Pouca coisa existe que seja mais desafiadora do que passar por dificuldades e angústias sozinha. Não apenas sozinha de companhia ou presença física, mas especialmente sozinha de apoio e braço dado, sozinha de uma mão que nos pegue e diga:

Vamos lá, nesse trechinho eu vou te puxar e lá na frente a gente inverte”.

Porque bem ao nosso lado existem inúmeras pessoas, uma rede social cheia de contatos, um whatsapp cheio de grupos e opiniões e julgamentos e cobranças. Mas sentir-se sozinha pode acontecer – e de fato acontece – principalmente aí, em meio ao coletivo, quando nos vemos cercadas de pessoas e sozinhas em nossas angústias e dores, especialmente quando o que se valoriza em grande escala é o individualismo, a satisfação dos anseios individuais.

É quando qualquer dificuldade se torna maior. Quando a dor que sentimos se amplifica e se potencializa.

Se é assim com todas as pessoas em suas vidas diárias, é ainda mais forte quando somos mães. Quando temos atrás da porta do banheiro, enquanto fazemos um simples xixi ou escondemos um choro, pezinhos ávidos para entrar e compartilhar de todos os momentos da nossa vida, inclusive aqueles em que tudo o que queremos é estar sozinha, especialmente porque não fomos ensinadas a lidar com nossas próprias dificuldades na frente deles, esses serezinhos pequenos e cheios de potência a quem chamamos de filhos.

Mas se eu aprendi uma coisa nesse curto e profundo caminho como mãe foi que há uma solução para essa solidão. E ela não é comercial.

A solução não é fácil. Mas facilidade não deve ser o objetivo final do que buscamos, posto que toda facilidade esconde profundas armadilhas, algumas letais. A solução é uma só: dividir o caminho. Com quem sabe exatamente o que nós sentimos porque, de certa forma, também é nós.

COMPARTILHAR

O que é compartilhar?

Estamos sendo treinadas para acreditar que é apertar aquele botão das redes sociais em que tornamos algo de conhecimento de outras pessoas, o que também é uma armadilha. Nem sempre compartilhamos verdadeiramente nossas dores. Nem sempre somos acolhidas em nossas solicitações apenas porque as fizemos conhecidas.

Compartilhar é dividir. Fazer parte de algo com alguém. Sentir as dores e as delícias de outra pessoa como se nossas fossem. Afligir-nos porque alguém também está aflito. Partilhar. Repartir. Utilizar um mesmo recurso em rede. É o que nos diz o dicionário…

Palavra que vem do latim e se forma a partir de COM (junto) e PARTÍCULA (parte pequena).

Porque é isso o que somos: partes pequenas de um todo que, por viver míope, pouco se reconhece, se identifica, se aproxima.

COMPARTILHAR com outras mulheres foi a solução que encontrei para me sentir menos só e mais forte, especialmente como mãe. Primeiro, compartilhei informação de maneira, ainda, solitária. E percebi, neste compartilhamento, o fortalecimento de algumas mulheres. Elas, mais fortalecidas, compartilharam por sua vez com outras mulheres. Que se viram motivadas a estender suas mãos a outras. Enquanto eu via mulheres se sentindo apoiadas, decidi compartilhar histórias, e abri meu coração. Falei sobre dores, angústias, bobagens, diversões, descobertas. E ao me abrir como sou, reconheci em mim tantas outras. E tornei-me muitas.

Ao tornar-me muitas e diversas, senti a via contrária: o compartilhamento do íntimo de outras mulheres me transformou. Me trouxe aprendizado, capacidade de crítica, conhecimento sobre o mundo. E, nisso, transformei meu modo de viver, tendo também como objetivo tornar o caminho, pelo menos até onde eu poderia agir, mais seguro e consistente para que uma outra pessoa, no mínimo, pudesse caminhar: minha filha.

Juntas, todas, compartilhamos roupas de criança, que seguem a outras impregnadas de amor e solicitude. Compartilhamos livros, que poupam preciosos centavos quando pouco temos. Compartilhamos dicas de como agir em momentos em que nos sentimos talvez tão inseguras quanto as próprias crianças que esperam que saibamos o que fazer quando nem nós mesmas sabemos. Compartilhamos abraços, café, bombas de extrair leite, slings, cuidados, levar e trazer da escola. Compartilhamos sugestões, alertas, a força que falta em uma e sobra em outra. Compartilhamos berços, brinquedos, advogadas. Compartilhamos notícias, estratégias, articulações. Compartilhamos informação. E assim vamos nos libertando, como dominós que, ao contrário, se levantam consecutivamente.

E nessa roda compartilhada, de amores compartilhados, de dores compartilhadas, transformamos solidão em força. Desamparo em rede. Direitos desrespeitados em ativismo. Ideias em ações. Conflitos em mediação. E seguimos menos sozinhas, mais fortalecidas. Seguimos juntas.

Em um mundo de individualismos, escolhi seguir pelo caminho contrário. Escolhi COMPARTILHAR. Compartilho minha maternidade, as soluções, apoio e carinho.  Compartilho a mim mesma. Não por umas, mas para todas.  O compartilhamento entre mulheres, entre pessoas que desejam ver o bem comum, tem transformado vidas e histórias que poderiam ser difíceis em caminhos onde, juntas, caminhamos com menos riscos, com mais segurança e, especialmente, menos sozinhas.

Não apenas agora, mas sempre, compartilhe! Roupas, material escolar, livros, fantasias? Sim, tudo isso também. Mas especialmente compartilhe você mesma com uma outra mulher. Compartilhe:

– gentileza a uma mãe

– apoio a uma mulher

–  força a uma puérpera

– amparo a uma lactante

– colo a uma criança

– sustentação a quem se dedica a fazer diferente

Quando nos partilhamos, deixamos de estar sós. Deixamos de ser partículas. E nos tornamos um TODO.

 

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Parte do meu trabalho é apoiar mulheres nas mais diferentes questões das suas vidas: maternidade, educação sem violência, empoderamento, fortalecimento, carreira profissional, desenvolvimento científico. Sou Mestra em Psicobiologia pelo Departamento de Psicologia e Educação da USP, Doutora em Ciências/Farmacologia pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutora em Saúde Coletiva também pela Universidade Federal de Santa Catarina, com foco na saúde das mulheres e das crianças. Se você precisa de apoio e orientação, mande um e-mail para ligia@cientistaqueviroumae.com.br que eu te explico como funciona a MENTORIA E APOIO MATERNO.