Na última segunda-feira, o SBT Repórter exibiu uma belíssima e exemplar matéria sobre partos humanizados.
Todo mundo que é ligado nesse assunto estava com o coração na mão aguardando o programa. Afinal de contas, nunca se sabe o que a mídia vai fazer em cima desse assunto tão importante e a gente sabe que o senso comum é o discurso do risco e da medicalização.
Então estávamos todas a postos, sintonizadas no canal do seu Silvio, torcendo para que fosse uma matéria esclarecedora.
E que grande emoção ao ver o profissionalismo com que a emissora tratou o tema…
Escolheu pessoas importantes no cenário da humanização para suas entrevistas, como a obstetriz Ana Cristina Duarte, que além de obstetriz é ativista e estudiosa do assunto, e a querida Luciana Benatti que, junto com seu marido, o fotógrafo Marcelo Min, produziram o belíssimo livro Parto Com Amor.
Que programa lindo… Profundamente emocionante e bastante esclarecedor.
Nem a opinião equivocada e claramente tendenciosa da Dra. Morandini, representante do CREMESP, atrapalhou. Pelo contrário. Contribuiu para deixar ainda mais claro o que é que os Conselhos de Medicina estão fazendo com o parto e nascimento: negando a autonomia e o protagonismo feminino, tentando substituir as mulheres e seus filhos por si próprios.
Particularmente, nada me emocionou mais do que a história da Renata, mineira, mãe de duas meninas, a primeira nascida por cesárea e a segunda nascida em casa, tendo sido o nascimento da última filha filmado por sua própria irmã.
Desconte-se o chavão da enaltação do policial militar como herói por ter auxiliado o parto da mulher, que tranquilamente pariu no carro inesperadamente, porque a beleza da matéria permite que descontemos os pequeníssimos equívocos. E compartilho aqui o que comentei na fan page do blog:
Será que deu pra entender que não é nada difícil falar de parto humanizado, de parto em casa, de parto na água? Será que deu pra perceber que foram as mulheres e suas histórias verídicas, honestas, sinceras, que tornaram o programa tão especial? E que isso tem acontecido cada vez mais? É tão fácil entender o porquê de tanta gente mobilizada, de tanta gente nas ruas nas Marchas, de tanta gente revendo seus próprios preconceitos, pegando o telefone à 1:30 da manhã pra dizer “Tô chorando, entendi agora o que vc quer dizer”, de tanta mulher pedindo o retorno às suas próprias mãos de algo que não devia nem ter saído… Viu como, frente à beleza da naturalidade do nascimento e da interpretação dela como um evento familiar, a Dra. Morandini se tornou peça obsoleta e caricata dessa matéria? Ela, que representa o Conselho de Medicina. Viu como estão alicerçados em bases desatualizadas, fracas, baseadas em fins mesquinhos e biopolíticos? Deu pra ver, nessa matéria, de quem é o evento do nascimento e a quem pertence? Agora diz: tem como não ser transformador? Essa é uma parte da revolución de las madres. Com certeza. Uma revolução que trará benefícios a todos, inclusive aos que tentam se manter fixos na medicalização estrita do nascimento. Linda matéria mas, mais que bonita, IMPORTANTE.
Infelizmente, o horário não ajudou na popularização do programa.
Mas felizmente temos a internet!
Então se você não pode assistir no dia, reserve um horário na sua agenda e assista.
Deixe o lencinho ao lado, porque vai precisar.
Se você não é um interessado no tema, ainda assim recomendo que assista, a título de curiosidade.
Não tem como não ser tocado por essas imagens e pela força e determinação de todas essas mulheres.
E é como diz Michel Odent: não temos como mudar o mundo se não mudarmos a forma de nascer.
UM ÚLTIMO PONTO: todo mundo reparou (ou vai reparar) como a Dra. Morandini não responde à pergunta sobre por que hoje no Brasil temos mais de 80% de cesáreas. Ela preferiu não respondeu e chamar o parto em casa de modismo.
As índias estão na moda. Nossas avós, de coque e saião, estão na moda. Mulheres nos recônditos brasileiros estão na moda. Tradicional mesmo é a cesárea.
Isso sim é ser doutor em inversão de valores.