Tem dias em que tudo que você quer e precisa é de poucas palavras e um abraço sincero.

Tem dias que as palavras atrapalham muito e o silêncio é confortador.

Tem dias em que você não quer desabafar, quer apenas chorar bastante… porque você não está abafada, você está só aguada…
Tem dias em que você atenderia, com gosto, um telefonema em que nada fosse dito pra você, sem um alô, apenas para que você pudesse sentir que tem gente ali do outro lado. Mesmo que não diga nada.
Você sabe tudo o que precisa saber: que não adianta se preocupar; que a vida se encarrega de fazer o melhor pra você – mesmo que não seja exatamente o que você gostaria que fosse; que precisa ter fé e coragem e persistir; que não adianta chorar; que precisa ter pensamentos positivos porque você atrai o que pensa; que desespero só atrapalha; você sabe tudo isso.
Mas tem dia que a única coisa que você quer é parar.
Parar tudo por alguns minutos.
E nesse não-tempo, sentir o que realmente é a sua vida e conseguir ouvir a resposta para a pergunta: "Será que as escolhas que você fez realmente foram as certas?".
E é muito provável que, antes mesmo que termine a frase, a resposta já te ocorra, como uma voz dita num rádio: sim, as suas escolhas realmente foram as mais acertadas naquele momento, pois elas te trouxeram até onde você está agora. E tudo está como deve estar…
Até isso você já sabe…
Então por que não basta?
Por que, mesmo sabendo que no fim as coisas se ajeitam, existe o medo, a insegurança, a inquietude e o cansaço? Por que as coisas não parecem, enfim, se assentarem?
Obviamente, esses questionamentos não se aplicam a todos.
Muitas pessoas – felizes pessoas – tem uma vida relativamente segura e calma e estabilizada e relativamente sólida. Ou tem algum tipo de apoio mais especial em algum lado da vida. Felizes que são e espero que saibam disso…
Mas para algumas outras, a vida parece ser uma batalha diária e constante e árdua e desafiadora, e existem poucos – ou nenhum – lugar pra voltar ou pra parar quando é necessário.
Essas pessoas não podem parar… Não porque não querem. Mas porque não existe um lugar pra parar, pra dar o famoso "tempo" que todo mundo precisa em algum momento da vida.
Talvez essas pessoas estejam melhor preparadas, física e emocionalmente, para lidar com a inconstância e a inconsistência de uma vida "densa, tensa, intensa", como diria um dos personagens da peça "Doce Deleite".
Essa seria a explicação mais simples, considerando o eufemismo que diz que "cada um vem equipado para a vida que terá". Vem com as ferramentas adequadas…
Mas isso não impede o cansaço.
Ter as ferramentas – e também ser um felizardo por tê-las – pode até te fazer um pouco mais resistente, mas não te torna infinitamente resistente. Tem uma hora que você pode quebrar, se cair…
Principalmente quando se é sensível, tem olhos de ver e, por mais neurocientista que seja, tem um coração maior que o próprio cérebro…
Tem uma hora que cansa.
Porque você pensa que, em função de todo o duro trabalho e dedicação e empenho e coragem e audácia e peitos-abertos e caras-a-bater, você precisa de um pouco de tranquilidade.
Veja bem a expressão: não foi dito "você merece" um pouco de tranquilidade; foi dito "você precisa" de um pouco de tranquilidade.
Porque não está em discussão se você merece ou não.
Se você merecer, melhor ainda.
Mas se você não merecer, mesmo assim tem horas que é preciso um pouco de tranquilidade. Por uma questão de saúde, física e mental.
E daí que você é forte?
E daí que você já passou por coisas realmente piores?
E daí que você está calejado?
E daí que você é uma pessoa com garra e se levanta?
E daí?
Nada disso te torna uma pessoa refratária ao cansaço que dá sentir, de tempos em tempos, essas intempéries.
E ele vem…

 

E tem dias em que tudo que você quer e precisa é de poucas palavras e um abraço sincero.
Dias em que as palavras atrapalham muito e o silêncio é confortador.
Dias em que você não quer desabafar, quer apenas chorar bastante… porque você não está abafada, você está só aguada…

 

Dias em que você gostaria muito de ter um lugar pra voltar.
Dias em que a única coisa que você quer é parar.
Parar tudo por alguns minutos.
Mas, ironicamente, a vida às vezes é um clichê, daqueles que não gosto…

 

E a vida não para. "Não para não, não para".
E você tem uma tese pra escrever…
… a despeito de você mesma e do que sente.

 

E você vai.
Vai fazer o que precisa ser feito.

 

Você vai, lava o rosto, respira fundo, amordaça o ser-humano e incorpora a máquina.

 

E vai.

 

 

 

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