Alegria é ver um texto meu no blog MAMÍFERAS!
O MAMÍFERAS é um blog ótimo sobre o mundo de quem quer viver ou vive essa coisa maravilhosamente doida que é a maternidade.
Você pode clicar aqui e dar uma espiada lá pra ler meu texto e aproveitar pra ver que bacana que é o blog!
Caso queira ler por aqui mesmo, aí embaixo segue o texto publicado lá.

Minha história de gravidez é, como todas as gestações?cheia de emoção. E ela aconteceu num momento muito singular da minha vida.
Fiz graduação em Biologia, seguida de mestrado em Psicobiologia e de um doutorado em Farmacologia, sempre visando conseguir chegar lá! Esse era meu único e grande objetivo. Enquanto isso, na sala de justiça, tive alguns namorados e fui casada durante 5 anos com uma pessoa que nutria um grande pavor de ter filhos. Eu deixava isso pra lá e seguia minha vida, estudando e me preparando. costumava me esconder na frase: Não estou preparada para ser mãe. (embora todo o aparato já estivesse aqui, só esperando para ser ativado).
Em 23 de outubro de 2009 defendi finalmente minha tese de doutorado. Na mesma semana, alguns dias antes, oficializei um namoro. Um companheiro alegre, bem humorado, de bem com a vida e já com dois filhos. Para um tratamento de pele mudei de anticoncepcional com orientação médica, não me adaptei ao novo e precisei fazer uma pausa para começar um terceiro. Uma pausa de 1 mês para quem tomava anticoncepcional há 14 anos.
Dia 22 de novembro, quase um mês depois, tive uma tontura monstruosa e pensei: “Puts, lá vem uma crise monstro de labirintite”. Fui ao médico no dia seguinte, 23 de novembro, exatamente 1 mês depois de receber o título de doutora e estar preparada para prestar os concursos pelos quais eu havia esperado tanto. Às 15 horas eu soube: não era nada de labirintite não… Eu estava grávida! E minha filha havia sido feita exatamente no dia da minha defesa de doutorado! Isso é que é diploma.
E isso é que é um grande choque, também… Uma gravidez não planejada, num momento não esperado. Desempregada, em início de namoro, sem saber o que faria dali por diante, nem se precisaria mudar de cidade, se conseguiria prestar os concursos e… mais importante: sem saber se eu contaria ou não com o apoio do namorado. Soube a resposta para essa última dúvida 20 minutos depois, quando ele apareceu em casa a meu pedido e, ao saber da bombástica notícia, abriu os braços, começou a chorar e disse: “Parabéns, meu amor! A gente vai ter nenê!”, me deixando com cara de tonta ali, parada, olhando e chorando.
Bem, desde então comecei a viver um turbilhão de mudanças. Muito mais emocionais que físicas, embora minha barrigona esteja imensa e minhas glândulas mamárias em alta produção.
Tive dois descolamentos de placenta no início da gestação, ouvi coisas aterrorizantes dos médicos com a expressão “ameaça de aborto”, precisei fazer repouso, sofri com a falta de grana, desenvolvi uma certa rejeição ao namorado – que felizmente passou, embora tenha causado um grande sofrimento a ele –, perdi minha avó e madrinha, tudo isso no primeiro trimestre da gravidez. Mas, também no primeiro trimestre, grandes alegrias vieram: minha irmã caçula engravidou também – 3 semanas a menos que eu – e minha bebê se agarrou com unhas e dentes fictícias e eu consegui segurar a gravidez.
No segundo trimestre, toda a força biológica e psíquica que está latente em todas nós e que nos move à maternidade chegou com tudo: virei um bicho doido que fazia trocentas coisas ao mesmo tempo, estudava pros concursos, limpava casa, namorava, passava as madrugadas acordada preparando as coisinhas pra nossa filha… E essa força biológica e emocional foi me tornando uma pessoa consciente do meu corpo, consciente do significado de estar grávida, da grande dádiva que é ser capaz de produzir um pequeno corpinho, com seu espírito e sua mente ligados a você 24 horas por dia.
E decidi que, se eu sentia tudo isso assim, tão natural, tão biológico, tão simplesmente ligado à vida, era assim que eu queria criar a minha filha. Desde a sua chegada ao mundo. E então decidi que ninguém iria me internar em nenhum lugar quando chegasse o momento da Clara nascer, porque eu não estou doente: eu estou na minha forma mais saudável, sendo capaz de gerar alguém.
