São 23:45, ainda dá tempo de mencionar os 20 anos da morte do cara.
Na minha infância e adolescência, a gente não ouvia muito Raul em casa (nem a Janis) porque minha mãe falava que era um povo drogado que tinha se matado (uia!). Eu me lembro que, só pra pirraçar, eu respondia “A Elis também!”. Quanta bobagem, Batman… Ainda bem que o tempo passa e que a gente para de falar bobagem – ou substitui por outras (mesmo assim, a primeira vez que li “O Baú do Raul” foi um exemplar que tinha lá em casa – e que não era meu…)
Fiz parte dos – creio eu – 90% dos universitários que se formaram ouvindo Raul.
E gritando o tal do “Toca Raul!”.
Foi quando conheci músicas não tão pops dele (que são as que gosto mais) como Pagando Brabo, Peixuxa (uma viagem do caramba…), Gente, entre outras.
Gosto muito do Raul.
Meu pai conta uma historinha muito engraçada de que ele descia pelado e doidão pra tomar café na padaria embaixo do prédio dele, e que o pessoal, que já estava acostumado com as doidêras do cara, fazia uma parede humana de proteção pra ele…
Cara doido mesmo. Cara maluco mesmo. Maluco beleza.
Já falei uma vez aqui: o que tem de maluco no mundo não tá brincadeira.
Mas os malucos bacanas são os malucos beleza, que pros outros são inofensivos – se fazem mal, é só para si próprios… Ah, se todos os malucos fossem assim…
Gosto do Raul por coisas como:
“Gente é tão louca, e no entanto tem sempre razão.
Quando consegue um dedo, já não serve mais, quer a mão
E o problema é tão fácil de perceber
É que gente
Gente nasceu pra querer
Gente tá sempre querendo
Chegar lá no alto pra no fim descobrir
Já cansado que tudo é tão chato
Mas o engano é bem fácil de se entender
É que gente
Gente nasceu pra querer
Em casa, na rua, na praia, na escola ou no bar… ah!
Gente fingindo, escondendo seu medo de amar…oh!
Gente é tão louca
E no entanto tem sempre razão…”
… entre tantas outras.
E, pra falar a verdade, acho bastante razoável o conjunto de propostas do Manifesto da tal Sociedade Alternativa.
“1 – O espaço é livre. Todos têm direito de ocupar seu espaço.
2 – O tempo é livre. Todos têm que viver em seu tempo, e fazer jus às promessas, esperanças e armadilhas.
3 – A colheita é livre. Todos têm direito de colher e se alimentar do trigo da criação.
4 – A semente é livre. Todos têm o direito de semear suas ideias sem qualquer coerção da INTELEGENZIA ou da BURRICIA.
5 – Não existe mais a classe dos artistas. Todos nós somos capazes de plantar e de colher. Todos nós vamos mostrar ao mundo e ao Mundo a nossa capacidade de criação.
6 – “Todos nós” somos escritores, donas-de-casa, patrões e empregados, clandestinos e careta, sábios e loucos.
7 – E o grande milagre não será mais ser capaz de andar nas nuvens ou caminhar sobre as águas. O grande milagre será o fato de que todo dia, de manhã até à noite, seremos capazes de caminhar sobre a Terra.
– Sucesso a quem ler e guardar este manifesto. Porque nós somos capazes. Todos nós, todos nós somos capazes. (Raul Seixas, Paulo Coelho, Sylvio Passos, Christina Oiticica, Toninho Buda, Ed Cavalcanti)”. – o grifo é meu.
… fala? E o cara ainda era “maluco”?