Eu precisei fazer uma escolha muito difícil nessa semana que passou.
Me descabelei um tanto de vezes, na angústia de não saber se estava fazendo certo ou errado. Se a escolha atrapalharia ou facilitaria a minha vida. Se eu estava abrindo mão de algo ou me apoderando de algo. Mas tomei a decisão, escolhi e fui firme nela.
E aí, antes de dormir um dia desses, peguei uns livros pra folhear… E achei esse texto da Martha Medeiros.
O título dele é “Sorte e escolhas bem feitas

“(…)
Felicidade depende basicamente de duas coisas: sorte e escolhas bem feitas.
Tem que ter a sorte de nascer numa família bacana, sorte de ter pais que incentivem a leitura e o esporte, sorte de eles poderem pagar os estudos pra você, sorte por ter saúde. Até aí, conta-se com a providência divina
(não concordo totalmente. Acho que até aí, conta-se também com a dedicação, o trabalho e o esforço dos nossos pais…). O resto não é mais da conta do destino: depende das suas escolhas. Os amigos que você faz, se optou por ser honesto ou ser malandro, se valoriza mais a grana do que a sua paz de espírito, se costuma correr atrás ou desistir dos seus projetos, se nas suas relações afetivas você prioriza a beleza ou as afinidades, se reconhece os momentos de dividir e de silenciar, se sabe a hora de trocar de emprego, se sai do país ou fica, se perdoa seu pai ou preserva a mágoa pro resto da vida, esse tipo de coisa.
A gente é a soma das nossas decisões, todo mundo sabe. Tem gente que é infeliz porque tem um câncer. E outros são infelizes porque cultivam uma preguiça existencial. Os que têm câncer não têm sorte. Mas os outros, sim, têm a sorte de optar. E estes só continuam infelizes se assim escolherem
.”

Eu tive a sorte de nascer numa família de creizi pípul. Gente doida, mas gente bacana. Tive a sorte de ter pais que sempre incentivaram a leitura e o esporte. Tive a sorte deles pagarem meus estudos até quando puderam – e muitas vezes depois de não poderem mais… Eu tive a sorte de ter saúde. E tenho ainda.
Quando comecei a fazer escolhas por mim mesma, acho que as fiz bem (bom, pelo menos nunca nada de grave-gravíssimo me aconteceu).
Tive – e tenho – amigos bacanas, me livrei dos não tão bacanas, procurei usar apenas a boa malandragem (aquela que não prejudica nem a você nem ao outro – espero ter conseguido meu intento…), valorizo a grana na medida do saudável e tive muitos bons momentos na vida em plena crise financeira, corro sempre atrás e não desisto dos meus projetos, enfim, procuro fazer escolhas que não me levem ao assassinato ou ao suicídio, mesmo que metafóricos.
Mas momentos de escolhas, embora tenham dado certo, nunca foram muito fáceis pra mim…
Quer me ver desejando que um buraco se abra abaixo de mim é dizer: “Escolhe!”
Pra mim, esses momentos nunca foram fáceis. Esse muito menos.
Hoje, segunda-feira, 24 de maio, enquanto escrevo aqui, eu poderia estar na estrada rumo a Assis, interior de SP, pois estou inscrita em um concurso pra professor da UNESP que acontecerá entre os dias 26 e 28.
Não fui.
Desisti.
E eu nunca desisti de nada…
De nenhum desafio.
Essa foi a primeira vez na minha vida.
Mas quando vejo o motivo da minha desistência, penso que não desisti. Penso que só mudei a minha estratégia. E as minhas prioridades.
Estou com 7 meses e meio de gravidez. Meu corpo está cada dia mais dono de si mesmo e com vontade própria. E a Clara pode chegar, teoricamente, a qualquer momento.
Não posso mais voar. Teria que encarar 10 horas pra ir, 3 dias de estresse pesado, mais 10 horas pra voltar. 5 dias depois, eu teria que encarar tudo novamente, porque teria um concurso engatado no outro. E a Clara poderia sofrer nessa… Com meu estresse, com meu cansaço, com meu desgaste. E ao invés de ficar lá dentro os 9 meses inteirinhos, se preparando, vindo prontinha, ela poderia chegar antes. E eu nunca me perdoaria por isso. Então, fiz uma escolha. E escolhi a minha filha. Escolhi sem dar ouvidos a ninguém, somente ao meu coração, porque todo mundo pode dar a opinião que quiser… só você saberá o peso da escolha na sua vida. Ninguém viveu o mesmo que você, cada um tem uma história particular e o que deu certo pra um pode dar totalmente errado pra outro.
Foi muito angustiante o processo.
(se você acompanhasse meu processo de formação desde o início, entenderia o motivo da angústia; ainda mais aliado ao momento que estou vivendo agora…), mas agora estou tranquila, segura e feliz.

Estou inscrita em outro concurso, que acontecerá dia 07 de junho.
Ainda não decidi. Estou em processo.
E sobre esse, ainda está muito, muito, muito difícil decidir.
Essa noite sonhei que ela já tinha nascido. Que era bem cabeludinha, bem pequenininha, tinha uma boquinha bem vermelha e estava mamando no meu peito…
Talvez seja ela tentando me ajudar a decidir.

Eu tive a sorte de ter tido tudo aquilo que mencionei… Quero que a Clara tenha a mesma sorte. Que, no momento, passa pelas minhas escolhas. Como saber se estou escolhendo o certo? Nesse momento, “escolhi” um critério:
“Quando minha escolha é consciente, nenhuma repercussão me assusta. Quando não é, qualquer comentário me balança”. (José Eustáquio)

E agora começa uma semana lotada de coisas pra fazer, sem tempo pra nada. Parecer de tese, projeto pra enviar, curso pra preparar.
Mas estou feliz por ser assim.
Fui eu mesma que escolhi!

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