Finalmente…
Essa é uma postagem que demorou bastante a sair. E que está sendo esperada por algumas pessoas, amigos e amigas que vou construindo pelo caminho nessa jornada como mãe e blogueira.
Finalmente venho contar a continuidade do processo de escolarização (ou desescolarização) da minha filha Clara.
No dia 09 de setembro, abri meu coração e contei os motivos que nos levaram a escolarizá-la, mesmo acreditando que nossos cuidados – meus e do pai dela – seriam suficientes por mais tempo.
Então, no dia 10 de setembro, uma segunda-feira, começou sua adaptação em uma escolinha Waldorf muito bacana aqui em Florianópolis. Contei como foi importante, para mim, estar junto, poder observá-la, poder me observar naquele momento de início de separação.
Depois, contei como foi o segundo dia de adaptação, quando o pai dela ficou com ela na escola, quando ela ganhou um abraço coletivo dos amigos e sobre a grande angústia que eu estava sentindo pelo dia seguinte, que seria, de fato, o primeiro dia dela sozinha por lá.
Então, aqui contei como foi esse dia. Como foi emocionante para mim tê-la deixado, me despedido e recebido um beijo e um tchau bastante seguros como resposta. Como não houve choro ou crise, como foi tão mais tranquilo do que eu havia imaginado.
Meu passarinho voou tranquilo do meu dedo em direção à escolinha, jogando por terra todo o medo que eu tinha dessa separação.
E então, depois desses relatos sobre sua tão fácil adaptação, não falei mais no assunto por aqui…
Por que eu não falei mais nisso?
Porque eu ainda não conseguia falar sobre…
Cheguei a mencionar que o processo tinha acabado em desescolarização, mas não contei como foi e o que nos motivou a voltar atrás na decisão.
Então conto agora.
Os dias se seguiram e minha vida – nossa vida, de nós três aqui de casa – mudou totalmente com a ida da Clara à escola.
A rotina rapidamente se instalou: acordar, tomar café, agilizar, correr, fazer almoço, se aprontar, sair todos juntos, deixar Clarinha na escola, Frank na agência e eu na universidade. Passei a ter as tardes todas para mim, inteirinhas, para estudar, produzir, escrever. Em dois anos, tempo em que sou mãe, foram as primeiras vezes em que eu não precisei estudar ou produzir nas madrugadas, já que eu havia voltado a ter as tardes para mim. Já parou pra pensar sobre o que é para uma pessoa passar 2 anos precisando obrigatoriamente trabalhar nas madrugadas, em função da sua escolha por manter a filha em casa com seus pais, indo dormir quase todos os dias às 4 ou 5 da manhã, aproveitando que sua filha acorda sempre às 10 ou 10:30 pra poder dormir um bocadinho a mais? Não foi fácil, não… Então ter as tardes todas para mim, para trabalhar tranquilamente, sem a pressão do horário, foi um momento pinto no lixo, digamos assim…
Clara ia bem adaptada, aprendendo a se relacionar com outros amigos, com alguma dificuldade na questão “disputa de brinquedos”, mas indo bem.
Uns 10 dias depois, uma quinta-feira, fui buscá-la ao final do período.
Cheguei, entrei, fui até a salinha e perguntei dela para a professora.
A professora então apontou para um colchãozinho. Lá estava minha filha, dormindo profundamente, abraçada com um amiguinho.
Tomei um susto imenso.
Eu apostava que Clara nunca dormiria à tarde na escola, porque ela é altamente inflamável e não pode ver uma brincadeira, um amigo, uma novidade, que pega fogo e não quer saber de descansar por nada no mundo, só quer brincar e se divertir. E eis que ali estava ela, desmaiada, dormindo.
A professora ainda contou que estava muito feliz e surpresa, porque o amiguinho que dormia com ela nunca havia conseguido dormir na escolinha também. Contou que ele se deitou, ela deitou do lado e ficou com a mãozinha sobre ele até que dormissem.
Minha primeira reação foi de muita tranquilidade e surpresa. Se minha filha havia conseguido dormir ali, em meio às crianças que brincavam – nessa escola não tem a “hora do soninho”, felizmente; quem quer dormir dorme, quem quer brincar, brinca – é porque estava se sentindo muito tranquila, muito segura.
Não quis acordá-la. Queria ver como ela acordaria naturalmente, como seria, se acordaria assustada, se me chamaria, queria ver o que aconteceria.
Fiquei ali, meio escondida, observando.
