Quando nós, que fazemos parte do movimento pela humanização do parto no Brasil, trouxemos o termo “violência obstétrica” de nossas hermanas venezuelanas e começamos a empregá-lo aqui no país, muita gente achou que era uma grande bobagem, um exagero, uma coisa inexistente, uma injustiça com uma especialidade médica. Seis anos depois, não só é uma expressão aceita, reconhecida e legitimada como temos uma boa quantidade de material a respeito, projetos de lei, ações coletivas, ações jurídicas, documentários, e foi também para que tivéssemos mais material sobre o tema que fiz meu segundo doutorado, com a tese intitulada “Ameaçada e sem voz, como num campo de concentração – A medicalização do parto como porta e palco para a violência obstétrica”. Já avançamos em sua discussão a ponto de reconhecê-la como uma violência não de categoria profissional mas de toda a assistência, e nossos desafios agora são promover a qualificação pública do debate, levar esse tema a todas as mulheres, criar canais consistentes de denúncia e punição, e legislar para coibir sua prática. Foram menos de 7 anos de uso da expressão no Brasil, num contexto de 30 anos pela humanização da assistência obstétrica.

Pois é tempo de falarmos de uma outra forma de violência, também relacionada ao processo de medicalização social, que também tem feito vítimas e, mais uma vez, vítimas duplas: a mãe (na imensa maioria dos casos) e a criança: a VIOLÊNCIA PEDIÁTRICA. Quem quiser substituir a reflexão crítica sobre o tema pela defesa irracional de profissionais, fique à vontade. À semelhança do início do uso da expressão “violência obstétrica”, isso não vai impedir o avanço do debate. A verdade – e temos centenas ou milhares de mães para comprovar – é que mulheres e crianças estão sendo violentadas todos os dias em consultórios pediátricos. Todos os dias. Sem distinção de fonte de financiamento, se privado ou público. E das maneiras mais torpes. São agressões verbais, desqualificação das mulheres mães, julgamentos de formas de vida, orientações de desmame precoce, sugestões de uso de violência contra a criança, informações errôneas muitas vezes transmitidas de maneira intencional, ironias, reprimendas, humilhações, arrogância médica e muitas outras formas de violência diariamente relatadas como tais por mulheres mães, que são as cuidadoras que com mais frequência levam as crianças às consultas.

Hoje eu relato um caso. E se você também já passou por situações de maus tratos e/ou de violência praticada por pediatra, te convido a também contar o que viveu. Aqui há um formulário que você pode preencher para que tenhamos uma ideia aproximada do que mães e crianças estão vivendo no interior de alguns consultórios de pediatria.

Chegou até mim uma carta escrita por uma mãe e endereçada à pediatra de sua filha. Consegui o contato dessa mãe e tive a oportunidade de conversar com ela sobre as violências que viveu no consultório desta pediatra, sobre o conteúdo da carta e sobre os motivos que a levaram a escrevê-la.

Viviane Bandeira mora em Teresina, capital do Piauí, é mãe de duas meninas, uma de 3 anos e outra de 8 meses, levou a caçula a uma consulta pediátrica e, segundo ela, nunca havia vivido nada parecido.

"Na primeira vez (primeira consulta da minha filha com ela, quando tinha seis meses de idade), ela me crivou de perguntas, mas não ouviu nenhuma resposta. Examinou minha filha rapidamente, pediu que minha mãe saísse do consultório para falar a sós comigo e me julgou cruelmente por minha filha frequentar a creche desde os três meses. Toda a tortura durou, no máximo, 15 minutos, mas me deixou destroçada… Saí da sala tentando parecer forte, já que minha mãe estava preocupada com o ‘chiado’ que minha filha tinha no peito. No dia seguinte voltei, com meu marido, para a médica me ensinar a usar a bombinha com o espaçador. Alexandre já foi zangado, porque viu meu estado no dia anterior. Mas fomos metralhados de novo. Ela se recusou a ensinar a ele, porque não confia em pais. E ainda me perguntou se eu não passo sequer um tempinho com minha filha, durante o dia, para ser capaz de dar o remédio a ela. Na última vez, dia 1º. de agosto, o retorno com exames não durou mais que cinco minutos, tempo em que ela examinou a criança, se recusou a olhar exames que outra médica prescreveu e diagnosticou que a doença da minha filha é ser ‘criança de creche’. Ah! Ainda deu tempo de, novamente, soltar julgamentos".

