Hoje minha filha faz 10 meses de idade e eu estou toda emocionada, toda molenga, toda sentimental. Não só porque ela está ficando grande muito rápido, mas porque… ah, porque ela está ficando grande muito rápido mesmo! 
Eu olho pra ela e vejo um bebê comprido e gordinho descobrindo a vida, crescendo física, mental e emocionalmente, experimentando as coisas e fico muito emocionada. É uma vida em flor. É muita vida!
Eu a chamo de “pintinho”, como muita gente sabe. Porque quando ela nasceu, olhei praquela coisinha linda que parecia de biscuit, com carinha de esquimó, narizinho empinado, olhinho puxado, boquinha vermelha e furinho no queixo, toda frágil, toda pequenininha, e pensei: “é um pintinho, gente”. Hoje olho e ainda vejo um pintinho… mas um pintinho que vai virar um franguinho. Logo ela vai crescer ainda mais. Ela, que nasceu outro dia, quase ontem, agora tem um número de meses com dois algarismos. É muito rápido isso. Muito rápido. E é forte a pegada: as coisas devem ser feitas da melhor maneira possível e em um tempo que parece que voa.

Hoje eu poderia ressaltar apenas as mudanças pelas quais ela passou nesse último mês a caminho de completar o décimo: já se desloca com facilidade, embora ainda não seja um “engatinhar” propriamente dito; fica em pé sozinha quando apoiada; senta sozinha; deita sozinha; quando se dispõe a pegar algo, vai e consegue, não para enquanto não conseguir; os dois dentinhos de cima que ensaiaram horrores finalmente abriram; já está comendo de tudo, do nosso prato, comida inteira – pulou mesmo a fase das papinhas e mergulhou no mundo dos alimentos; ficou autodivertida – se diverte e ri sozinha, que eu acho lindo; olha pra gente pedindo aprovação ou pedindo opinião; estranha ou reconhece pessoas; mostra uma timidezinha de vez em quando; se joga no colo de alguém quando quer ir pra lá; fica muito brava quando contrariada… mais um monte de descobertas. Mas hoje eu não quero falar só sobre isso. Quero falar sobre uma conversa que tive virtualmente com uma nova mãe e que me fez parar pra pensar em coisas que vivi desde que minha filha nasceu.

Posso dizer que, desses 10 meses, muitos deles vivi em modo de espera. Sendo absolutamente ativa na criação da minha filha, totalmente conectada, voltada para ela, fazendo o melhor que eu podia fazer, dando de mim o que eu tinha e o que não tinha naquele momento, sendo – na contagem final dos pontos e na minha avaliação – uma mãe bacana. Mas vivendo em modo de espera como mulher-profissional-ser-humano-criatura. Mergulhei na função “criadora” e deixei a função “criatura” ali parado, fermentando.
Eu não sabia o que seria de mim. Sabia que seria mãe da Clara pra sempre e isso sempre me trouxe – e sempre vai me trazer – muito conforto. Mas não sabia mais que lugar ocupar no nicho ecológico das espécies de fêmeas que viraram mães… Sim, eu penso nisso apenas porque sou questionadora e exigente por essência. Tem gente que vira mãe e toca o pau! Segue adiante sem pensar, fazendo tudo como sempre fez, sem muita mudança, e “vâmo que vâmo, entre aqui no meu trenzinho que tá indo reto pra lá, entre e se adapte você que acabou de chegar, que eu não mudo meu rumo, não”. Bom pra elas. Bom pra elas? Bom pros filhos? Enfim…
Estava insatisfeita com minha profissão, sem saber pra onde ir, sem saber o que fazer, sentindo que o caminho que até então eu havia percorrido não me levaria mais para onde eu gostaria de ir, agora que sou mãe. E não sabia o que fazer a respeito disso. Fiquei em total STAND BY.
E foi nesse último mês de vida da Clara que eu, enfim, coube novamente na minha própria roupa – metaforicamente falando… A sensação foi essa mesmo: colocar uma camiseta com gola muito apertada e, enfim, conseguir passar a cabeça pela gola, puxando pra baixo e deixando a vista livre: “ufa,enfim posso ver!”.
E  foi escrevendo essa semana sobre as mudanças que passamos depois que chega um filho, que consegui organizar um pensamento que já existia como tal, mas ainda desorganizado.

