Será que eu já escrevi aqui sobre beleza feminina?
Bom, sobre aquela beleza de casquinha, aquela que funciona tal qual revestimento cerâmico que recobre um cimento riscado, com certeza não.
Essa de ficar valorizando o superficial, de julgar pela beleza externa, não é e nunca foi a minha praia – embora conheça muita gente que nada com verdadeiro  e indisfarçado prazer maquiavélico por tais águas…  Gente que se satisfaz destilando veneno analisando a beleza alheia e que nada tem de muito interessante a fazer na vida.
Mas sobre aquela beleza fruto da busca pelo autoconhecimento, da beleza fruto da superação dos desafios, da beleza advinda do empoderamento e da busca pelo domínio das rédeas da própria vida, daquela beleza, jinga e malemolência que só tem quem já ralou muito para ser quem se é, sim, escrevo sempre sobre.
Mulher nenhuma é mais bonita que aquela que batalha verdadeiramente por sua vida. Nenhuma. Essa tem um brilho típico no olhar. Tem um viço de pele que nada tem a ver com cremes anti-idade. Tem um rebolado orgulhoso e altivo de quem já deu vários, muitos bailes na vida. Tem um olhar de sobrancelha levantada de quem diz: “Você, benzinho… Não. Você não me engana com esse teu papinho”.
Isso sim é beleza.

Se você acha Luana Piovani linda, é porque não a viu pessoalmente.
Ele é mais que linda: é uma diva.
Mas acha que precisa defender o senso comum…

Então estava eu navegando pelo Facebook ontem quando me deparo com uma foto curiosa.
Luana Piovani e seu companheiro brincando na praia. O que me chamou a atenção: a cara de feliz dele,
como quem brinca com alguém de quem gosta e que não quer ser molhado pela água fria. Achei divertida aquela imagem.
A mim, transparecia diversão. Amor e diversão.
Foi então que li o texto linkado abaixo da foto.
Não,  eu não havia notado qualquer coisa além da imagem de aparente diversão. Eu não havia dado valor a celulites ou qualquer outra coisa além de um sorriso feliz de homem que brinca com quem gosta.
Boba eu? Não. Não boba. Mas é que celulite… gente… só não tem celulite na bunda quem não tem bunda ou quem acha que o photoshop é vida real.
E todo mundo tem bunda.
Até minha filha de 2 anos sabe disso.
Entrou hoje comigo em uma loja e gritou lá dentro: “Mãe, tem uma coisa na sua bunda!”, assim, bem alto.
Era um pedaço de fita crepe que surgiu sei lá de onde. Todo mundo olhou. Pra nós, não pra minha bunda. Se tivessem olhado pra minha bunda, paciência… todo mundo tem. Todo mundo tem bunda, todo mundo que quer amor de verdade tem bunda, já diria os Titãs.
Bom, mas aí fui ler o texto linkado abaixo da imagem e… nossa! Que texto maravilhoso!
Então hoje eu apenas compartilho aqui esse texto.
E sem comentários adicionais, porque o cara deu um banho.
Está na seção CULTURA, do O Globo.

