depois de adulto, não nascia mais neurônio novo. Lembra disso? O próprio “avô” da neuroanatomia, Santiago Ramon y Cajal, já dizia isso, que não havia mobilidade ou regeneração nervosa cerebral. E eu, particularmente, do alto da minha ignorância, acredito que uma das maiores descobertas científicas dos últimos tempos tenha sido a comprovação da neurogênese cerebral.
Aí, ao ler essa notícia no jornal, fiquei com duas dúvidas – como uma boa pesquisadora… Primeiro: o cérebro se desenvolve mais porque outras funções nos são requeridas na experiência materna ou a experiência materna é promovida pelo maior desenvolvimento cerebral? Novamente, eu acredito que sejam as duas coisas, embora não possa dizer com certeza. Mas é isso que eu sinto, pelo menos, que uma coisa leva à outra, ciclicamente.
Se eu tivesse um tempo agora, faria uma revisão bibliográfica sobre os estudos que existem na literatura científica sobre isso, pra ver que tipo de mapeamento cerebral já foi feito em mães.
Será que os diferentes envolvimentos maternais (já que cada mãe se comporta de maneira diferente em sua experiência de maternidade) está relacionado também a constituições cerebrais diferentes?
Olha, eu realmente não sei. Embora ache que sim…
Só sei que, no meu caso, a área cerebral relacionada ao amor, à entrega, ao afeto, à dedicação e ao zelo intenso deve estar imensa!!!
Tá liberado: pode me chamar de cabeção!
Com muito orgulho!

Você pode ler essa matéria que mencionei clicando aqui. Fica relax que não é link pro artigo científico em inglês não, é pra matéria do jornal mesmo…

A imagem lá de cima é de autoria da artista plástica Rosana Pascale e está disponível no blog dela.

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