Uma bióloga, educadora ambiental, cientista ambiental, mãe de um menino de 5 anos que tem um nome lindo e que sabe identificar os tipos de tubarões e descrever o ciclo da borboleta monarca.
Uma cientista que aprendeu na prática a importância da busca ativa por informações sobre gravidez e maternidade.
Uma cientista que termina um texto sobre sua vida agradecendo a Deus – para quem acha que ciência e fé são coisas excludentes.
Hoje, tenho a alegria de abrir espaço para uma história de amor pela biologia e pelo filho. A história de uma mulher que tem a seguinte frase como assinatura em seus e-mails:

“Faça seu filho saber que ele é um milagre, que desde o alvorecer da história não houve criança como ele e não haverá enquanto o mundo existir” – Pablo Casals

Danielle Romais. Uma cientista que virou mãe.
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Sou Danielle, Dani, DaniSapoo…
Mas ultimamente meu título oficial mais usado é “Mamãe”.

Sou também bióloga/educadora ambiental e cientista ambiental.
Minha paixão na vida é meu filho de 5 anos, Kiyo (que significa Puro em japonês).
Minha paixão pela ciência veio anos antes de ser mãe. No entanto, apenas depois de ser mãe entendi a real dimensão e importância de ser cientista.
Então sou mãe e cientista.
Em março de 1996 casei-me com o amor da minha vida e em julho do mesmo ano mudamos para os EUA.
A ciência ainda era algo misterioso e assustador para mim, mas um dito laboratório de ciências biológicas (disciplina de apenas 1 crédito) me fez mudar de area… Achei que queria ser médica, mas foi preciso voltarmos ao Brasil para que eu descobrisse minha real vocação. Depois de não passar no vestibular para medicina, ingressei no curso de Biologia em uma universidade particular de Curitiba.
Nasce a Cientista:
No primeiro dia de aula, enquanto o coordenador do curso falava de todas as possibilidades (e dificuldades) de um profissional da area biológica, eu finalmente me dei conta de que meu lugar não era num hospital, como médica.
Meu lugar é no campo, no laboratório, em sala de aula.
Comecei a fazer estágios com uma organização ambientalista não governamental (The Nature Conservancy) em um programa sobre Espécies Exóticas Invasoras.
Durante minha graduação, eu pude participar de congressos, liderar pequenos grupos e, inclusive, ministrar cursos sobre invasoras.
Realmente havia encontrado o meu nicho.


Gravidez e Vida Acadêmica:
No final do meu curso, durante um congresso de Mastozoologia [a Mastozoologia estuda os mamíferos] no qual estava ministrando um mini-curso de invasoras, me descobri grávida.
E agora???
Ao invés de curtir a barriga DE VERDADE, e de me preparar para o parto, a amamentação e o bebê, eu me deixei levar pela ideia de que tudo daria certo naturalmente.
Não me preparei (preço altíssimo que paguei depois).
Tinha as roupinhas prontas, mas não tinha a menor ideia do que me esperava.
Um mês antes do Kiyo nascer, defendi minha monografia. Um dia antes, conduzia a última reunião do Grupo Pets (resultado da minha monografia). E, nesse mesmo dia, após finalmente ter achado horário na agenda para visitar a maternidade, ouvi pela primeira e única vez que seria submetida a uma cesárea.
As razões que me foram dadas na época me convenceram, já que eu não tinha me informado sobre as desnecessárias.
Fui pra faca no dia seguinte.
Descobrindo a Mãe Cientista em mim:
Com o Kiyo nos braços e um monte de dúvidas e incertezas na cabeça, percebi que deveria colocar meu lado “cientista” para funcionar se quisesse amamentar meu filho.

Lutei contra uma maré de conselhos e palpites das mais diversas fontes. Descobri em mim uma força avassaladora e instintiva. Comecei a participar de listas de discussão sobre maternidade. Aprendi muito sobre parto natural, maternidade com apego, cama compartilhada e amamentação prolongada. Passei os primeiros 10 meses do Kiyo imersa nesse mundo novo que me descobriu, participando apenas de forma esporádica de encontros e reuniões relacionadas à invasão biológica. No entanto, a coceirinha científica voltou e pouco antes do Kiyo completar 1 ano, iniciei um curso de especialização em Educação Ambiental.

A criação:
Mesmo com atividades fora de casa, em momento algum pensamos em colocar o Kiyo na escolinha antes que ele próprio demonstrasse interesse. Acreditamos piamente na criação não terceirizada. Então fazíamos de tudo para que sempre pudéssemos incluí-lo em todas as atividades.
Kiyo não chupou chupeta e apesar de não ter mamado exclusivamente nos primeiros 6 meses por pura falta de informação da mamãe e do papai (a gente pagou bem caro por isso), ele mamou prolongadamente até os quase 5 anos. Uma vez que me encontrei como mãe-mamífera, abracei com unhas, dentes e peitos essa causa. Ele parou de mamar naturalmente, no tempo em que ele estava pronto.
A escola só entrou em nossa vida quando Kiyo tinha 3 anos e meio, e por conta própria pediu para ir. Hoje, aos 5 anos, ele está bem engajado na sua turminha de pré.
Novos rumos para a família de cientistas:
Mudamos para os EUA logo após defender a monografia da especialização. Kiyo tinha apenas 2 anos e meio na época. Chegamos aqui novamente no final de 2009. Tivemos que fazer vários malabarismos para que mantivessemos nossos ideiais de educação para ele.
Em agosto do ano seguinte, eu ingressava no programa de mestrado em Ciências Ambientais. Para minha sorte (ou benção) o meu orientador é pai bem presente de 3 crianças, então quando estávamos definindo nossa área de pesquisa, ele sempre procurava lugares que eram “kid-friendly”.
Fomos (família toda + vovó) a St. Croix, nas Ilhas Virgens, fazer coleta de formigas. E enquanto o Kiyo brincava com o papai e a vovó, a mamãe ficava contando formigas no hotel (entre uma mamada e outra).
Como os meninos de sua idade, Kiyo gosta de andar de bike e brincar de carrinhos. No entanto,toda essa exposição ao mundo científico fez com que o próprio Kiyo demonstrasse interesse pela área. Ele sabe identificar várias tipos de tubarão, formigas e peixes. Sabe explicar o ciclo de vida da borboleta monarca, e não tem medo algum de coletar seus próprios insetos. Ele defende a natureza, sabe a importância da reciclagem e prefere andar de bike para não fazer as nuvens ficarem bravas.
Eu? Continuo na minha busca acadêmica.
Acabo de ingressar no programa de PhD em Geociências, com enfoque em BioGeografia e invasão biológica. Continuo também na busca incessante de um mundo melhor para o Kiyo. Ele é a razão para que eu continue pesquisando, hipotisando e aprendendo.

Antes de ser mãe eu não conseguia colocar o dedo na razão pela qual optei ser cientista.
Hoje, como mãe, eu tenho certeza de que Deus escreve certo por linhas tortas e meu maior motivo para lutar por um mundo melhor tem nome e endereço.

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