LUANA PIOVANI NÃO GOSTOU
Por Joaquim Ferreira dos Santos

Olhamos as linhas do corpo, mas somos capazes também de ler nas entrelinhas
Luana Piovani leu a crônica da semana passada, um carinho sobre as mulheres que estão fora do padrão da beleza em cartaz. Não gostou. Criticou a sugestão do colunista para que o programa “Superbonita”, do qual é apresentadora, fizesse, na contramão do poema “Receita de Mulher”, de Vinicius de Moraes — aquele da beleza é fundamental —, um especial pacificador sobre a bobagem de se reprimir uns centímetros a mais nos culotes e outras aflições daquelas que o mundo tacha como feias. Luana Piovani respondeu pelo seu tambor preferido, o twitter:
“Sugestão declinada. Teremos sim programa para como se livrar deles. Precisamos de audiência e ninguém vai assistir a um pgm que incentive a inércia no duvidoso. Incentivamos a sua melhor versão. Todos temos! Agora, você me diz onde estão esses homens que curtem bunda mole com furinhos, a testa giga, barriguinha e cabelos crespos polvorosos pq no planeta q moro, homem tá mais vaidoso q a gente.”
Daí que peço licença aos leitores para hoje escrever diretamente a Luana, uma das mais completas e perfeitas traduções em 2013 do poema de Vinicius.
Querida Luana,
A versão mais bonita de uma mulher é aquela que aprendemos a admirar e, se me permite a simplicidade de incorporar a linguagem twitter, ter tesão. Vamos colocar a língua para fora e deixar escapulir o Einstein que nos habita. Esse negócio de “bunda mole” é muito relativo. Eu conheci uma moça que poderia ser enquadrada nessa categoria e, no entanto, noves fora a suposta flacidez, era linda. Ela se movimentava como uma dessas garças que o Vinicius fazia pairar sobre as árvores de suas poesias, um pescoço de dois metros, e aquilo era um espetáculo de soberba tão deslumbrante que só agora, Luana, provocado por suas palavras, percebo que talvez ela pudesse estar nessa categoria calipígia que você desdenha como um downgrade. No entanto, tal moça tinha borogodó. A soma do quadrado dos seus catetos dava o quadrado de uma hipotenusa fantástica. Fomos felizes assim. Eu estive ali, pertinho, e longe de qualquer acidez crítica, era-lhe só reverência e vassalagem.
De homem eu entendo, Luana, e não sou bobo de desdenhar da carne dura, da pele macia, da bunda desenhada a compasso e outros clássicos da mulher bonita. Mas nem sempre é possível tamanha poesia numa hora dessas. Tenho certeza que havia dois Vinicius de Moraes. Um sentava à escrivaninha, no tempo da caneta tinteiro, e escrevia sobre a necessidade de que os seios tivessem “uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca” e pudessem “iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas”. Outro Vinicius andava pelas ruas. Seguia as mulheres com os olhos, súdito servil em lhes encontrar outros tipos de graça. Era capaz de, diante de alguma de seios de expressão divertidamente cubista, pedir o favor de que lhe caíssem nas mãos, róseos, plúmbeos, da cor do azeviche ou do maracujá, e fizessem o favor apenas de apagar a dor, aquietar o espírito e pôr ordem na correria insana de uma vida de resto sem sentido.
Definitivamente, Luana, vida real é outra coisa. Não cabe na pauta do ótimo “Superbonita”. Ninguém precisa ser super em nada. Assim como você, também acredito que todos temos a nossa melhor versão e precisamos incentivá-la, mas o que se vê em geral é a tentativa de obrigar todas as mulheres ao mesmo padrão. Fazê-las correr obrigatoriamente atrás do cabelo chapinhado, das pernas musculosas e dos peitos com a centimetragem de uma bomba que vai daqui até o pé da página, mas apontando para o alto, claro, prestes a estourar nos olhos do freguês. Há quem dê preferência, mas existem homens com desejos mais sutis. Eu, a propósito, sou das antigas, e aproveito o ensejo para cantar Noel, aquele do “há tantas santas no mundo, que vivem fora do templo, santas de olhar tão profundo, você, por exemplo, você, por exemplo”.
Nada contra a mulher bonita. Desde a primeira que eu vi, aquela com dois baldinhos na lata do Leite Moça, eu dedico boa parte do meu tempo a trazê-las para dentro das minhas retinas, jamais fatigadas com tamanho espetáculo. Eu só queria dizer, Luana, que homens têm um padr
ão mais elástico do que o recomendado na pauta do programa. Podemos, sim, curtir uma “barriguinha, a testa giga” e outras delícias a serem declaradas no próximo programa como esteticamente incorretas. Mulheres são desdobráveis, dizia a linda poeta

Adélia Prado, e eu, mundano, já que a nossa pauta é outra, completo — elas são capazes de se redesenharem com um jeito de falar, uma maneira de silenciar ou uma promessa de queima de fogos ao se oferecer. Olhamos as linhas do corpo, mas somos capazes também de ler nas entrelinhas. Temos a força, como quer o desenho animado, mas ainda a espada da fantasia, a poesia da imaginação.
Qual de nós, diante daquele sorriso maliciosamente desengonçado, pediria, antes de se apaixonar, para avaliar, se duro ou com estrias, o bumbum da Diane Keaton?



No mínimo, o cara assistiu a  “Alguém tem  que ceder” e se apaixonou pelo filme tanto quanto eu…
No mínimo, o cara se apaixonou ou conviveu com alguém cuja celulite estava tão presente quanto o borogodó. 
Que me desculpem as “lindas apenas”.
Mas borogodó e tesão, mesmo que com celulite, são fundamentais.




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