Faz 1 semana que não escrevo. E tem motivo pra isso. Andei passando por uns momentos muito difíceis. Hoje acordei um pouco melhor e aproveitei pra escrever…

Na quinta-feira passada, dia 03 de dezembro, eu tinha um ultrassom marcado pra ver de quanto tempo estava o baby e pra ver se já dava pra ouvir o coraçãozinho… Só que de quarta pra quinta-feira, no meio da madrugada, acordei pra fazer um xixizinho básico e vi que estava sangrando. Pouca coisa, mas estava.

Que pânico. Acordei o namorado e corremos pra clínica. Choradeira… Achei que estava perdendo o bebê. O namorado se fazendo bem de forte (porque só depois ele disse que estava se fazendo, porque na verdade estava morrendo de cagaço). Nesse momento eu comecei a perceber que já era mãe mesmo. Porque o desespero que eu senti ao perceber que podia perder o bebê ali, que já podia inclusive tê-lo perdido, só pode ser coisa de mãe… A sensação de "o que eu faço pra ele ficar?" tomou uma proporção que eu nunca imaginei. Eu fiz a oração mais sentida que já fiz na vida – imagina, eu, fazendo oração… -, pedindo pra todo mundo do lado de lá me ajudar pra segurar o filhote, porque eu sentia medo sim, porque eu estava muito apavorada com a nova situação sim, que eu estava mesmo cheia de dúvidas, mas que queria mesmo ser mãe.

 

Chegamos à clínica e a médica me examinou. Disse que o útero estava bem fechadinho e que era só uma ameaça, que eu não estava abortando. Mas que era importante começar a tomar um tal dum remedinho lá até a 14a. semana e fazer um ultrassom no mesmo dia, pra ver se já não tinha acontecido nada… O ultrassom estava marcado pras 10 horas da manhã. E foi um inferno daquela hora da madrugada até as 10 horas da manhã.
(deve ser assim que as mães se sentem quando o diabo do moleque – ou da moleca – sai de casa, diz que vai voltar tal hora e volta só dali a 4 horas sem atender o celular ou dizer se tá vivo ou morto… ai caramba, se o tal do "aqui se faz, aqui se paga" for real, melhor já ir preparando meu estoque de diazepam dose máxima… serão longas as minhas noites…)

Mas aí as 10 horas da manhã chegaram e nós fomos pro ultrassom. Era um nervoso que não sei explicar. Entrei na salinha, a médica colocou os aparatos pra funcionar, tá lá o negócio no útero. E eu em pânico, com medo de que ela dissesse "Olha, infelizmente ele não está mais aqui…".

E eis que ela diz, com uma voz meio infantilizada (normalmente eu detesto essas vozinhas, mas naquela hora foi a coisa mais querida do mundo): "Ooooooolha que lindinho ele ali. Aquele ali é o seu saquinho gestacional. E aquela partezinha branca é o coraçãozinho do seu filhinho, batendo. Tá tudo bem com ele! " Não sei com o que essa sensação se assemelha… simplesmente porque não tenho nenhum outro termo de comparação… Se você apertar o play do videozinho aí embaixo agora, vai perceber que em determinado momento, a setinha do cursor mostra um pedacinho branquinho. É o coração do nenê. E vai perceber que logo depois a imagem dá uma tremidinha. Sou eu chorando… Porque eu me toquei que eu já tinha mesmo um filhinho…

Ele tinha, na hora do exame, 1,5 cm de comprimento. E 5 semanas e 5 dias de existência. Hoje, então, ele tem 6 semanas.
E aí ela perguntou "Quer ouvir o coraçãozinho?"
E aí ela aumentou o som. E começou uma batuquêra! Eu lembro de olhar pro pai do baby e fazer uma cara estranha, do tipo "que mundo é esse caraaaaaa?!". Ele rindo. Com cara de bocó, hahahahaha.

1,5 cm de comprimento. E UM CORAÇÃOZÃO DOS BÃO! 99 BATIMENTOS POR MINUTO, A MINHA CRIATURA! Puxou pra mãe essa criança!

Depois do exame, a gente foi almoçar pra comemorar que o bebê ainda estava ali, grudado com as unhas no meu útero. Comemorar que ele ou ela é teimoso e tem vocação pra alpinista, grudadinho na parede do útero, sem se soltar. E o pai dele fez um desenhinho, num guardanapo, de um grão de arroz (porque ele tinha, no dia, o tamanho de um grão de arroz), com uma chupeta, dizendo: "Ó EU MÃE! NÃO SACODE!". E batemos uma foto em que eu seguro um cartazinho escrito: "SEGURA FIRME, ANTONIO! SEGURA FIRME, LIVINHA". Não consegui escanear o desenho ainda, nem a foto, porque no meio dessa zona toda de mudança, não sei onde está o cd de instalação do scanner. Mas vou colocar aqui sim, porque foi um momento muito especial… (CONSEGUI ESCANEAR O DESENHINHO E AGORA ELE TÁ LÁ EM CIMA!!)

 

Bem, aí ficou tudo melhor…
O sangramento continuou bem levinho mais uns dois dias, mas depois passou… E soube que foi minha culpa também. Porque eu peguei umas caixas na mudança – porque não me aguento quieta -, fiz muita força e deu um descolamentozinho na placenta. Desculpa ué, tem que dar um descontinho… Eu não sei ainda ser grávida, tô aprendendo. Agora já aprendi: peso, não mais.

