Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia.
Verdade verdadeira essa frasezinha da música do Lulu. E isso eu percebi nesse 1 mês de vida da Clara…
Tantas mudanças que eu acho que o tal do blues, que pega as recém paridas, nada mais é que o cérebro começando a processar a transformação total que acontece com a gente. Transformação de horários, de preocupações, de corpo, de prioridades, de sono, de apetite, de rotina, de hábitos, de concentração, de audição, de força no andar, de volume de voz, de emoção, de tudo.
De horários porque aquela vida que cabia dentro de certos horários já não existe mais… e o novo cronograma também ainda não está definido dentro desse primeiro mês. Eu acordava, arrumava a cama, já tinha o dia todo planejado na cabeça (mesmo quando não se tinha nada importante pra fazer), sabia mais ou menos quando comer, quando tomar banho, quando sair pra fazer as coisas, quando cada coisa poderia acontecer. Agora, cada minuto é uma surpresa.
Transformação de preocupação porque as velhas ainda permanecem, mas surgiram umas que a gente, mães novas, nem fazia ideia de que poderia existir.
De corpo porque, obviamente, tudo vai voltando aos poucos pros seus lugares (é rezar pra isso, pelo menos…). A nova mãe vai emagrecendo, perdendo o que ganhou durante os 9 meses, e isso gera um pouco de ansiedade. Mas é legal ver a balança diminuindo seus ponteiros a olhos vistos. É legal também voltar a usar roupas que não serviam mais, é como se você adquirisse um novo guarda-roupa. E também tem aquelas que ainda não servem, que vão servindo de estímulo pra continuar na maratona “sai desse corpo, gordurinha mala, que não te pertence!”. Às vezes, dá uma desanimadinha ver como é lento o processo, mas tem que ter paciência – que parece ser a frase símbolo do momento, inclusive. A barriga já vai voltando pro lugar, embora ainda tenha a linha negra nela, que vai demorar ainda um pouquinho pra ir embora. Eu olho pra linha hoje e me lembro de quantas vezes eu olhei pra ela e pensei: meu nenê tá aqui dentro…
Mudança de prioridades porque, antes, as quase-mães sempre pensavam em si em primeiro lugar. Era a sua fome, o seu sono, o seu cansaço, o seu descanso, o seu banho. Agora é a fome do filhote, o sono do filhote, o cansaço e o descanso dele, o banhinho dele. O que é ótimo, porque se tirar do centro dá uma outra perspectiva, muito mais ampla por sinal, pra vida. E saber que tem alguém que depende EM TUDO de você, é uma coisa muito especial. E dá uma motivação ainda maior pra querer fazer tudo bem feito.
Transformação de sono… essa é autoexplicativa, né? A madrugada de uma recém-mãe muda totalmente. A gente dorme picadinho e não é mais aquele sono profundo. Ao menor barulhinho, lá estão os olhos abertos e o corpo levantado, quase que automaticamente, em alerta pra ver se o filhote não está pra ser atacado por um ser devorador de filhote dos outros. E tem também o acordar pra dar de mamar… Esse dá um capítulo a parte. Pega o filhote, dá o peito, espera ele mamar tudinho, fica ali babando (de amor e de sono), às vezes hipnotizada e se perguntando “Como pode ser tão linda, meu Deus?”, ainda mais quando o filhote segura no seu indicador enquanto mama e te olha com olhinhos de “Que gostoso, mamãe…”. Aí levanta o filhote, põe pra arrotar, espera um tempo indefinido por isso (às vezes acontece antes mesmo de dar o primeiro tapinha nas costas, às vezes não acontece e, nesse último caso, a nova mãe fica paranóica…). Aí coloca o filhote pra dormir de novo e tenta voltar a dormir… pra acordar novamente dali a poucas horas e dar leitinho pra pequena gente que tá ali do seu ladinho. Isso se você tiver uma sorte megaseníaca do filhote dormir logo depois de mamar… Porque existem filhotes que gostam da madrugada como seus pais e resolvem cair na balada depois de mamar. E aí é um pegapacapá, um vucovuco, um tal de balançar, ninar, cantar até jingle de propaganda de farmácia, revezar “um pouco o pai, um pouco a mãe”, botar pra dormir no peito, uma loucura… Aqui, a opção botar pra dormir em cima do peito, seja do papai ou da mamãe, tem se mostrado a mais sedativa e calmante… Mas aí o dia já amanheceu. Sorte de quem, como nós, tem a possibilidade de flexibilizar o seu horário e tirar a manhã pra repor o sono perdido da noite. Mas eu fico pensando nas famílias que batem ponto e que não têm outra opção a não ser levantar e partir pra vida, ostentando uma bela máscara de urso panda, com olhinhos fundos e negros… E salve o Chronos, o Renew, o qualquer creme, desde que seja “para a área dos olhos”.
