Todo ano tem Natal, todo ano os comerciais televisivos são iguais, todo ano tem luzinhas nas casas, promoções nas lojas, panetone nos supermercados, frutas secas, castanhas e assados.
Todo natal tem papai noel, tem enfeites nas portas e gente pensando no que vai fazer nessas datas festivas de fim de ano.
Todo ano tem comércio funcionando até dez da noite ou meia-noite, tem sorteio de carro nos shoppings, tem aumento da gasolina nos postos, tem programa do Roberto Carlos. 
O natal acaba, passa um ano inteirinho, com coisas totalmente diferentes, e aí chega o natal de novo. Com seus comerciais, seus sorteios de carro, suas luzinhas, amigos secretos, e, claro, seus muitos papais noéis.
Seus papais noéis com suas sacolas abarrotadas de presentes comprados à vista ou em 12 vezes sem juros, com a primeira só pra depois do carnaval; presentes baratinhos ou caros, presentes luxuosos ou simples, mas cheio de presentes.
É, eu sei que está parecendo que vai começar uma daquelas conversas metendo o pau no capitalismo natalino e na distorção dos valores dessa data em prol da comercialização de tudo o que é vendável. Mas não. Hoje não – a despeito da minha opinião…

Hoje nós fomos passear aqui na cidade da minha mãe, que é uma cidadezinha do interior paulista. Nem pequena, nem grande, mas uma cidade de interior. Clara encontrou novamente um papai noel e, novamente, foi receptiva: esticou o bracinho e pegou, da mão dele, uma bala. E saímos andando… ela feliz e contente – mesmo a bala tendo sido tirada depois da mão dela pelo papai.
E aí eu fiquei pensando num e-mail que recebi essa madrugada, e que ainda não respondi porque quero responder com calma, de uma amiga dizendo como foi pra ela esse ano de 2010.
Em uma parte do e-mail, ela diz que nesse ano ainda não tinha visto nenhum presépio nas decorações de natal, só papais noéis…
E eu pensei: caramba, também não vi!!
Pronto, bastou.
Fui dormir as 4 da manhã, também pensando nisso (não fui dormir às 4 porque fiquei pensando nisso, mas contribuiu muito). Tomei banho na madrugada pensando nisso, na história de Jesus e tal.
Aí hoje, durante nosso passeio, fiquei alguns momentos sozinha com a Clara e fui olhar as decorações em busca do presépio perdido.
Nada.
Procurei, procurei, nada.
Entrava na loja, a vendedora perguntava “posso ajudar?” e eu procurando o presépio.
Em uma delas até perguntei: “Vocês têm algum presépio na decoração? Quero mostrar para minha filha”. Mas nada… Só papais noéis com aquelas roupas totalmente sem sentido nesse calor paulista e seus sacos cheios.
Até que, finalmente, achei um presépio em uma loja, bem exposto na vitrine como decoração.
Parei, mostrei pra Clara e contei pra ela uma história:

“Olha filha, um presépio. Aquele ali é o papai, aquela é a mamãe e aquele é o nenê que nasceu. Ele nasceu nesse lugar cheio de bichinhos, porque a mãe dele teve que fugir. Ela fugiu porque tinha um cara mau que queria matar todos os bebês. Então ela foi embora e, ao invés dele nascer na casa deles, como os bebezinhos nasciam naquela época, ele nasceu ali no meio da palha e dos bichinhos. Mesmo a mamãe dele não querendo que ele nascesse num lugar como aquele, ele precisou nascer lá. Foi preciso. Mas não teve problema nenhum isso dele nascer onde ela não queria. Porque, mesmo assim, esse nenê cresceu, aprendeu um monte de coisa, se tornou um cara muito bacana, muito amoroso, ajudava as pessoas e foi um adulto muito, muito decente. Ele foi o cara mais decente que já pintou por essas bandas, há muitos anos atrás. E é por causa dele, só dele, que hoje a gente tem um monte de papai noel andando pelas ruas. Filha, esse era um bebê que também nasceria em casa, mas não pôde. A mamãe dele precisou ir embora para que ele nascesse em outro lugar. Ainda bem, né?”

Quando terminei de contar a história, olhei pra Clara sentada de frente no sling e lá estava ela com seu tradicional bico. Que ela só faz quando está prestando muita atenção em alguma coisa. Arrisco até a dizer que, de alguma forma, ela entendeu toda a história… e o porquê da mamãe tê-la contado.
Então, como diz a musiquinha, é natal.
Data em que se comemora o nascimento de Jesus.
O natal desse ano será o meu primeiro como mãe mesmo, porque o natal de 2009 não foi nada legal pra mim.
Eu  estava muito apreensiva, triste, com medo, de repouso, porque havia tido um descolamento de placenta e minha gravidez estava em grande risco.
Mas nesse natal taí a minha Clara, linda, forte, saudável, tranquila, pacífica.
E, embora o natal seja a comemoração do nascimento de Jesus, nesse natal eu vou comemorar outra coisa.
Vou comemorar o nascimento da família, vou comemorar a existência de bravas mães, que mudam seus planos para que seus filhos nasçam bem e saudáveis; mães que largam tudo e vão simbora para que seu filho nasça e não corra perigo; mães que vivem adversidades momentâneas mas que, mesmo assim, criam e cuidam de seus filhos com amor e integridade. Vou comemorar também a existência de pais porretas.
Porque, vâmo combiná? José foi um pai porreta!
Pensa?! Primeiro, aceitar a ideia doida da mulher de fugir grávida. Depois, fugir com uma mulher grávida de 9 meses e ajudá-la, sozinho, no trabalho de parto.
E isso tudo, minha gente, sabendo que o filho era do Espírito Santo, por favooooor!
Pai porreta esse hómi e não se fala mais nisso. Beijo pro José!

Então, nesse natal, com minha filha nos braços, ou melhor, um pouco nos meus braços, um pouco nos braços do pai porreta dela, de quem ela herdou o biquinho, quero desejar um feliz natal a todos, mas, principalmente, às mães incríveis que eu conheci esse ano e que mudaram todos os seus planos pela segurança de seus filhos.
Eu queria dar nomes aqui, mas para não expô-las, não darei. Mas sei que cada uma vai saber que é dela que estou falando – também.
Feliz natal a todas as mães porretas que topam mudar seus planos, que topam parir fora de casa pela segurança da cria, que aprenderam com a primavera a se deixar cortar e a voltar sempre inteiras (como já disse a Cecília Meireles), que passam adversidades de cabeça erguida e firme,e que zelam pelos seus filhos, mesmo que eles não cheguem nem perto da santidade.
Amanhã, à meia-noite, meu brinde emocionado vai pra vocês! Mães corajosas, mães conscientes, mulheres que vivem dois, três, quatro tipos de parto em um!
Feliz natal amigas!
Sei que para muitas de nós, esse natal não terá nada de igual aos outros. Embora lá fora tudo pareça igual…
Quem sabe chegue o dia em que, além dos infinitos papais noéis espalhados pelas ruas, carregando sacos cheios de presentes comprados, encontremos também muitas “Marias” na rua, celebrando o natal e carregando, apenas, seu filho nos braços.

Embora esse post seja uma homenagem de natal a todas as mães, eu o dedico à minha irmã Lenita, mãe do Murilo, mãe porreta do caramba.

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