Alguns minutos depois, como sentindo o cheiro da mãe por perto, ela foi despertando.
Despertou, levantou o corpinho, ficou agachada. E eu observando.
Olhou para os lados, coçou os olhinhos, arrumou o cabelinho e ali ficou. Olhou para um lado, para o outro, como me procurando, ou tentando entender onde estava – era a primeira vez que ela tirava seu cochilinho da tarde fora da sua zona de conforto. Procurou mais um pouco. Não me viu. E então colocou o dedinho na boca e deitou novamente, com uma carinha diferente…
Não era uma carinha de tranquilidade por estar em um lugar seguro. Era uma carinha de “não estou entendendo porque estou dormindo aqui”, uma carinha de filhote fora do ninho. Analisei-me para ver se tinha nisso algum tipo de projeção minha. Mas não tinha, porque seria contraditório ter, afinal, eu havia ficado verdadeiramente feliz por tê-la encontrado dormindo, isso é algo que traz tranquilidade a uma mãe, ver que uma filha havia relaxado ao ponto de se sentir segura para dormir ali.
Mas aquele jeitinho dela ao acordar…
Aquela forma de olhar em volta e deitar novamente com os olhos fixos…
Não, não me pareceu adaptação. Pareceu-me resignação.
E há uma profunda diferença entre as duas coisas.
O primeiro envolve uma atitude pró-ativa, que envolve o indivíduo no processo, algo como “estou aqui porque é legal, porque vale a pena”. O segundo não envolve movimento ou participação, é algo passivo, algo como “estou aqui porque estou aqui, vou me conformar”.
Na minha vida como neurobióloga do comportamento, passei muitos anos analisando o comportamento animal. Passei muitas e muitas horas em frente a um animalzinho, destrinchando seu comportamento, esmiuçando um mero levantar em dezenas de nuances comportamentais, cada um com um significado singular. Eu não iria errar logo no comportamento de uma pessoa com a qual sou tão conectada quanto minha filha…
E foi daquela observação do seu acordar, então, que me peguei engolindo duro, como tentando deglutir o nó que se formou na minha garganta.
Então eu a chamei: “Filha!”
Ela se levantou como num pulo, procurou de onde vinha a voz, me viu e baixou os olhinhos. Baixou os olhinhos… e veio correndo. Me deu um beijo e deitou no meu ombro. Então fiquei conversando com ela sobre ela ter dormido, perguntei se estava bom e ela ia fazendo apenas que sim com a cabecinha. Mas não falava nada.
Naquele momento, alguma coisa dentro de mim aconteceu.
Eu não sabia bem o que era, não dei vazão ao pensamento, não racionalizei, bloqueei e segui em frente.
Fomos
para casa, continuamos nosso dia.
Chegou a hora de dormir. Ela dormiu. Umas duas horas depois, eu a ouvi me chamar. Fui lá. Ela olhou para mim e disse: Mamãe, aqui? E apontou o travesseiro. Queria apenas que eu me deitasse ao lado dela. Deitei. Então ela colocou a mãozinha sobre o meu rosto, me deu um beijo e dormiu novamente. E eu fiquei ali alguns minutos, olhando pra ela. Olhando minha filha de 2 aninhos. Uma bebê-menina. Uma menina-bebê. Um bebê aprendendo a ser criança, aprendendo as palavras, formando pequenas frases, mas ainda sem conseguir se expressar como realmente queria. Uma menininha que havia chegado em nossas vidas repentinamente, sem planejamento, e que nos inundou da mais pura vontade de fazer o melhor, de fazer diferente, de extrair de nós o que temos de melhor para crescer segura, feliz, amparada, tendo sempre seus pais por perto nessa fase tão importante que é a primeira infância, de onde levamos experiências subjetivas para o resto da vida. Uma menina que nos inspirou a mudar nossas vidas para que pudéssemos estar com ela sempre nesse início de vida juntos. E por que? Porque realmente acreditamos que era com a gente que ela deveria e precisava estar. Planejamos uma escolarização tardia porque acreditamos realmente que a socialização se faz de diferentes formas, não exclusivamente com a inserção na escola. Mudamos os planos em função das solicitações dela por novidades, novos estímulos, a presença constante de outras crianças. Então fomos, procuramos um bom lugar, encontramos, a incluímos em todo o processo, ela se adaptou e foi tudo bem.
Mas será mesmo que estava tudo bem? O quanto foi adaptação e o quanto foi resignação por parte dela?