Perguntei à Viviane como ela se sentiu enquanto a médica a tratava dessa maneira cruel.

“Na hora, e depois, e sempre, até agora, sinto um peso infinito no peso. Uma culpa, uma tristeza, desânimo. Eu me sinto destruída, zangada comigo mesma. O curioso é que sou conhecida por não aguentar desaforo, por ser ‘desaforada’, ainda que com bom humor. Dói não ter sido capaz de responder. Dói ter ficado ali, escutando, sem nem conseguir articular um pensamento sequer para responder. Racionalmente, sei que minha filha tem APLV (alergia à proteína do leite de vaca) e refluxo e que, tratando o refluxo como estamos, a tosse tem diminuído e o chiado já desapareceu, o que significa que o diagnóstico dela está errado. Racionalmente, eu sei de todas as minhas motivações, eu conheço a mãe que sou, com falhas, e com acertos também. Mas isso tudo é racionalmente. Porque emocionalmente, aquela médica plantou em mim uma culpa que não se apaga, um olhar triste para mim e para a vida. Uma descrença em minha capacidade como mãe. Não sou mais a mesma. E me dói ver, depois de ter escrito, quantas mulheres vieram falar comigo por e-mail ou em mensagem privada, acertando de cara o nome da médica e contando o que viveram. Dói saber que tem uma infinidade de famílias que sente essa dor todos os dias, naquele consultório. E às vezes dói pensar em que dores essa médica vive para refletir tanta amargura…”

Viviane escreveu a carta, que segue abaixo, para tentar aliviar sua dor. Para dizer o que não conseguiu falar no consultório. E por medo de que se sentisse novamente paralisada frente à pediatra – reação absolutamente natural frente a um agressor – e não conseguisse dizer o que desejava. Sua intenção ao escrever foi mostrar como se sentiu, com a esperança de que a profissional em questão pudesse reavaliar sua conduta, poupando assim outras mulheres e crianças. Viviane entregou a carta no consultório, nas mãos da atendente, e também a encaminhou ao plano de saúde, solicitando que providências fossem tomadas. Viviane também está disposta em levar o caso à Agência Nacional de Saúde Suplementar, caso seu plano de saúde não tome providências satisfatórias. E deixa um recado a todas as mães que passam por situações de violência moral ou verbal nos consultórios pediátricos:

“Não podemos nos calar. Nunca. Temos que falar. Temos que nos fazer ouvir. E temos que nos ajudar. O apoio que tenho recebido, nesse caso, tem sido fundamental. Acredito que a dor de uma mãe é a dor de todas as mães. Só nós sabemos o que é ser mãe. Só nós sabemos como erramos tentando acertar. Só nós sabemos de nossas escolhas e suas dificuldades. Por isso é importante falar. Para que não se repita. Para alertar outras mães, para nos apoiarmos mutuamente”.

Abaixo, segue a carta que Viviane escreveu. E reforço o convite para que você, que viveu algo parecido ou outra forma de violência por parte de profissionais da pediatria, compartilhe com a gente sua história. Nós já mostramos inúmeras vezes que falar sobre o vivido ajuda a reorganizar a história, ressignificá-la,  fortalecer-se, sentir-se apoiada e ter coragem para agir. Mulheres precisam de um lugar para falar, para serem ouvidas e acolhidas. Chega de silenciamento. O formulário ficará aberto a respostas por tempo indeterminado. E fica meu incentivo a pesquisadoras da área das ciências sociais e da saúde para que comecem a investigar o tema, a ouvir as mulheres, a falar  sobre esse assunto. Se é a mudança da qualidade da assistência às mulheres e às crianças que buscamos, isso precisa ser feito. Fica a ideia aí para futuros TCCs, dissertações de mestrado e teses de doutorado. E para ações jurídicas que visem coibir esse tipo de prática.