E aí decidi que teria minha bebê de parto natural. Humanizado. E em casa.
Se eu ouvi críticas? Ah, muitas… De todos os tipos, das críticas mais leves às ameaças mais ignorantes. Meu namorado ficou meio apavorado com a ideia. Então, respeitando a opinião dele e entendendo a sua resistência, fomos juntos em uma palestra altamente esclarecedora, sobre o que é o parto domiciliar. E que grande alegria eu vivi ao final da palestra, vendo o mais novo adepto do parto natural humanizado planejando onde colocaríamos a piscina quando chegasse a hora e ensaiando o que ele faria para me ajudar.
Aí as pessoas me perguntam se eu não tenho medo da dor, se não tenho medo de que algo dê errado, se não tenho medo de não conseguir, se não tenho medo de que minha bebê sofra durante o processo.
Claro que eu tenho medo de tudo isso. Eu sou mamífera, sou humana. Mas medo nunca foi uma coisa ruim, pelo contrário. É o medo quem nos protege, quem nos impulsiona à mudança de atitudes, quem nos direciona para bons caminhos. Tenho medo sim. Mas esse medo não me impede de nada não, nem torna minha vida um caminho sombrio, ameaçador ou aterrorizante. O medo não é meu adversário, ele é meu aliado. Quem não tem medo nessas horas? Mas a questão é aceitá-lo como parte natural da nossa biologia e da nossa constituição emocional. Sim, tenho medo.
Mas o medo não está associado ao parto em casa. Pelo contrário. Medo mesmo, pavor mesmo, eu tenho é de ser cortada, de tomar pontos. Tenho medo de hospital. De tomar anestesia. De que minha filha chegue num ambiente pouco humano, arrancada de dentro da barriga. Medo de que ela chegue na casa dela, com o papai ajudando, com um monte de gente querida que tem como objetivo trazer gente ao mundo num clima mais humano? Bah! Mas nem um pouquinho de medo.
A partir do momento em que a gente lê POSITIVO no exame de gravidez, começa um mundo novo. E, como toda grande novidade, vem juntinho um pouco de medo. Mas o medo, como a dor, não é ruim… Se nós não sentíssemos medo ou dor com certeza já teríamos nos matado por aí… E em nossa vida como mamíferas-mães sempre teremos que conviver com um pouquinho de medo: medo de não dar conta do recado, medo de que o filhote sofra em algum momento da vida, medo de não ser boa mãe o suficiente, de ter estrias, de embarangar, de ter que escolher entre o trabalho e a função materna integral, medos medos medos. Mas se encararmos esses medos todos como naturais, seu componente apavorante vai embora e acaba chegando um grande aliado.
Hoje estou a duas semanas do concurso que eu espero há 15 anos. Vou defender meu currículo, meu projeto de pesquisa e minha qualidade como professora para uma banca formada pelos melhores profissionais da minha área. Eu e minha barriga imensa. Eu e minha filha. Enquanto eu estudei esses meses para esse momento, entre a confecção das lembrancinhas e as roupinhas que eu dobrava e redobrava inúmeras vezes, o papai da Clara fez o desenhinho do post… É ela lá dentro, fazendo a chamada oral com a mamãe. Se eu estou com medo de não ser selecionada? Se eu não estou com medo de que o fato de estar bem gravidona represente um empecilho para minha contratação? Ô se tô! Mas e daí? Já sobrevivi ao medo da possibilidade de ter que encarar a gravidez sozinha. Já
sobrevivi ao medo de perder minha filhota no início da gestação. Já sobrevivi ao medo de não conseguir me preparar para o concurso estando grávida. Já sobrevivi até ao medo de talvez não ser mãe nunca…
Hoje sou uma mamífera bem barriguda, cheia de peito, que estará à frente de uma banca para ser avaliada. Quando o medo chegar – e ele vai chegar –, com uma das mãos vou pegar na mão dele, com a outra vou pegar na mão da minha filha e, juntos, nós vamos em frente!
Que todas nós, mamíferas-mães ou mamíferas-mães-em-potencial possamos sempre encarar o medo e dizer pra ele: aqui, meu caro, mando eu!

Ilustração: Pai da Clarinha

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