Muitas de nós permanecemos em relacionamentos insatisfatórios, por vezes infelizes, por medo de ficarmos sozinhas. E isso se aprofunda em muito quando temos filhos. Por inúmeros motivos mas, especialmente, porque, no caso do pai também assumir sua responsabilidade na presença e cuidado com as crianças – coisa que espera-se que aconteça – significa que poderá haver também aquela sensação de ninho vazio. E a síndrome do ninho vazio não é tão simples assim de lidar.
Eu já passei por isso e sei: pode não ser fácil. Lembro que os dias mais difíceis no início eram os domingos. E essa dificuldade durou até o dia que percebi: não é sobre fim. É sobre recomeço. É sobre voltar a se olhar.
Quando temos filhos, somos convencidas de que, a partir de então, onde quer que estejamos, nós não somos mais nós. Passamos a ser “nósenossosfilhos”. Assim junto, assim inseparável. Mas isso não é verdade… É desejável para o modelo socioeconômico vigente que sintamos que é assim, que isso é real. Mas não é real. Não deixamos de ter nossa individualidade por nos tornarmos mães e a diluição dessa individualidade nos faz muito mal. E é também por isso que sentimos dor emocional no puerpério, pela sensação de compulsoriedade de que, a partir de então, perdemo-nos de nós e nos tornamos para sempre uma peça de encaixar constantemente incompleta.
E aí, quando nos vemos separadas e sem as crianças, ainda que em parte do tempo, vêm um sentimento de inadequação. Uma solidão. Um não saber o que fazer com o tempo, com a vida. E se não estamos fortalecidas, nossa sombra nos domina, nos paralisa e exige de nós que permaneçamos onde estávamos. E isso é transformar liberdade em prisão.
O que quero dizer é: passar a viver uma vida onde há mais tempo para si, onde voltamos a ser mulheres parcialmente “sem filhos” (embora isso nunca mais seja possível), em que não temos o pai do filho junto, e muitas vezes sequer o filho, não é sobre solidão. É sobre reconquistar-se. É sobre reencontrar-se. Sobre voltar a se olhar. Coisas que, muitas vezes, não são possíveis de outra maneira quando somos mães, na dependência do esquema de vida que nos impusemos – ou que nos foi imposto.
Quero dizer às mães que se separam que esse sentimento de vazio que muitas vezes surge não é real. Ele é construído. Construído por uma sociedade que não nos vê verdadeiramente como mulheres plenas, mas como apêndices de outras pessoas, ou como papéis sociais desejados.
Não permaneçam em relacionamentos infelizes e muito aquém do que vocês merecem apenas porque sentem medo da solidão. Muitas vezes a solidão já existe, ainda que acompanhada, nessa pseudocompanhia, nessa presença fantasmagórica de alguém que não te vê, não te cuida, não te valoriza nem te apoia. Entendo que existam medos e, em alguns casos, eles são bem reais. Mas não permita que o medo da solidão seja um deles. Não há solidão em estar sozinha. Há uma porta escancarada para si mesma, convidando generosamente para que você entre.
Isso se torna especialmente importante quando temos filhas meninas. Porque mostramos para elas que nenhum relacionamento vale nossa alegria perdida, nossa liberdade, nossa vontade de ser e amar. E que ser uma mulher não subentende estar acompanhada. E, sim, sentir-se forte e inteira. Não nascemos a metade de ninguém, nem incompletas. Nascemos livres. Porém, nossas asas podem estar fora de forma pelo esforço patriarcal de nos manter presas a crenças, padrões, papéis. Coloque essas asas para fora. Abra-as. Pode ser doloroso no início. Mas é o único caminho para voltar a voar. E ensinar nossos passarinhos a fazerem o mesmo.
Se você estiver em uma relação, que ela seja um convite para o voo. Se não, respire, posicione-se e… Voe. Ninguém precisa mais de você do que você mesma.
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Parte do meu trabalho é apoiar mulheres nas mais diferentes questões das suas vidas: maternidade, educação sem violência, empoderamento, fortalecimento, carreira profissional, desenvolvimento científico. Sou Mestra em Psicobiologia pelo Departamento de Psicologia e Educação da USP, Doutora em Ciências/Farmacologia pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutora em Saúde Coletiva também pela Universidade Federal de Santa Catarina, com foco na saúde das mulheres e das crianças. Se você precisa de apoio e orientação, mande um e-mail para ligia@cientistaqueviroumae.com.br que eu te explico como funciona a MENTORIA E APOIO MATERNO.