“Prezada Dra. XXXXXX,

Há cerca de um mês e meio, nós nos vimos pela primeira vez. Eu, mãe aflita, levei a minha filha caçula, de pouco menos de seis meses, para uma consulta. O quadro era de tosse frequente, chiado no peito, vômitos. Minha filha estava doente. E eu, angustiada, com coração apertado.

Você havia sido muito bem recomendada por colegas seus, também médicos, mas de outras especialidades. Embora dois pediatras e a gastro tivessem me dito reiteradas vezes que o quadro da minha filha era comum em crianças com APLV (o que é o caso dela), ainda assim eu quis para a minha filha o melhor. Eu quis levá-la até você. Eu confiei nas recomendações que recebi. Confiei em sua perícia. Esperei encontrar em seu consultório não apenas o diagnóstico, a prescrição e o tratamento, mas também o auxílio, o acolhimento que toda mãe com filho doente espera encontrar num profissional de medicina.

De fato, encontrei diagnóstico, prescrição e tratamento. Mas encontrei também a mais severa juíza. O mais cruel inquisidor.

Você me encheu de perguntas. E não parou para ouvir nenhuma de minhas respostas.

Não quis saber o histórico de minha filha. E quase me crucificou porque a minha criança frequenta a creche desde os três meses. Você não quis entender a dinâmica de minha família. Não escutou quando tentei explicar porque optamos por não contratar babá. Você não ouviu que não temos alguém da família com quem deixar nossa filha enquanto trabalhamos. Nunca esquecerei o seu olhar, o seu tom de voz.

Jamais se perderá de minha memória a sua sentença, que para mim soou como um fuzilamento. “A casa em que essa criança mora deve ficar o dia todo aberta. Essa criança não deveria usar corticóide, mas como você não vai tirá-la da creche, vou ser obrigada a prescrever. A sua filha é um bebê chiador. Provavelmente ela vai ter asma. Vai viver o tempo inteiro assim, com corticóide. Eu estou tentando tirar sua filha da crise”. Cada palavra sua foi uma punhalada em mim. E em cada palavra, mesmo sem dizer expressamente, você deixou claro que só havia uma culpada pelo quadro de saúde da minha pequena: eu.  

Eu, a mãe incompetente. A mãe que matricula uma filha na creche, quando deveria estar em casa com ela. A mãe que trabalha o dia inteiro e – por isso – deixa a casa fechada. Eu, a mãe desnaturada que não contrata sequer uma babá para ficar em casa com a filha. E como minha filha não pode trocar de mãe, ela viveria doente.

Eu me lembro de cada palavra. Lembro a frieza do seu olhar. Lembro a minha solidão ali, naquela sala, olhando pra você, privada da companhia da minha mãe, que tinha ido comigo à consulta, mas foi convidada por você a se retirar do consultório após o exame da minha pequena.

Aqueles poucos minutos da consulta foram suficientes para você fazer o diagnóstico não da minha filha, mas de toda a minha vida. Suficientes para me desqualificar como mãe, como mulher, como pessoa.

Lembro que a minha vontade, ao sair do consultório, era abraçar a minha filha longamente e chorar. Mas eu não podia. A mãe irresponsável e desnaturada que sou precisava ir à farmácia, comprar os remédios prescritos, e ainda manter a calma diante da criança e de sua avó, alarmada com o que eu – também filha – trazia no olhar.

Certamente você não se deu conta de nada disso. Não percebeu o impacto de suas palavras e de sua atitude. O contato comigo foi apenas mais um, naquele dia de tantas consultas rápidas.

