Ontem tive uma grata alegria: recebi pelos correios a versão impressa da Revista do Instituto Humanitas Unisinos. Na capa, a belíssima imagem de um bebê nascido na água, sendo amparado por sua mãe e ainda ligado a ela pelo cordão umbilical, com o título:
“A humanização do parto. Por um nascimento mais digno e natural”.
Ainda na capa, os nomes de algumas das maiores referências em humanização do parto e respeito ao nascimento no Brasil: Ricardo Herbert Jones, Ana Cristina Duarte e Melania Amorim, os quais falaram sobre “O parto como um evento humano, não hospitalar“, “As escolhas na hora do parto: uma questão de liberdade” e “A retomada do protagonismo feminino no parto“, respectivamente.
Essa é a edição de julho da revista, número 396, que muito gentilmente me foi enviada agora.
Foi uma honra ter sido entrevistada para essa mesma edição, da qual fazem parte ainda a parteira mexicana Naoli Vinaver (uma das parteiras mais conhecidas mundialmente, que hoje mora em Florianópolis e que tivemos a alegria de tê-la ao nosso lado na Marcha pela Humanização do Parto aqui na cidade) e o pediatra Marcus Renato Carvalho.
A edição deve ser leitura obrigatória não só para quem está se preparando para receber um filho como por todos aqueles que se interessam pelo tema e queiram saber mais sobre. Para ler cada uma das entrevistas, basta clicar nos nomes dos profissionais. Além dessas entrevistas, há na edição belíssimos depoimentos de mulheres e famílias que viveram experiências humanizadas e respeitosas de parto e nascimento. Vale muito a pena a leitura.
Abaixo, transcrevo a entrevista que concedi a Graziela Wolfart, onde falei sobre “O parto e o respeito à autonomia feminina“.
O parto e o respeito à autonomia feminina
Cientista, mãe e empreendedora, Ligia Moreiras Sena pesquisa a violência obstétrica, que deixa as mulheres vulneráveis em um dos momentos mais especiais de suas vidas
Por: Graziela Wolfart
e por reflexão ou questionamento sobre se aquilo era realmente o melhor, se havia identificação com seus valores e com o que acreditavam sobre a vida. E, de repente, muito inesperadamente, me defrontei com questões que se chocavam com minha prática profissional de até então. Muitos aspectos da ciência que eu desenvolvia já me deixavam muito insatisfeita. A generalização das pessoas, o poder da indústria farmacêutica, a tentativa de apropriação do conhecimento tradicional pela ciência positivista e, principalmente, a medicalização da vida. Medicalizar a vida, os afetos, o cotidiano é algo que não encontra qualquer identificação com minha forma de ver a vida. E durante a gestação, lendo sobre parto, sobre maternidade, tendo contato com pessoas muito esclarecidas, me deparei com a medicalização da infância, com a terceirização dos cuidados, com o incentivo à separação precoce de mães e filhos e de como a sociedade tem incentivado hábitos desrespeitosos com a infância, com as crianças.
uitas mulheres passam por isso. Uma grande pesquisa nacional realizada em 2010 mostrou que uma em cada quatro mulheres brasileiras sofre violência no parto. E não há predominância de classe ou hospital: pobres ou ricas, nas maternidades particulares ou no SUS, as mulheres estão vulneráveis em um dos momentos mais especiais de suas vidas.