Quando estamos grávidas, temos a impressão – e fomos treinadas para assim pensar – que estamos gestando alguém. Gerando alguém. Criando alguém. Construindo alguém. Mas não é só isso não. O inverso também está acontecendo. Estamos sendo gestadas. Geradas. Criadas. Construídas. Da mesma forma que o bebê traz consigo o leite que ele precisa conforme as necessidades particulares dele, ele traz também a MÃE que ele precisa, também de acordo com as necessidades particulares dele, a mãe que ele GESTOU para que fosse a mãe dele. Mas às vezes a gente não se dá conta disso…
Pensando assim, a Clara passou 39 semanas e 3 dias me preparando, me formando como uma nova pessoa. Ela nasceu e, junto, nasceu essa nova pessoa. Que eu não fazia a menor ideia de quem era… O nascimento de um filho marca uma época de conhecimentos: a mãe está conhecendo seu filho. O filho está conhecendo sua mãe. O pai está conhecendo seu filho. O filho está conhecendo seu pai. Mas, principalmente, a mulher está conhecendo ela mesma, agora nova, agora como uma mulher-mãe. E depois que ela se conhecer, nossa, ainda terá que se apresentar ao pai do filho, que a conhecia antes, mas pode ser que não a conheça agora. Ó, vou falar: não é nada fácil isso não… Principalmente pra quem decide mergulhar na experiência e não deixá-la passar como um simples fato da vida, como uma “casualidade”. Meu caso.
E até que esse EU-MÃE pudesse ser entendido por mim mesma, me senti muito esquisita. Ainda me sinto, mas hoje sei que esse sentimento é normal. E hoje, 10 meses passados, já consigo me ver novamente no mundo, inserida, uma pessoa que não é só a mãe da Clara. Uma pessoa nova, que é TAMBÉM mãe da Clara, que foi mudada por ela e que aceitou a mudança de todo coracão. Que sofreu um bocado até encontrar seu novo lugar no mundo. Mas que agora encontrou – sim, encontrei. E estou indo firme nele. Ir firme não é ir sem medo. É ir A DESPEITO do medo. Mudar dá muito medo. Mas depois que se vive a maior mudança que uma mulher pode pensar em viver, nenhum medo é capaz de te parar.
E nesse caminho da Clara em busca de seu décimo mês de vida, sinto que, enfim, estou pronta.
Pronta para assumir a parte que me cabe nesse latifúndio no qual se tornou o meu pequeno terreninho depois que me tornei mãe.
Então hoje é a Clara quem faz 10 meses. Essa minha filha tão especial que sorri pra todo mundo, que dá tchau até para o ladrão, essa criança que, todos os dias, faz jus ao próprio nome. Ela, que cresceu tanto, que está tão comprida, tão esperta, tão conversadeira e em pé ao lado das coisas. Ela faz 10 meses hoje. Mas quem cresceu mesmo, nesse último mês, fui eu.

Então hoje eu estou assim toda emocionada, toda molenga, toda sentimental mas, pensando melhor, não é só porque ela está crescendo muito rápido não.
Mas porque eu também estou…
Espero que minha filha possa olhar pra mim hoje, e sempre a partir de então, e pensar:

“Nossa, como minha mãe cresceu nesses 10 meses. Que bom trabalho eu fiz!”

Que menina tão poderosa, essa Clara. Que revolução ela fez em mim.

Filha, parabéns pelos seus 10 meses de vida.
E parabéns pelo trabalho que tem feito criando a mamãe…
Ah, a noite, quando você estiver lutando contra o sono (agora ela anda fazendo isso…), não vou me importar tanto. Afinal, eu, do alto dos meus mais de 30 anos, ainda faço isso todo dia.
Você é a nossa querida… E por você, tenho vontade de mudar o mundo.

 Clara, com 3 dias de vida, olhando pra mim enquanto eu aprendia a ser mãe

Clara, 10 meses depois, me dando um carinho enquanto eu sigo aprendendo a ser mãe

Clara, no peito do papai com 1 dia de vida, enquanto ele aprendia a ser um novo pai

Clara, no peito do papai 10 meses depois, enquanto ele segue aprendendo a ser um novo pai

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