Já faz bastante tempo que o movimento pela humanização do parto fala sobre como é extremamente importante que se conheçam os números reais dos obstetras, em termos de proporção entre cirurgias cesarianas e parto normal. Se falamos em escolha informada, falamos também sobre saber de fato quem são, do ponto de vista da prática profissional, os médicos que vão nos atender num momento tão importante quanto o nascimento de um filho. Assim, é importante conhecer sua filosofia, o que pensam sobre parto e nascimento, se o que pensam tem embasamento real ou se não passa de uma opinião não fundamentada, se o que consideram "motivo válido para uma cirurgia" não passa de uma desculpa não sustentada cientificamente e se você tem ou não grandes chances de acabar em uma mesa cirúrgica sem qualquer necessidade, embora tenha sido dito que seria dado total apoio em sua busca por um parto digno e respeitoso.
Estamos falando aqui não de mulheres que querem viver uma cesariana para o nascimento de seus filhos – acho que já está bastante claro que, no Brasil, essas não encontram grandes problemas para viver aquilo que querem. Taxas nacionais superiores a 50 ou 80% – serviço público ou suplementar, respectivamente – deixam explícito que quem quer viver uma cesariana consegue muito facilmente, contrariando todas as recomendações de órgãos nacionais e internacionais. Estamos falando de mulheres que, em sua busca por um parto natural, encontram profissionais que se dizem uma coisa, praticando outra.
Também com o intuito de mudar a assistência ao parto no Brasil, e como parte de uma série de medidas voltadas para o mesmo fim, a Agência Nacional de Saúde promulgou a Resolução 368, de 06 de janeiro de 2015, a qual:
Por saúde suplementar entende-se todo o sistema de saúde privado, mediado por operadoras de saúde, os ditos "convênios médicos". Em linhas gerais, significa que toda e qualquer pessoa que faça uso de planos de saúde têm o direito de acessar as taxas de cesarianas e de partos normais praticadas por todos os obstetras conveniados. Ao contrário do que algumas pessoas muito ingenuamente pensam, no Brasil o acesso às operadoras de saúde e consequentemente aos serviços privados de saúde não se restringe a grupos com grandes poderes aquisitivos. Basta uma pequena busca à literatura em saúde no Brasil para ver que o acesso ao sistema privado é bastante difundido. Inclusive porque o próprio sistema público muitas vezes faz uso do sistema privado, o que é um paradoxo. Por exemplo: aqui na cidade de Florianópolis, onde vivo, os servidores públicos do setor saúde têm acesso à Unimed. Não é um paradoxo? Que os servidores de saúde não sejam, eles mesmos, invariavelmente, usuários de seu próprio serviço?
Neste contexto, estão circulando pelas redes sociais nas últimas semanas listas compartilhadas – de construção colaborativa e baseada em dados fornecidos pelas diferentes operadoras de saúde – que mostram os números de cirurgias cesarianas e partos normais atendidos por diferentes obstetras, em diferentes municípios, credenciados a diferentes operadoras.
Sou moradora de Florianópolis, SC. Todo meu envolvimento com o movimento de humanização do parto no Brasil começou com a vivência da realidade aqui de Florianópolis. O doutorado em Saúde Coletiva que estou concluindo, e que tem a qualidade da assistência ao parto como mote, tem sido feito aqui em Florianópolis, embora envolva inúmeras outras cidades e Estados. Eu já sabia, ainda que empiricamente e não baseada em fatos numéricos, qual era a nossa grotesca realidade. Mas confesso que os números apresentados pela Unimed a respeito das taxas praticadas pelos obstetras conveniados nos anos de 2013 e 2014 me deixaram perplexa. Não que eu não as esperasse. Esperava. Mas há algumas coisas nesta lista ainda mais chocantes do que eu poderia supor. A lista encontra-se abaixo.
Antes que você a acesse é importante ressaltar os seguintes pontos:
– trata-se apenas dos números referentes os atendimentos custeados pela UNIMED;
– aqui em Florianópolis há praticamente monopólio da UNIMED, que é, sem dúvida alguma, a operadora com maior adesão e com maior cobertura;
– os números apresentados não representam os números totais dos profissionais, visto que os mesmos podem atender por outras operadoras ou particularmente;
– obstetras que não se encontram nesta lista não atendem pela UNIMED
– a lista está dividida tanto por estabelecimentos de saúde que atendem via UNIMED quanto por profissionais
– não sou conveniada UNIMED, sou usuária do SUS, não tenho nenhum tipo de conflito de interesse por sua divulgação
Se você está buscando um profissional para prestar assistência em seu parto na cidade de Florianópolis, atente para esta lista. Ela também fala sobre comprometimento real com a luta contra as cesarianas injustificadas, que levam à maior morbimortalidade materna e neonatal tão ressaltada não apenas pelo Ministério da Saúde, mas por todas as organizações que prezam pela saúde da mulher e do neonato.
Clique nas imagens para ampliar a visualização.
Números por estabelecimentos conveniados à UNIMED
*Informações fornecidas por UNIMED – Florianópolis por e-mail
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