Pode ser que eu esteja muito sensível e sentimental mesmo nessas últimas semanas, pela proximidade da chegada da minha filha. Pode ser que eu esteja realmente sendo meio Pollyana e tals. Mas isso não tira a beleza das experiências pelas quais passei durante a gestação – e passo ainda – envolvendo a participação de outras mulheres. E, também, é bom ficar assim um pouco, quando se é tão prática, objetiva, reta e direta.
Como deve acontecer com muitas outras grávidas (ou não, vai saber…), a gravidez me pareceu o momento em que as mulheres estão mais conectadas. Conhecidas ou desconhecidas. A sensação que eu tenho é que a gente anda na rua e elas nos olham como dizendo: “Vai firme, nega! Força nesse útero!”. São olhares de apoio, de identificação, de amizade, de felicidade alheia, de companheirismo. Se eu soubesse desenhar, queria até fazer um desenho disso. De mulheres passando por você e fazendo o tão conhecido sinal de “jóinha”, porque é isso que eu sinto. Como se nós, grávidas, fôssemos as maratonistas e as não-grávidas (naquele momento) fossem a torcida. A gente passa correndo e elas vão fazendo sinal de apoio, te entregando garrafinhas de água, sinalizando que também estão te ajudando a sustentar a barriga. E isso tem uma força psicológica muito grande! Às vezes a gente ouve um “ai que linda!”, outras vezes um “deve estar pra nascer”. Outras vezes, ainda, escapa uma expressão de espanto pelo tamanho da sua circunferência abdominal. Semana passada eu fui ao shopping com uma amiga e duas moças passaram por nós, segurando seus filhos, e comentaram entre si: “Meu Deus, olha o tamanho dessa barriga!”. Algumas, menos apegadas a aparências e convenções – felizmente! – não se contentam com o simples olhar e vêm falar com você. Nesse mesmo dia, outra moça veio me perguntar se eram gêmeos ou era um só, mostrando-se muito surpresa em saber que era apenas uma…
Hoje eu fui resolver algumas coisas na rua com o namorado. Estávamos parados na faixa de pedestres quando veio uma senhora certeira em mim, como se me conhecesse de longa data. Parou, sorriu, colocou a mão na minha barriga e perguntou, numa tacada só: “É menina ou menino? Que barriga linda, minha filha!”. Desejou uma “boa hora” e foi-se embora, no mesmo ritmo acelerado com que vinha, deixando a gente ali, parados, atônitos, morrendo de rir.
Hoje, conversando, ele me disse que acha que ela veio certa e segura falar comigo por solidariedade, porque “dói só de olhar pro tamanho da barriga”. É, não é só de olhar que dói não. Dói mesmo. Minhas costas estão pela hora do nascimento… Mas tudo bem. Vamos que vamos, que agora falta pouco.
E hoje também foi dia de ultrassom da Clara! Eba! Dia de ultrassom é dia de festa aqui em casa. O papai fica todo eufórico e ansioso, canta no chuveiro, nem come no café da manhã, se enche de perfume, conversa com a barriga, falando pra filha pentear o cabelo, passar batonzinho, coisa de gente doida como eu, claro… Com a nossa Clara está tudo ótimo! Muito líquido, cordão longe do pescocinho, placenta no lugar certo. E tá bem grandona! 2 quilos e 600 gramas, 46 cm. Como disse o médico: vai trocando as roupinhas RN porque ela não vai usar… E ainda, brincando, disse: se ela nascer antes, vai nascer proporcional. Se nascer no tempo certo, vai ser daqueles bebês que “se passam”. Bom, uma coisa é certa. Entrou, tem que sair!
Enfim, quero dizer que fico muito, muito emocionada com essa ligação que fica evidente entre as mulheres durante a gravidez. Em geral, é uma ligação de muito carinho e amparo. Eu sinto as boas energias das mulheres que passam por mim e me olham com sorrisos e olhinhos que sorriem (como sempre diz meu namorado pra mim…). É como se todas nós estivéssemos unidas por fortes laços, que não são vistos mas se fazem presentes. Perdi as contas de quantas vezes essas desconhecidas passaram por mim e desejaram uma boa hora – e esse é um tema pra outro post. Acho lindo esse negócio de desejar uma “boa hora”!
Sempre fui muito feliz por ser mulher – não que eu tenha alguma coisa contra ser homem. É que do universo masculino eu não posso falar muito, já que não me lembro se já estive na pele de um, em experiências anteriores… Mas essa solidariedade feminina confesso que entrou pro meu ranking das “melhores coisas de ser mulher”.
Em tempos de discussões sobre mudanças e quebras de paradigmas, de transição entre um modelo compartimentalizado da realidade para um modelo holístico ou sistêmico, em que se possa ver a vida de maneira integral e não segmentada, é muito, muito bom sentir que você, realmente, faz parte de um todo… E que pessoas tão diferentes e, simultaneamente, parecidas se identificam com você em um determinado momento, a ponto de te lançar um olhar que poderia ser interpretado como: “Tem um pouco de mim aí, e um pouco de você aqui”…
Acho que é isso, mais ou menos, que o tal do “Namastê” quer dizer.
PS: infelizmente, não consegui achar o autor dessa linda ilustração aí em cima…