Uma rotina tão rígida para alguém de tão pouca idade…
A obrigatoriedade de estar todas as tardes na escola, ainda que nós pudéssemos estar com ela em casa por mais tempo…
Seria mesmo necessário aquilo? Por que inseri-la na roda viva da vida tão cedo?
Haveria um momento em que a opção talvez não mais existiria. Mas se existia agora, por que tão cedo?!
Se nós tivéssemos um horário rígido e inflexível de trabalho seria mais um motivo para escolarizá-la. Mas não era nosso caso, nunca foi nosso caso. Será que não haveria uma forma menos rígida, mais lúdica, mais adaptável às próprias solicitações dela, de oferecer novidades, estímulo, oportunidades de aprendizado?
Ela dormia ao meu lado. Fazia muito frio – era o inverno se despedindo.
Lembrei-me dela dormindo no colchãozinho da escolinha.
E senti que havia me enganado. Que eu havia me deixado confundir. Que fui contra minhas próprias convicções. Sim, eu estou convicta de que uma criança tão pequena precisa, acima de tudo, de seus pais. Estou convicta de que a terceirização não precisa acontecer se realmente não há necessidade, necessidade real, se há possibilidades, se há flexibilidade.
Então entendi algo que vinha sentindo durante aqueles dias, mas que não estava muito claro o que era. Era algo que poucas vezes senti como mãe: CULPA.
Então agora vou fazer uma pausa na história para falar de culpa. E somente faço isso porque acho importante.
Sinto-me muito satisfeita por ser uma mãe que não se sente culpada. Não tenho crises de culpa dessas que dizem ser a tal “culpa materna”. E não porque eu faça tudo “perfeito” – supor isso é até ridículo… Mas porque tenho consciência de que faço as coisas pensando no que elas representam, nos benefícios e prejuízos das escolhas, e não finjo que os prejuízos não existem apenas para me tranquilizar. É com base na consciência dos prejuízos e benefícios que faço minhas escolhas e isso elimina a possibilidade de culpa. O que é a tal da culpa? Culpa é um sentimento de conotação desagradável que aparece quando analisamos um comportamento nosso e o reprovamos. Sabemos que podemos fazer melhor, mas não fazemos, por diferentes motivos. E aí vem a culpa.A culpa é boa ou ruim? Em um primeiro momento, pode ser que você responda: péssima.Mas eu não acho, não… Eu acho que sentir culpa é ótimo. Quer saber por que?Porque acho que sentir culpa é uma característica positiva fundamental do ser humano. Mostra uma capacidade de se auto-analisar, de fazer uma crítica sobre seu próprio comportamento. A culpa é empática, é inclusiva, não é egoísta.Somente indivíduos com tendências psicopatas não sentem culpa por um comportamento inadequado com outro indivíduo ou consigo próprio. O psicopata não acha que o que fez machuca, fere ou magoa e, assim, não reprova seu comportamento e, consequentemente, não sente culpa.A culpa, direcionada para si ou outra pessoa, é boa. Mas somente QUANDO ELA LEVA A MUDANÇAS. Ela precisa levar a mudanças para que seja boa. E quem compreende a culpa verdadeiramente, compreendendo sua função, não tem medo dela e desenvolve com ela uma boa relação. Tão boa que ela deixa de existir… Mas não porque foi tampada com uma peneira furada, mas porque foi resolvida verdadeiramente.Ao meu ver, existem dois tipos de culpa e para elas dou nomes muito particulares: a “culpa nada a ver” e a “culpa real”.A “culpa nada a ver” é aquela que vem quando analisamos um comportamento de maneira muito superficial, simplista e enviesada, desconsiderando elementos fundamentais e, ainda assim, o reprovamos. Um exemplo. O bebê completa 4 meses e acaba a licença maternidade. Aquela mãe precisa voltar ao trabalho. Então ela se afasta do filho para voltar a trabalhar. E todos os dias ela sente culpa por isso. Chora e sofre de culpa. Ela analisa, ainda que não de maneira racional, seu comportamento – de se afastar do filho -, o reprova e sente culpa. Essa culpa cruel e triste, que maltrata mulheres, não precisa existir… E é por isso que eu a chamo de culpa nada a ver. E por que? Porque essa