No dia seguinte, como determinado por você, eu fui novamente ao consultório. Meu marido foi junto. Sabia o quanto eu estava destruída pelo dia anterior. Eu confiava que aquele primeiro encontro tinha se dado num dia ruim para você. Que nós nos veríamos e eu descobriria humanidade na médica que me ensinaria a usar um espaçador com a minha filha.

Na sua primeira frase, a esperança ruiu. De novo, você imprimiu cada fonema em minha lembrança de forma indelével. “Eu vou ensinar você a usar. Não vou ensinar ao pai. Só confio na mãe para dar remédios”. Quando eu, timidamente, disse que você teria que confiar no pai, que um de nós dois daria o remédio à minha filha, você, cortante: “Esse remédio tem um protocolo, só uma pessoa pode manusear. Ou é você, ou ele. Dar remédio é coisa de mãe. Você não fica nem um pouco de tempo com sua filha, que possa dar um remédio a ela?”.

Você certamente não sabe o quanto foi cruel. Desumana. Provavelmente, aquele foi um dia normal, com conversas normais. Orientações que você, todo dia, dá a mães tão angustiadas quanto eu. Provavelmente, muitas delas saiam da sua sala como eu, destruídas, violentadas.

Eu não sei como é a sua vida. Não sei que tipo de relacionamentos você vivenciou, presenciou ou teve referências. O que eu sei, doutora, é que não é humano falar assim com uma mãe, com uma família. Não é humano sentenciar como errado o modo de vida de outra pessoa.

Eu não sei por que você não confia em pais para ministrar remédios aos filhos. Sei que você deve ter suas razões, mas peço que – da próxima vez em que uma família for ao seu consultório, você tente olhar um pouco fora de suas referências, fora da caixa. Há pais – como o meu marido – que não são bibelôs de decoração na casa, mas pais de verdade, que participam de tudo na vida dos filhos, inclusive dos momentos de dar remédio, comida banho, etc.

Eu sei que você é mãe. Imagino que, como mãe, teve que fazer escolhas. Imagino também que, como médica, você receba cobranças sociais de toda sorte. Por isso peço que tente sair da pose de autoridade que você assume no consultório e tente enxergar as mães que procuram sua ajuda.

Talvez você nunca tenha vivenciado a aflição de ver um filho doente, buscar ajuda e encontrar julgamentos. Ou talvez você seja tão julgada que – sem perceber – reproduza esse julgamento com as mães de seus pacientes. Não sei. Não sou capaz de julgar.

Mas peço que você faça um exercício de se colocar no lugar das mães que a procuram. Imagine, por exemplo, que um de seus filhos esteja indo mal na escola, não consiga aprender determinados conteúdos. Você, então, procura a escola, em busca de ajuda da equipe pedagógica. No lugar da ajuda, você recebe um sonoro “seu filho não aprende porque você não o acompanha, porque começa no consultório às 12h30. Você não consegue passar um tempo com seu filho para ajudá-lo a aprender?”. Conseguiu imaginar? Isso doeria?

É isso o que você faz com as mães de seus pacientes, só que de uma forma mais grave, porque você imputa a essas mulheres a culpa pela doença de seus filhos. E sim, eu agora estou julgando o seu comportamento, a partir não apenas do que vivi no seu consultório, mas também de relatos de outras mães, na sala de espera. Não vou repetir esses relatos aqui, porque falo apenas por mim, pela minha dor.

Na última vez que nos vimos, dia 1º de agosto, você simplesmente desconsiderou alguns exames que levei, apenas porque não foi você quem os prescreveu. Você desconsiderou a possibilidade do resultado de um deles (o do refluxo) ter influência no quadro de tosse da minha filha. De novo, você foi taxativa: “a doença dela é de creche; gripe; enquanto estiver na creche, vai viver assim, de nariz escorrendo”. De novo, o som cortante, julgador, de sua voz em minha mente.

