Eu já disse anteriormente, mas vou repetir: antes de engravidar eu não sabia nada sobre gravidez, parto, criação de filhos, embora tivesse alguns valores claros na minha cabeça e pensasse: se um dia eu for mãe, vou tentar fazer assim ou assado. Uma das centenas de coisas que eu não sabia é que o leite de vaca é bastante desfavorável para o organismo da criança. Claro que não mata, eu mesma sou uma aficcionada por derivados de leite. Não é disso que estou falando… Mas não faz muito bem não, porque não temos a enzima que processa seu componente principal. Aí você pode me dizer: “Ah vá, vá… As crianças tomaram isso a vida inteira e não deu nada de tão grave assim”. Sim, mas as crianças também apanharam na escola para ser educadas durante muito tempo e não é porque foi assim que precisava continuar. Mudar as coisas com base nos conhecimentos que vamos adquirindo é bem bacana, quem não muda de caminho é trem. E, pensando bem, nós somos a única espécie que têm o hábito de tomar leite de outra espécie. Pensei nisso pela primeira vez quando um dos padrinhos da Clara, um dia em casa, comentou: “Não tomo leite de vaca, não sou filhote da vaca. Que outro animal você vê tomando o leite de outro animal?”. Pô, nunca tinha pensado nisso, gente… A gente não vê macaco indo atrás do leite da cutia, por exemplo. E, como não gosto muito de especulação, fui atrás pra ver se havia fundamento mesmo nessa coisa de que leite de vaca não é muito bacana pra filhote de humano. E achei um monte de coisa interessante. Um dos artigos que encontrei diz, categoricamente: “Há quem afirme que o uso disseminado de leite não humano em crianças pequenas é o maior experimento não controlado envolvendo a espécie humana“. Caramba, bicho! Isso é meio teoria da conspiração, mas não deixa de ser interessante. Outra coisa que me fez pensar, também, e que eu nunca tinha parado pra analisar, era sobre quais os motivos que levam a OMS a incentivar a amamentação exclusiva até os 6 meses no mundo todo. Claro que tem a questão da proteção imunológica, do benefício nutricional que nenhuma outra fonte alimentar conseguiria suprir nessa fase, do vínculo afetivo que se estabelece. Mas tem uma coisa que eu também não tinha pensado: para centenas de milhares de crianças no mundo, essa pode ser a salvação contra a desnutrição infantil. Onde falta comida, ou dinheiro pra comprar comida, bebê que mama no peito tá salvo! Lógico que se a mãe não tiver muito o que comer também não será muito bom, mas já aprendi que o organismo materno é uma máquina de salvar gente, faz coisa que até Deus duvida. Quem me despertou pra esse pensamento foi meu namorado (que também é meu marido), que um dia levantou essa questão. Ou seja, reforçar nas comunidades mais pobres a importância da amamentação exclusiva é uma questão de saúde pública mesmo. Aquele mesmo artigo diz o seguinte: “A proteção conferida pelo leite materno contra mortes infantis é maior em crianças pequenas, exclusivamente amamentadas, residindo em locais onde há pobreza, promiscuidade, água de má qualidade e alimentos contaminados e de baixa densidade energética. Na Malásia, por exemplo, o número de mortes devido à alimentação com leite não humano de crianças menores de 1 ano foi estimado em 28 a 153 para cada 1000 crianças nascidas vivas, dependendo das condições sanitárias e do acesso à água potável”. Cacilds! É muito triste mesmo isso.Saindo do panorama “pobreza extrema” e indo pra uma situação financeira que possibilite comprar artigos que supram a ausência do leite humano, a situação é bem menos grave. Porque a mãe que não pôde amamentar, se tem consciência da importância da amamentação, vai atrás de outros recursos que possam suprir o déficit da ausência do leite humano. E acaba que muitas vezes também dá certo! Tá lá a criança saudável e feliz (claro que isso acontece se ela também vive num ambiente familiar saudável, acolhedor, com mãe psicologicamente preparada).