mãe não precisa sentir culpa por isso… Oras, há uma necessidade concreta de que ela trabalhe, seja porque ela precisa daquela renda para se manter, manter sua vida, seu filho, as necessidades conjuntas, compor uma renda, seja para realizar-se como profissional se assim for seu anseio. Não há que se ter culpa por isso. Mas, ainda assim, essa culpa nada a ver pode ser motor de mudança. Ela pode levar a um rearranjo de vida, por exemplo, que permita a essa mãe tirar o máximo proveito dos momentos que está com o filho, ou ainda criar um caminho do meio, se assim ela quiser.Já a outra forma de culpa, que eu chamo de “culpa real” é aquela que tem motivos para acontecer, digamos assim. Ela surge quando analisamos um comportamento de maneira clara e sincera e, justamente por isso, o reprovamos. A “culpa real” não é hipóc
rita, é sincera. Ela mostra uma capacidade de analisar a questão sem subterfúgios. Um exemplo: ofendemos alguém de quem gostamos. Ficamos com aquilo na cabeça, reprovamos nosso próprio comportamento, aquilo nos fere, então sentimos culpa por termos feito. É ruim sentir essa culpa? Não, isso mostra humanidade. Ruim foi ter feito o que causou a culpa. E porque ela é boa? Porque ela leva à ação – ela precisa levar à ação. Então eu pego o telefone, ligo para a pessoa de quem gosto e digo: “Por favor, me desculpe. Eu não precisava te ofender, foi imaturidade da minha parte”. E a culpa se vai…Ou seja: quando bem orientada, ela é um recondutor da ação. Mais um exemplo: sinto culpa porque alimento mal meu filho, com alimentos pouco nutritivos ou cheios de compostos artificiais. Reprovo esse meu comportamento. E continuo a fazer? Não. Reconduzo a minha prática, preparo coisas melhores, me organizo para proporcionar isso. Há uma outra forma de fazer a culpa desparecer, que é me apropriando verdadeiramente de todas as consequências das minhas escolhas.
Ou seja: dizer CULPA, NÃO!somente quando eu mudei a minha atitude de forma a eliminar o comportamento que reprovo em mim e, assim, elimino a culpa, ou quando eu me aproprio verdadeiramente dos benefícios E dos prejuízos da minha escolha, assumo isso e toco em frente. Isso é dizer NÃO à CULPA. E não porque eu vou fechar meus olhos para o que eu realmente precisaria fazer para que a culpa não existisse ou para os prejuízos por ventura advindos da minha escolha. Porque isso não se chama CULPA, NÃO! Chama-se “HIPOCRISIA”. Usando o exemplo anterior, da ofensa ao amigo, seria como se eu, mesmo tendo ofendido, apenas dissesse: DANE-SE! CULPA, NÃO! Eu ignoro meu comportamento inadequado, finjo que está tudo bem, ignoro o outro e “penso” que está tudo resolvido – porque na realidade não está, está logo ali na frente à sua espreita pra te pegar. Isso não é CULPA, NÃO! Isso é auto-engano. Sacou?
Mas voltando à história da (des)escolarização da minha filha.
Naqueles dias, senti culpa. Do tipo “real”. Senti-me culpada por tê-la escolarizado. Então coloquei em prática o pensamento que acabei de expor: reanalisei todo o conjunto, procurando usar a culpa para a recondução da minha ação.
O que havia me passado batido? Por que aquele sentimento?
Então, deitada ali com minha filha, entendi… Simplesmente, entendi.
Desde que me tornei mãe, tenho vivido tão verdadeiramente as coisas que acredito que não consigo fingir. Mesmo inconscientemente. Qualquer sensação de incoerência, pra mim, é terrível. Se sinto que estou sendo incoerente, preciso fazer algo para voltar ao caminho.
O que deu início ao processo de questionamento sobre a escolarização dela foi justamente algo que, talvez para outras mães, fosse um reforçador da decisão de mantê-la lá: o fato de encontrá-la dormindo. Dormindo enquanto outras crianças brincavam e corriam ao redor, fora da sua casa, fora da sua caminha, da sua rotina, e… sem que houvesse real necessidade. Sem que precisasse, tão cedo, passar por essa mudança. E, principalmente, havendo outras opções, opções que não obrigatoriamente impusessem uma rotina tão rígida e a separação de seus pais.
