"Oi mãe, sou eu.
Estou aqui esperando.
E vejo você aí me esperando.
Será um pouquinho longa a espera e estamos ansiosos. Começarão duas vidas ao mesmo tempo, a sua como mãe e a minha como filho ou filha (você ainda não sabe se sou menino ou menina, mas eu já sei… É segredo, me pediram pra fazer surpresa).
Estou sentindo seu medo, e o medo que você está sentindo de que eu esteja sentindo esse medo. Eu estou sentindo sim, mãe, mas não se apavore. Aqui onde estou sou protegido, ou protegida. E consigo entender o medo que você está sentindo, porque também sinto. E assim como sinto o seu medo, também sinto o amor que você já tem por mim e a sua vontade de que dê tudo certo, e isso me dá tranquilidade. Aceito seu medo porque sei de antemão – porque aqui todo mundo me diz isso – que você não é a mulher maravilha, mesmo que tente ser uma. E vejo seu esforço para que fique tudo bem.
Imagino que pra você deve estar sendo difícil a adaptação à idéia de que estou chegando. Pra mim também está. Na verdade, eu tenho mais motivos que você pra ficar com medo. Você está aí já faz um certo tempo, pra mim é que será a grande novidade, e eu sei que o a vida na Terra é um tanto atrapalhada, quando comparada à vida onde estou. Mas combinamos isso, lembra? Combinamos de virmos juntos ou juntas. Combinamos que isso seria o melhor. Então eu estarei com você, contente, porque você estará comigo. Eu te conheço, mãe, e conheço o seu amor: sei que será capaz de tudo por mim. Já deu pra perceber o quanto estará do meu lado e o quanto vai me defender, então fico tranquilo, ou tranquila.
Vai dar tudo certo mãe.
Eu confio em você.
Eu sei quem você é. Aqui onde estou consigo ver todos os tempos. Está tudo certo como está, não se apavore.
Você sempre foi corajosa, mãe. Sempre. Será agora também.
Tenha força e acredite.
Não se preocupe com o quartinho onde vou dormir, se é grande ou pequeno, se será agradável pra mim ou não: eu precisarei só do seu amor, do seu carinho, da sua proteção, que me dê um banhinho quentinho – porque vou chegar no inverno – e me dê um leitinho.
Não se apavore, mamãe, vai dar tudo certo.
Você será uma mãe legal. É por isso que eu tô indo… Porque sei que vamos conseguir.
Não chore de medo. A gente vai se dar bem sim, respondendo sua pergunta. Vamos quebrar os ciclos, fique tranquila.
Eu sei que você gosta muito da Clarice Lispector, porque tenho te visto lendo os livros dela. Então olha, selecionei essa pra você: “O medo sempre me guiou para o que eu quero…. E porque eu quero, temo…. Muitas vezes foi o medo que me tomou pela mão e me levou. …O medo me leva ao perigo. E tudo o que eu amo é arriscado."
Não tema. Estou contigo.
Quando eu estou com medo, eu fecho os olhos e penso em você. E meu medo passa.
Então, quando tiver vontade de chorar de medo, feche os olhos e pense em mim. Tô contigo, literalmente.
Nós já somos. Você já é minha mãe faz tempo…
Juntos nós vamos crescer. Física, emocional e espiritualmente.
Daqui a pouco, a gente só vai se reapresentar…

 

Antes de dormir, vou segurar sua mão.
Segure a minha também.
Vamos juntos, ou juntas, nessa.
Beijo, mãe.
Tô contigo.”

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