Esse negócio de ficar com a perna engessada pode ser muito interessante, por diferentes motivos. Um deles, que uma amiga percebeu, inclusive, é por representar um motivo para início de conversa. “Nossa, o que você fez na perna? À propósito, como é seu nome? Posso me sentar?”.
Mas um outro ponto interessante nessa jornada em busca do joelho perdido tem sido ficar sentada observando enquanto os seres bípedes dançam, conversam, traçam estratégias, tem surtos, etc. Observando e ouvindo. Ficar parada no mesmo lugar aguça alguns sentidos, como a visão e a audição, por exemplo. Os amigos vão dançar e você fica ali, parada. Coisa que, pelo menos pra uma pessoa como eu, é quase um milagre.
Ontem, por exemplo, ouvi um diálogo no mínimo curioso.
Duas moças conversavam a respeito de um relacionamento amoroso. A ruiva dizia que gostava demais do fulano, demais, demais (ela levava as mãos ao rosto quando dizia isso, e jogava a cabeça pra trás – demais, demais!). Dizia que sentia muito a falta dele e que sabia que ele gostava dela tanto quanto. Ao que a moça morena respondeu: “Não entendo porque tu não liga… mas que bloqueio é esse de ligar pra pessoa”. E a ruiva: “Não ligo porque gosto demais”.
Que coisa mais louca é essa?
Como alguém que gosta de outro alguém pode se cercear dessa maneira?
Como pode se privar de falar com quem gosta com a justificativa de que gosta demais?
Que mecanismo psicobiológico de auto-proteção é esse que, ao invés de proteger, te pune?
Porque é uma punição isso… “Gosto demais, portanto me privo de estar com ele, me privo de falar com ele”.
Em que ponto do próprio desenvolvimento esse pessoal inverteu tanto assim a história?
Não seria o contrário: “Gosto muito, ligo mesmo”?
Por isso que às vezes eu pareço diferente…
Eu ligo quando quero.
Beijo quando quero.
Abraço – muito! adoro abraço – quando quero.
Escrevo quando quero.
Apareço quando quero.
E não deixo de ter medo por isso. Mas faço a despeito do medo…
É certo que isso aumenta automaticamente as chances de me magoar ou de me frustrar.
Eu realmente já me magoei bastante e me frustrei bastante…
Mas aumenta ainda mais a chance de ter um ótimo encontro, ouvir uma ótima conversa, ganhar um ótimo beijo e um caloroso abraço. Entre outras tão boas ou melhores…
E realmente já ganhei muito de tudo isso. Penso que o balanço tem sido positivo…
Não concebo essa política do “gosto – me proíbo”.
É uma forma cruel de “estar engessado”, de se prender os movimentos…
Sou da turma do “gosto, me jogo”, mesmo que depois me estabaque no chão.
Talvez isso seja ser livre.
E de gesso, de amarras, pra mim, já basta esse que ando usando…

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