E mais um monte de tranformações… A gente passa a ter ouvidos supersônicos e a ouvir o chorinho mesmo quando o filhote está longe. E também passa a alucinar, ouvindo choros quando eles nem aconteceram… Aí é um tal de correr pra acudir e encontrar a criatura no sétimo sono do Morfeu. Tem também a mudança na forma de andar, agora na ponta dos pés, pra que o filhote não acorde e não assuste… que coisa mais dó do mundo é filhote acordar assustado. Tem mudança no tom da voz – ainda mais pros papais e mamães que são conversadores e escandalosos – ouvi falar que existem pessoas assim…
Quando se é meio estabanadinha, parece que o quesito estabação (existe isso?) fica mais evidente ainda. Porque o filhote tá lá dormindo e você deixa cair tudo o que existe na face da Terra e que vai parar na sua mão. Aí é um tal de encolher ombros, fechar os olhos, ficar imóvel e rígida e rezar pra Santa Clara pra que não tenha acordado a filha, acompanhado, logicamente, por um SHIIIIIIIIUUU do papai, ou da mamãe.
Um mês parece pouca coisa, mas é muito. Um mês parece muito, mas é pouca coisa.
Em um mês, ela cresceu, engordou, começou a fazer barulhinhos com a voz, já nos segue com os olhinhos, já perdeu roupinha e mudou o tamanho da fralda (mas aprendi que depende da marca). Já cabe em roupinhas que não cabia antes, já encara a gente querendo conversar, já desenvolveu uma paixão por andar de carro (outro poderoso sedativo, junto com o caminhar dentro do sling) e já mostra expressões “essas são da mamãe”, “essas são do papai”. Já aprendeu que tomar banhinho em água quentinha é uma delícia, mas que sair de lá é o apocalipse, ou uma tentativa de assassinato, pelo tamanho do choro.
Um mês parece pouca coisa, mas é muito. Um mês parece muito, mas é pouca coisa.
É pouco perto do tamanho do meu amor por ela.
É muito quando penso que ela já foi um grão de arroz.
É pouco perto do tanto que eu quero tê-la ao meu lado.
É muito quando eu vejo que ela tá crescendo rápido.
Um mês de Clara foi o mês mais off road que eu já vivi, cheio de aventuras, de surpresas, de imprevisibilidades, de intensidade.
Mas foi o mês mais incrível da minha vida. Olhando essa carinha linda, esses dedinhos pequenos, esses pezinhos gordinhos e essas perninhas que já foram magrelas e agora estão ficando cheinhas.
E pensando: meu Deus… tudo isso se fez dentro de mim!
Por mais que se entenda de biologia, tem coisa que a gente nunca vai conseguir assimilar… Que a minha filha, hoje com 56 cm e toda rechonchuda, tenha sido feita dentro de mim é uma delas.
Você já foi à Bahia, nêgo? Não?! Tem que ir, tem que ir…
Você já teve um filho, nêgo? Não?! Tem que ter, tem que ter…
Lá em cima, soninho no dia de mesiversário.
Lá embaixo, videozinho de poucos segundos que a mamãe fez, com a câmera virada do lado errado, mas fez…
PS: esse mês foi tão importante, que eu estou criando um novo blog. Mas esse novo blog está sendo criado com calma e carinho. É filho do Intensa, a Mente. E, como todo filho, sempre sai aperfeiçoado… Logo logo, esse novo blog vai substituir esse aqui. E aí será um blog de duas. Não mais de uma só. Bom isso, ser pra sempre duas.