Comecei o pré-natal do dia seguinte. Encontrei, por auxílio da minha amiga Shê, mãe do Caetaninho, uma médica tudibão, alto astral, bem zen, adepta das coisas naturais no sentido lato do termo, e me senti bem a vontade. Porque embora eu tenha alisado os cabelos e use uns saltos bem altos, continuo a mesma bicho grilete de sempre… você pode tirar a menina do curso de Biologia, mas nunca tirará o curso de Biologia de dentro da menina. E tá, vou confessar, para desespero dos que não conhecem isso ainda: se tudo der certo durante a gestação, se o bebê ficar bem e se a mãe dele ficar bem também, quero ter o bebê de uma forma bem natural. Parto normal e em casa. Tem um grupo muito bacana aqui em Floripa que faz parto domiciliar. O Caê, da Shê, nasceu assim ano passado. E depois que fui visitá-lo em casa, umas 2 horas após o nascimento, e quando vi a cara daquele bebezinho feliz e tranquilo, deitando no quartinho da casa dele, cercado de amor e gente conhecida, e não de pessoas desconhecidas e mascaradas, comecei a pensar na hipótese. A médica já me passou o site (clique aqui pra conhecer o Parto Domiciliar) e ao longo dos meses quero estudar isso. Mas uma coisa é realmente certa: "Para mudar o mundo é preciso, antes, mudar a forma de nascer" (Michel Odent).

Mas aí os dias foram se passando. E uma mudança começou a acontecer comigo. Bateu uma tristeza, bateu um desânimo, uma depressãozinha… umas coisas estranhas foram acontecendo, pouca vontade de sair da cama, choro intenso, pânico da nova condição, muita coisa misturada. Hormônios, diziam uns. Psicológico, diziam outros. Muita mudança, diziam mais alguns. MEDO, eu digo. De todos os tipos. Vou ter condições financeiras de cuidar do meu nenê? Vou conseguir ser uma boa mãe? Ele vai nascer perfeito? Meu novo relacionamento vai dar certo? Vou conseguir um emprego, mesmo estando grávida? Minha família será bacana ou será uma família em frangalhos?

Mas eu faço terapia.
E defendo a terapia com unhas e dentes.
E acho que o governo federal deveria pagar psicoterapia para todos os contribuintes.
Algo como o SUSM (Sistema Único de Saúde Mental).
Porque saúde mental é tão ou mais importante que saúde física.
E ontem fui conversar com a minha terapeuta. Que é uma pessoa muito especial.
E voltei um pouco mais calma.
E hoje acordei mais otimista.
Mais tranquila.
O fato de não ter a minha mãe pra me orientar nesse momento, confesso, tem me deixado apavorada. Também não tenho uma sogra pra me dar dicas. Ou seja, embora cercada de amigas que tentam me ajudar, me falta aquela figura feminina mais velha e experiente pra me dar as velhas e boas dicas, do tipo: "faz tal coisa pra passar a tontura", ou "vamos comprar tal coisinha porque isso é importante"… Mas, em contrapartida, tenho o apoio e o carinho do pai do grão de arroz, que é uma pessoa muito legal (e de quem tenho judiado um pouco, com esses rompantes depressivos – desculpa!).
Eu, espírita que sou, também vou voltar aos estudos, pra tentar entender melhor esse evento misterioso de ser mãe. Ontem comprei um livrinho que estou adorando… E está me ajudando.

Bom, é isso.
No mais, não consigo sentir cheiro de alguns perfumes (o sabonete líquido de gengibre do nosso banheiro está proibido por tempo indeterminado, bem como outros aromas), tenho tonturas homéricas (por causa de uma baixa pressão que me acompanha nesse início de gravidez), mas não sinto enjôos nem dores nos seios (que não mudaram nada ainda… que coisa, e eu louca pra me ver turbinada!).

Tenho passado grande parte do tempo no quarto, sentada na cama e rodeada por teses, já que estou corrigindo a versão definitiva da minha tese de doutorado. E de vez em quando olho pra sacada e vejo uma montanha verde, linda. E sinto que está tudo bem. Que vou ser uma boa mãe e que meu filho vai ser um carinha (ou uma carinha) criado no meio de coisas naturais e bonitas.

E vâmo que vâmo… Comer bastante esfiha de carne e tomar bastante suco de laranja, que não sei porquê, mas viraram minhas obsessões.

Vou encontrar com minha irmã caçula, uma das madrinhas do baby, na semana que vem (eu acho). Ou eu vou pra lá, porque minha vó e madrinha está internada, infelizmente, ou ela vem pra cá. E esse contato com minha família sei que será o melhor tranquilizante que eu preciso nessa hora…

Enquanto isso: segura firme aí, meu grão de arroz! Se agarra aí! Deixa pra se jogar quando for mais velhinho e a gente for fazer rapel juntos…

PS: Hoje a noite tem a final do LA GONGA. Aquele festivalzinho de insanos, em que todo mundo canta qualquer coisa e faz umas performances mutcholocas. Eu, Chico, Van e Lili – o NABBA – vamos cantar Super Trouper do ABBA. Perucas e maquiagens artísticas e tudo. Temos ensaiado todos os últimos dias… Meu grão de arroz, que já deve andar aqui por perto, deve estar vendo tudo e pensando: "Meu Pai do céu, onde foi que eu descolei essa mãe?!". Calma filho. Vai dar tudo certo. Você vai se divertir um monte nessa vida!

(escrito em 09 de dezembro de 2009)
 

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