Quero deixar claro que não estou desqualificando seu conhecimento como médica. Longe disso. Você tem muito conhecimento, tem ótimas referências. Mas, lamentavelmente, falta-lhe o conhecimento emocional. A humanidade de olhar cada criança que entra em seu consultório como o que – de fato – ela é: uma criança. Você vê os sintomas, a doença. Não enxerga a pessoa.

Eu não sou médica. Sou professora e jornalista. Convivo profissionalmente desde os 16 anos com diversos tipos de pessoas e suas famílias. Já trabalhei em escolas de classe alta e em escolas de periferia; em jornais e assessorias. Aprendi a ver pessoas, falar com pessoas, não com alunos, fontes ou assessorados. Não sou perfeita. Como profissional e como mãe, tenho muitas limitações.

Num mundo ideal, eu poderia ficar o dia inteiro com minhas filhas, sem precisar trabalhar nem levá-las à creche ou à escola. Num mundo ideal, você também poderia fazer isso.

Eu poderia – no mundo real – contratar uma babá e manter meu bebê em casa, é verdade. Mas por um sem número de motivos, babás não são opção para a minha família. Quero deixar claro que digo isso não para me justificar – até porque não preciso, mas para que você pense um pouco sobre a dinâmica de cada família. A dinâmica da sua família, inclusive. Com quem ficam seus filhos, quando você vai trabalhar? Eles nunca adoecem? Não sentem sua falta e nem você a deles? Manter sua vida profissional diminui você como mãe, faz de você uma mãe ruim?

O que quero dizer, doutora, é cada família sabe de si; age com o melhor para si. A minha e a sua são assim. Perfeitas em suas imperfeições.

Quero pedir que você seja mais humana. Que olhe para as pessoas que buscam sua opinião sobre um quadro de saúde. Que dedique mais que os cinco ou dez minutos de uma consulta de retorno para avaliar a evolução de um paciente. Que tenha menos julgamentos, menos dureza no olhar.

Se não for pedir muito, quero que lembre diariamente o juramento que fez no dia de sua formatura; o idealismo que aquela jovem médica certamente guardava. Quero que tente ver em cada paciente seu filho, doente; em cada mãe, você mesma, em busca de auxílio.

Porque quando uma mãe leva o filho ao médico, doutora, ela procura um médico de verdade, competente, sério, comprometido e – sobretudo – humano. Um médico que olhe para suas aflições e a acalme. Um médico que a faça sentir forte para enfrentar a doença do filho.

Nenhuma mãe precisa ser julgada. Nenhuma mãe precisa sair de um consultório fraca, culpada, destruída. Nenhuma mãe precisa de tanta desumanidade.

Eu a procurei porque me disseram que você era a melhor da cidade em sua especialidade. Eu a procurei porque tento dar sempre o melhor para minhas filhas.

Mas eu não encontrei a melhor médica. Eu encontrei uma juíza implacável. Provavelmente, também não sou a melhor mãe de paciente, você deve estar pensando. Não sou mesmo, nem desejo ser. Apenas desejo que a minha dor, externada nesse longo desabafo, faça você refletir e mudar seu comportamento com as mães que, como eu, pensam em você como a esperança para a saúde dos filhos.

Desculpe por tomar seu tempo.

Seja feliz”.

Viviane Bandeira

 

CONTINUE APOIANDO A PRODUÇÃO DE INFORMAÇÃO INDEPENDENTE! Seu apoio ajudará a remunerar mães escritoras para que elas continuem a produzir informação para todas nós. VEJA AQUI QUAIS TEXTOS ESTÃO EM PROCESSO DE FINANCIAMENTO COLETIVO! OU TORNE-SE UMA ASSINANTE DA PLATAFORMA!

***************************************************************

Conheça o novo livro de Ligia Moreiras Sena, "MULHERES QUE VIRAM MÃES"Lançamento aqui!

 

 

Leave a Reply