Ela tem apenas 2 anos… Está aprendendo a falar agora… Ainda não sabe contar as coisas que vive com precisão. E tão cedo, havia entrado na roda viva da vida…
Se um dos reforçadores da nossa decisão de escolarizá-la foi a busca dela própria por novos estímulos, por novidades, por novas pessoas em sua vida, a escola não era única alternativa. Como fui me deixar enganar assim? Havia outras possibilidades, outras alternativas, havia um caminho do meio, que poderia ser trilhado por ela junto com a gente…
Ela dormia ao meu lado. Levantei-me e saí do quarto. Fui até o escritório onde o pai dela trabalhava. Sem falar nada, sentei e comecei a chorar. Era um choro-desabafo. Ele se assustou, perguntou o que havia acontecido e conversamos. De início, ele não concordou comigo. Mas aí me perguntou o que eu realmente pensava sobre. Então eu expliquei tudo aquilo que havia conseguido processar naqueles momentos no quarto, que havia despertado à tarde na escola, quando fui buscá-la e a encontrei dormindo – que ironia. Expliquei tudo, tudo isso que contei aqui. Ao final, ele disse que eu não precisava falar mais nada porque estava coberta de razão: havíamos pego um atalho, um atalho que nos favorecia também, mas que de certa forma a excluía e, principalmente, que ia contra nossas próprias crenças e escolhas, contra a forma como decidimos criá-la desde que nos soubemos grávidos.
Tentando encontrar um caminho do meio, marcamos uma reunião com as professoras da escola e contamos nossa angústia. Quem sabe seria possível uma flexibilização de horários, de rotina, uma vez que ela estava apenas no maternal e não no jardim? A equipe foi muito empática e acolhedora, mas estar numa escola envolve respeitar também o ritmo que a instituição propõe para desenvolver suas atividades. Elas ainda nos ofereceram uma alternativa, mas ainda não era o que nosso coração, tendo visto todas essas coisas agora, pedia.
Fomos embora. Conversamos. E decidimos. O lugar dela é junto de nós, ainda por mais um tempo. Simplesmente porque é nisso que verdadeiramente acreditamos.
Ainda me questionei sobre se seria maduro de nossa parte retroceder. Somos criados nessa sociedade estranha em que o “voltar atrás” não é sempre bem visto e nos contaminamos com isso.
Mas aprendi que muitas vezes é o voltar atrás que garante que possamos traçar o caminho de maneira mais suave, melhor, mais doce. Voltei atrás na minha vida profissional e encontrei a realização que não tinha antes, sou feliz com minha nova escolha.
Então… tiramos nossa filha da escola.
E para suprir a necessidade que ela mesma apontou de novos estímulos e novas situações, aproveitamos a familiaridade que ela tem com água (pisciana de ascendente) e a matriculamos na natação.
E que santa decisão!
Vê-la feliz, pedindo pelas aulas, pedindo para ir “baixoágua”, andando pela casa de óculos de mergulho e touca, me dá a sensação de que UFA! fizemos tudo certo. Acertamos. Limpeza de disco realizada com sucesso.
Como ela é uma menina muito musical, queremos colocá-la também na aula de musicalização. Na verdade, até já combinamos tudo, só estamos acertando horários. Assim, ela teria três tardes com atividades diferentes.
Tudo isso ela pode fazer estando comigo ou com o pai dela – ele a acompanha na natação e eu a acompanharei na aula de música. E financeiramente não haverá grande diferença entre pagar uma escola e pagar dois cursos.
E foi assim então, meus amigos, que nós decidimos não mais escolarizar nossa filha. Pelo menos não agora.
Claro que isso trouxe um pouco de desorganização às nossas vidas, uma vez que já estávamos
organizados para ter as tardes livres para o trabalho novamente.
E – here we go again! – cá estou, madrugadas adentro. Blogando após o término das tarefas, tarde da noite – ou cedo do dia.
Mas faço tudo, agora, de mente quieta, espinha ereta… e coração tranquilo.
Durante esse processo de escolariza-não escolariza, minha mãe me contou que me escolarizou aos 2 aninhos, buscando o que ela acreditava ser bom para nós duas naquele momento. Embora minha adaptação tenha sido relativamente fácil, para ela não foi. E ela passou todas as tardes durante 1 mês (ou 2 meses) do outro lado da calçada, apenas para o caso de que eu precisasse de algo.
E senti-me muito acolhida quando contei minha decisão de não mais escolarizar a Clara por enquanto e ouvi do outro lado da linha: “Filha, acho que você está certa. É cedo ainda… Deixa ela com você”.
Coração tranquilo…
Agora sim.
O galo está cantando agora. Preciso ir.
Bom dia pra você.