Nesse blog eu posto um tanto de coisa diferente.
Coisa séria, coisa piada, coisa desabafo, coisa de trabalho e coisa de mãe.
Posto assuntos relacionados ao meu doutorado sobre violência obstétrica, falo sobre criação com vínculo, sobre coisas profundas, sobre mudanças na vida de uma mulher que se torna mãe nos dias de hoje e que tenta conciliar tudo – trabalho, estudo, pesquisa, casamento, filha, aprendizados sobre a filha, falta de sono, excesso de sono, cuidados com a casa ou a falta deles por falta de tempo e vai que vai.
Mas é um blog materno. Reflexivo, questionador, com um quê de ciência. Mas materno.
E, então, tenho uma coisa pra contar.
Sabe quem está nos fazendo uma visitinha?!
Corram para as colinas! Fujam para as montanhas! Salve-se quem puder, rapaziada.
Direi a verdade, nada mais que a verdade: eu não acreditava nisso. Achava que era apenas cansaço de mãe misturado com mudanças de filho. Mas gente?! Cadê meu bebê tranquilinho que estava aqui?! O gato comeu?!
Não, a gata cresceu…
Clara está chegando aos 2 anos e tudo quanto é mudança séria, profunda e revolucionária resolveu chegar junto. Chegou chegando, para os olhos arregalados da mãe e do pai. E eis que ela está questionadora, finge que não nos ouve, tira todas as coisas ao mesmo tempo de todos os lugares existentes e imagináveis e não quer saber de comer. Tem andado com minhas baquetas em riste dando em tudo que não é vivo, e já não foi uma ou duas vezes que tentou um voo a partir da parte alta do sofá. Não tente tirar o triângulo do pescoço dela (esse aí, da foto ao lado), você pode ficar sem os tímpanos. E descobriu dentro de um armário um porta-retrato com uma foto minha com minhas irmãs, com a qual tem andado grudada. Também não tente tirar da mão, ok? Inventou um chapéu novo com a capa rígida de um dvd. Ela tira o encarte, pica em mil pedacinhos, uma parte guarda dentro do aparelho de dvd, com a outra parte faz um aleluia (joga pra alto e comemora) e com a capa faz um chapéu que, se escorregar mais um pouquinho pela cabeça, vai tampar as narinas, dificultar a respiração e, quiçá, causar um sufocamento. Veja a foto ilustrativa a seguir, cara colega.
Durante três noites na última semana, acordava no meio da madrugada, pedia alguma coisa totalmente fora do contexto e, com a nossa negativa, resolvia decretar revolta armada.
Pensa na cara da mãe? Pensa na cara do pai?
Foi então que eu parei tudo – parei mesmo, porque caí de gripe – e aproveitei o molho pra pensar sobre o que eu poderia fazer pra minimizar essa fase de agitação, que é absolutamente normal e que – claro – começou após uma febre… Os neurônios estavam se organizando para uma força-tarefa e, obviamente, ela teve uma crise de febre na semana passada, acompanhada por uma conjuntivite. Bastou sarar pra vir a revolução. E é claro que, pra ela, também não deve estar sendo fácil.
É muito simples. Ela está crescendo rápida e vigorosamente, como acontece com as crianças que chegam aos dois anos. O número de palavras que aprende por dia é algo espantoso, bem como o número de frases compostas. Já consegue pedir tudo o que quer. Cresceu bastante em comprimento e está de cabelos longos.
Então… tá na hora de mudar as coisas, materiais e comportamentais. Operacionalizar pequenas mudanças pra acompanhá-la em seu crescimento.
Sobre mudanças materiais. Nós aqui compartilhamos o quarto. Já compartilhamos a cama, mas com o crescimento dela, foi ficando mais difícil, então apenas ampliamos o tamanho do colchão colocando um adicional e ela dorme ali. Mas tenho notado uma mudança nela também no espaço de dormir. Antes, ela vinha muito mais pra perto da gente. Agora, parece preferir seu cantinho. Então agora é hora de mostrar a ela as opções em formas de dormir. Assim, decidimos: estamos mexendo nas coisas de novo. Nós havíamos comprado um berço durante a gravidez, que nunca foi usado. Mas como ele vira cama, então há um certo tempo, eu o transformei em cama. Mas como ela não dorme lá, estava lá a caminha sem uso, ocupando espaço no quarto multiuso que temos, que também é escritório do ilustrador, jornalista e chargista da casa. Mas não fazia sentido aquilo lá. Então estamos nos desfazendo dela e vamos mudar a cara do quarto, dando um ar de quarto montessoriano. Não será um quarto montessoriano propriamente dito, já que, como disse, é um quarto multiuso. Mas queremos seguir a ideia. Então vamos providenciar um acolchoado, estilo tatame, estilo futon, que poderá ser usado pra dormir, pra tirar cochilinhos diurnos, e onde ela mesma poderá subir e descer, além de organizarmos todos os brinquedos dela, que estão mais concentrados na sala, ali também. Pra que ela saiba que tem um espaço que concentra as coisas dela e onde ela pode anarquizar se quiser – ao invés de sair dando raquetada no mundo material.
Se, logo ali na frente, ela sentir vontade de dormir mais lá, então será dado o primeiro passinho rumo ao quartinho dela. No tempo dela, sem pressão e muito mais pelo elemento lúdico.
Já estamos aproveitando o feriado prolongado pra agilizar essas mudanças.
Ontem já descemos um móvel grande e liberamos espaço e foi justamente nesse momento de transporte do móvel que olhei pro lado e vi a cena: estava ela lá, em cima da mesa da sala. De pé na mesa da sala! Pronta pra dar um pisão no laptop. Corri e peguei a tempo, e ela, tirando onda: “Nããão, mãe, nããão”. Socorro.
Bem, então vem a parte das mudanças comportamentais. Tenho explicado muito mais pra ela o porquê dos nãos que digo. “Porque pode cair, filha, e machucar aqui, ó”. “Porque vai quebrar a televisão, amor. Veja, faz barulho, pode quebrar”. No geral, ela tem entendido. Mas o mais frequente é sair sem prestar atenção em mim. Então vou atrás, abaixo novamente, digo “Clara, olha pra mamãe”, ela olha, eu explico e ela me dá atenção? Não sempre. Mas geralmente sim. Claro que repete o que fez antes, pois está tentando ver até onde pode ir, então repito sempre duzentas vezes a mesma orientação. Faz parte. Nos momentos de maior cansaço, vou fazer alguma coisa mais lá pra dentro, que é pra dar um tempo pra cabeça, e aí entra o revezamento Clara por dois. Vem o pai e faz a parte dele.
Mas os terrible two são, também,
so beautiful two…
É lindo ver o crescimento dela.
Hoje, logo após a reestruturação de um dos quartos, nós a chamamos e ele perguntou: “O que você acha, filha? Gostou?”. Então ela se jogou na cama, deu uns pulinhos em cima e disse: “ilícia, pai”.
Ilícia, pai?! Isso é novidade, ela não dizia ainda… Conseguir se expressar assim é muito legal! E é só porque está chegando aos dois anos.
Mês que vem é o nosso aniversário, meu e dela. E eu andava meio angustiada sem saber se faria festinha, como faria a festinha, onde faria a festinha, se faria mesmo. Mas aí recebi uma boa notícia esses dias e decidi: vai ter festinha sim. E vai ser uma festinha com tema que ela gosta muito.
Porque nós, os gatos, já nascemos pobres. Mas o bom é que somos livres.