Só que tem uma coisa. Não adianta o Ministério da Saúde dizer: “ó negona, vai lá e amamenta”. Tem que dar respaldo! Tem que informar! Tem que ajudar! Tem que ter um super atendimento de saúde que ajude a mãe meeeeesmo. Porque eu tô falando isso? Porque agora muitos hospitais têm um serviço de aconselhamento de amamentação que, em alguns casos, conta com umas cavalgaduras dando orientação que era melhor que nem dessem. São irritadiças, bravas, nervosas, e falam com a mãe como se a coitada tivesse que saber, desde a infância, como se amamenta. Enfatizo, para os fios desencapados: não estou generalizando! Estou apenas constatando o que muitas mães já me contaram que passaram. Eu não passei por isso não, porque tive a bênção de ter comigo enfermeiras carinhosas, amorosas, delicadas, quase-mães. Mas tem mulher passando por isso sim. E aí já é um chute no saco que não temos, pra quem vai começar um novo – e queremos que seja – longo mundo de ser nutriz.
Também por isso, recomendo a leitura desse artigo que mencionei. Lá, a autora sugere que uma boa atuação no aconselhamento passa por “empatia, ou seja, mostrar às mães que os seus sentimentos são compreendidos”, “não usar palavras que soam como julgamentos, como por exemplo, certo, errado, bem, mal, etc.” e “sugestões ao invés de ordens”, entre outras recomendações. Se você não recebeu esse tipo de tratamento, saia do anonimato e meta a boca no trombone, pegue o nome da criatura e denuncie.
Autora desse artigo super bacana: Elsa Giugliani, doutora pela Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto e professora do Departamento de Pediatria da UFRGS. Título: “O aleitamento materno na prática clínica”. Clique aqui e leia quando puder. Lá tem um monte de explicações para coisas que todo mundo vive perguntando, como por exemplo: “mas por que você não dá a chupeta?!” e orientações salva-peitos, pra quando estiver tudo dolorido e parecer que depilação dói menos que dar de mamar.
Ensinando a pescar: esse artigo está livremente disponível na internet e eu encontrei fazendo uma busca. Todo mundo pode encontrar também.
Sabe por que eu estou falando de novo sobre esse assunto? Porque minha filha vai fazer 6 meses domingo e estou muito feliz por ela ser uma criança saudável, calma, tranquila, que não dá trabalho nenhum e eu nem sei pra quem ela puxou essas coisas, porque eu e o pai dela somos super agitados e meimalucos, embora tutti buona gente. Parabéns pra ela! Mas, puxa, parabéns pra mim também, que consegui manter o aleitamento materno exclusivo (água não conta né?) da Clara durante 6 meses! E consegui isso não porque eu seja uma super mulher, muito pelo contrário. Inúmeras vezes senti muito medo e comentei com minha família “ai carái, diminuiu o leite” ou “será que tá suficiente pra ela?” ou “será que vou conseguir manter a exclusividade mesmo voltando ao trabalho?”. E tenho consciência que só consegui porque muita gente me ajudou. Lógico, eu fui atrás de muita informação. Mas sem essas pessoas eu não teria conseguido: meu mais profundo agradecimento às minhas amigas enfermeiras que estiveram do meu lado, tirando dúvida, ensinando como se fazia, ensinando como armazenar, como tirar o excesso, como ser uma boa amamentadoura (nem sei se existe isso). E um
agradecimento mais que especial ao meu namorado (aquele, que é também meu marido – estou me preparando psicologicamente para trocar definitivamente o título, percebeu?). Eu sempre brinco dizendo que pra ele ser uma mãe pra Clara só falta dar de mamar. Mas às vezes nem isso falta, porque a amamentação exclusiva dela durante esse período só foi possível porque ele dá pra ela, com muito amor e carinho, o leitinho que eu deixo todos os dias quando me ausento algumas horas por dia pra trabalhar. Mostrando que amamentação é assunto de mãe – E DE PAI! Bota os nêgo pra ler coisa e te ajudar, fia! Porque afinal, a não ser que você seja uma minhoca, você não fez o filho sozinha.
Ah! Em tempo. Também quero deixar um agradecimento bem grande pro meu hipotálamo e pra minha hipófise. Beijo pra esses dois, que são os reais fodões! Porque o tanto de estresse que eles tiveram que administrar sem deixar que me faltasse a ocitocina e a prolactina nossas de cada dia, sem que deixasse que meu nervosismo bloqueasse a produção, não é uma coisa desse mundo.
A ilustração que eu amo, lá de cima, é da artista Sil Falqueto e você pode ver mais coisas dela aqui (sou fã, sou fã, e ela nem sabe).