Há algumas décadas, os pacientes psiquiátricos de fato estão lutando pela desinstitucionalização, pela aceitação, pelo desenvolvimento de novos tratamentos, pela desestigmatização, contra a banalização de suas condições. Como aceitar, portanto, o retrocesso que representa a psiquiatrização de condições normais apenas porque vendem como água?
Há algo bastante importante sobre o DSM que você precisa saber para formular sua própria opinião a respeito.
E a indústria farmacêutica está aí, visando muitos cifrõe$ em cima de quem busca alento a todo e qualquer mal, inclusive os inexistentes. Sugiro, inclusive, que você assista “O Marketing da Loucura“, é bastante pertinente. Você pode ganhar um exemplar, inclusive, se solicitar.
De 134 para 943 páginas…
No ano que vem, mais uma edição do DSM será publicada, a V edição.
Médico psiquiatra nos EUA, professor emérito da Escola de Medicina da Duke University, foi, inclusive, um dos coordenadores do DSM-IV. E está verdadeiramente indignado com o que virá por aí. Ele diz com todas as letras o motivo pelo qual acha um absurdo o que virá:
“Vamos medicalizar a normalidade!”.
Explico o que significa medicalizar a normalidade com um exemplo prático.
realmente precisa se envolver nisso pra entender.
“O DSM-5 oferecerá meios para que se crie, inadequadamente, o rótulo de TRANSTORNO MENTAL a milhões de pessoas que, hoje, são consideradas NORMAIS. Sem suporte científico e fortemente combatidas por 51 ASSOCIAÇÕES DE SAÚDE MENTAL, mas a Associação Psiquiátrica Norte-Americana continua a recusar pedidos de revisão externa independente” (Frances, 2012).
Como cientista, minha conduta ética não me permitiria falar de um assunto tão delicado e importante sem usar referências confiáveis sobre isso. Assim, sugiro a quem quiser ler mais sobre o assunto que busque autores como Michel Foucault, que diz que foi a partir de 1858 que se iniciou a medicina do não patológico e dos fatos cotidianos; Guillaume Le Blanc, autor de “As patologias do homem normal”, que fala sobre como as condutas consideradas socialmente indesejadas tornaram-se passíveis de serem classificadas como psiquiátricas; e ainda Erving Goffmann e Ian Hacking.
É importante ressaltar que a psiquiatria existente hoje é a chamada Psiquiatria Preventiva – veja só o nome… – herança de Bénédict Morel e Emil Kraepelin. Morel foi conhecido por propor o discurso médico de “moralização das massas”, que influenciou fortemente o trabalho de Kraepelin. Foi também o cunhador do termo “demência precoce”, que designou por muito tempo a esquizofrenia. E foi ele também quem propôs o argumento de que algumas doenças são causadas por degeneração. Sabe? Degeneração? Em linguagem mais simples: partiu de Morel a ideia de que loucura, crime e degeneração estariam intimamente associados, ideia que contribuiu para a alienação dos pacientes com esquizofrenia e tudo de terrível que passaram depois, e que – felizmente e com muita luta – a Reforma Psiquiátrica conseguiu e vem conseguindo extinguir.
Então, antes de defender a moderna psiquiatria com unhas e dentes, de vestir sua camiseta e agarrar-se aos novos rótulos que surgem, lembre-se disso. Não seria o caso de estar do seu próprio lado e não lutando contra si?
Nós temos saída?
Libertar-se do poder que a medicina tem sobre você é a primeira coisa. Lembre-se que foi você quem deu poder a ela e, assim, pode tirar a qualquer momento. E lembrar que a medicina foi desenvolvida para tratar e curar quem precisa de tratamento e cura, não pessoas saudáveis que são, apenas, diferentes.
mportamentos que estão sendo diagnosticados. Ou seja: o rótulo ajuda a produzir o sujeito. E, assim, pessoas são modeladas…
Hoje, sei que essa é a minha personalidade, que é a característica normal da minha mente, e que ser diferente não significa ser doente. E é só por que sou muito ativa – não hiper – é que hoje consigo ser mãe de uma criança de 2 anos enquanto faço meu segundo doutorado, escrevo capítulos de livro de biologia e fisiologia para editoras, organizo eventos sobre empreendedorismo feminino, palestras e debates, me envolvo em militâncias e ativismos, mantenho um blog, limpo a casa, junto os amigos para churrascos e afins e tantas outras coisas. Tudo ao mesmo tempo. Só porque sou ativa demais.
Se cansa? Muito.
Se tem hora que fico de saco cheio desse cérebro que não para? Quase todos os dias.
Mas os momentos de satisfação, autoconhecimento e auto-aceitação são muito mais importantes para mim.