De onde eu fico sentada trabalhando, dá pra ver um pedacinho da rua e, num plano mais superior, dá pra ver um barranco cheio de capim e marias-sem-vergonhas da rua de cima. Eu fico aqui na minha bancada de trabalho, no quarto, estudando, escrevendo e digitando, com um monte de prateleiras abarrotadas de livros um pouco acima de mim. Do lado direito, a porta da sacada fica aberta, de forma que eu consigo ver esse barranco, umas árvores e, no momento, as bandeirinhas da Festa do Divino. Eu estava aqui bem concentrada quando a ouvi gritando: “Mãe! Mãe! Mãe!”. Parei de escrever o projeto sobre as bases neurobiológicas do transtorno de estresse pós-traumático e fui lá na sacada ver o que era. Era a Clara. Ela estava toda suada e suja de terra. Estava lá no barranco com as crianças, tentando plantar mudinhas de um mato que eles pegaram na rua. “Que tá fazendo mãe?”. Expliquei que estava terminando o projeto e ela me pediu pra descer. Desci, peguei um copo de água e levei pra ela no quintal. Aproveitei pra dar um agarrão naquela coisinha suada-fedida-cheia-de-terra falando sem parar sobre a muda do mato que tinha plantado. Antes de sair correndo, ainda olhou pra mim e disse: ó, eu acho que o projeto vai ficar muito legal. E fala pro papai que já plantei o araçá. Ti amo mãe. E saiu correndo…

Se eu sonhei?
Sim… de uma certa forma…

Se sonho também for aquilo que a gente quer pra nossa vida e se esforça pra ter, sim. Sonhei.

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