Enquanto eu escrevia o post anterior, feliz da vida com as coisinhas quase prontas da Clara, sofria um dilema horrível e chorava um tantão…
Disse até, no final do outro post, que não conseguia falar sobre o assunto.
Antes mesmo de publicá-lo, chegou um e-mail falando exatamente desse assunto, e eu precisava acusar o recebimento dele.
Aí fui obrigada a falar sobre.
E aproveitei pra escrever aqui também, porque isso ajuda a organizar as minhas ideias. É a minha autoterapia.
Nós temos dois hemisférios cerebrais, o direito e o esquerdo, ambos ligados por uma estrutura chamada corpo caloso. Cada um dos hemisférios parece ser responsável pelo controle de um tipo de função cognitiva, digamos assim. Dessa forma, o hemisfério esquerdo controla funções mais analíticas, como o raciocínio, a organização, a lógica, um pensamento mais racional. Já o hemisfério direito controla funções mais abstratas, ligadas à imaginação, à intuição, à visão global das coisas. A imagem que eu coloquei acima ilustra mais ou menos isso. Existe também o conceito de dominância cerebral nos indivíduos, ou seja, cada pessoa teria um dos hemisférios como sendo o predominante, comandando prioritariamente seu modo de pensar. Seria mais ou menos isso: pessoas com tendências mais emocionais, poéticas, pictóricas, simbólicas, teriam como dominante seu hemisfério direito. Já os mais analíticos, metódicos, organizados, racionais, teriam o esquerdo como dominante. Hoje já se sabe que não é exatamente assim que funciona, embora a ideia geral ainda seja válida. Algumas profissões, inclusive, requerem pessoas que conseguem, justamente, integrar bem as duas capacidades cerebrais, unindo, por exemplo, método e organização à intuição e à visão global. Acredito que um bom cientista deve ter exatamente essa característica…
Enfim.
A questão é: sou um ser que procura equilibrar a função dos dois hemisférios, colocando meu corpo caloso pra trabalhar pra valer, integrando as duas funções – ou procurando fazer isso…
Acontece que de vez em quando dá pau no sistema.
Os hemisférios não se entendem, não chegam a um acordo, brigam ferrenhamente de porrada mesmo e quem sofre com isso sou eu, essa pessoa que fica logo abaixo deles. Nessas brigas, me sinto dividida e tenho grande dificuldade em tomar uma decisão e ir em frente. Consigo ver os prós e os contras de cada lado, analiso globalmente, tento ouvir minha intuição, seguir o coração. É quando meu hemisfério cerebral direito fica feliz. E o esquerdo triste. Aí vem o esquerdo me mostrar a realidade, fazer comparações metódicas, lembrar meus objetivos racionais de toda uma vida, apitar sirenes e alarmes reais. É quando ele fica feliz, e o direito triste. Em geral, eles entram em acordo e apertam as mãos. Mas tem horas que eles brigam feio e dizem que não vão mais discutir o assunto, me deixando aqui em pânico, chorando.
Eles fazem isso de vez em quando comigo.
E é um saco.
Queria ser racional o suficiente pra sair chutando as emoções. Ou emocional o suficiente pra dar uma bica na razão. Mas tenho a maldita mania de ouvir ambas as partes.
Bem, o fato é que enquanto o e-mail estava ali aberto na minha frente me vendo descabelar, eu conversava com a minha mãe e com meu namorado. Ambos me mostrando argumentos, cada um à sua maneira, sobre a decisão que parecia melhor a ser tomada.
Ele me dizia que eu estava pensando na bebê, que não estava sendo irresponsável nem abandonando minha carreira, que outras chances iriam aparecer e tals…
Ela me dizia que concurso é feito carnaval, todo ano tem, mas que cada coisa que eu vou viver com a minha filha não é no mesmo esquema de “todo ano tem”. Passou, tá passado, não volta mais.
Aí ela sugeriu que eu respondesse assim o e-mail (porque ela é meio desbocada sabe, muito parecida comigo): “Digníssima comunidade científica: agradeço pelo comunicado mas informo que, nos próximos meses, estarei ocupada, vivendo o que vocês estudam teoricamente, a vida… Beijos e a gente se vê pelaí… Beijos
É claro que eu não respondi assim né? Mas ri bastante na hora… O que já foi de uma ajuda incrível, porque pelo menos eu parei de chorar momentaneamente.
Deixei o e-mail lá aberto e fui pegar um papel higiênico pra limpar o citoplasma de todas as minhas células que pareciam querer sair pelos buracos do nariz.
Fiquei andando um pouco aqui pela casa, tentando me acalmar, sozinha.
Aí voltei e respondi o e-mail.
Dizendo:

Gente, estou muito triste por não ir, muito mesmo. Choro cada vez que penso nisso. Mas infelizmente não vou mesmo. Estou grávida de 8 meses. Se eu for, posso estressar muito minha bebezinha. Então não vou. Estou sofrendo muito. Mas com esse sofrimento eu posso conviver. Com o dela não. Se, por acaso, vocês quiserem mais algum professor no ano que vem, por favor me chamem. Prefiro me acabar de chorar aqui do que ouvir o choro dela antes do tempo, com o pulmãozinho chiando. Um grande abraço! PS: por favor, peçam para o professor Amabis deixar o autógrafo dele pra mim que eu pego assim que puder ir pra São Paulo e digam pra ele algo que nunca disse pra ninguém porque acho super brega: EU SOU SUA FÃ! E no próximo, quero uma banca tão poderosa quanto, hein? Porque comigo é assim: ou bate com força pra me quebrar ou não bate. Inté mais vê. Ou não.

Claro que eu não respondi isso… Mas disse que não vou. O que dá na mesma…
Eu poderia discursar agora sobre como estou me sentindo uma ótima mãe tendo ouvido o hemisfério direito. Sobre como isso está me fazendo sentir responsável e amável e exemplável (criação minha essa). Mas não vou.
Porque estou me sentindo uma bosta…
Esse sentimento bostístico é influência do meu hemisfério esquerdo, que sempre tentou ser dominante na minha vida, sei disso… No momento, ele tá puto e se retirou. Se trancou no quarto e disse que não vai sair por um tempinho… que é pra eu nem tentar falar com ele. Mas eu conheço esse cara de longa data. Daqui a pouco ele melhora e sai querendo organizar tudo de novo. E mandar em mim. Sei lá, acho que ele é leonino.

Ó, não deixe de ver o videozinho abaixo, aí no outro post…

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