Há 1 ano atrás, eu estava a 14 dias de entrar em trabalho de parto e a 15 dias de receber minha filha, embora não soubesse disso. Estava me preparando para recebê-la em casa, num parto domiciliar muito desejado, assistida e apoiada pelas enfermeiras da Equipe Hanami.
O dia 29 de julho chegou e, com ele, chegaram as primeiras de muitas contrações. Foram 29 horas de trabalho de parto em que vivenciei intensamente cada contração como um passo a mais em direção à minha filha. E um parto que não pôde ser domiciliar por desproporção céfalo-pélvica, já que ela nasceu com uma cabecinha, digamos, tamanho Extra G, com seus “um pouquinho mais” de 37 cm de perímetro cefálico.
Não pude ter o parto domiciliar que eu queria, embora tenha sido respeitada, amparada, cuidada e assistida em minha cesárea, pela equipe de plantão – que respeitou todos os meus desejos, todas as minhas exigências, respeitando a mim como mãe, mulher, parturiente – e amparada pela enfermeira Tânia, pra quem hoje a Clara não pode ver que joga um sorrisinho fofo. Ela sabe, ela sabe…
Demorei um certo tempo pra processar o fato de que as coisas não haviam saído como planejado.
Mas transformei a experiência na maior força motriz que eu poderia viver. Só quem sabe como teria sido importante para si a experiência de um parto normal pode lutar como toda convicção para que outras mulheres possam vivê-la plenamente, porque a gente sabe como é importante ser respeitada.
Depois de processar o sentimento estranho que ficou e transformá-lo em atitude, em pró-ação, em ideal e filosofia, percebi que, no fim das contas, não viver o que eu queria era tudo de que eu precisava.
Talvez, se eu tivesse tido o parto domiciliar para o qual me preparei, não desse tanto valor à experiência em si, por achá-la “natural”. Não sei se consigo me fazer entender como gostaria… Mas tendo passado por outra experiência, a despeito de querer tanto a primeira alternativa, sei como é importante. E quero que outras mulheres despertem para isso.
Há 1 ano atrás, eu estava quase parindo.
Não tive um parto domiciliar como tanto queria…
Mas hoje, 1 ano depois, tenho a imensa alegria de fazer parte da equipe que eu quis tanto que me ajudasse a parir a Clara. E de estar abrindo um espaço de atendimento com elas, que inaugura amanhã.
E eu nunca poderia imaginar que isso aconteceria.
Agora, às 2 da manhã, sou eu quem está finalizando a palestra de abertura, a palestra que vai abrir o encontro com o Dr. Michel Odent, que criou a frase que guia a ação e a filosofia da Equipe Hanami: “Para mudar o mundo, é preciso antes mudar a forma de nascer”.
Hoje, 1 ano depois, eu faço parte disso.
Assim, posso concluir que, para algumas pessoas, a melhor coisa que pode acontecer é tudo não sair como planejado.
Vida sábia vida…
… mais especial ainda pra mim foi, hoje, a Clara ter ganho, da mão da enfermeira que esteve junto comigo em muitas das horas de trabalho de parto, massageando minhas costas, me apoiando na piscina, uma camisetinha tamanho P escrito “Eu nasci em casa”.
É.
Foi quase.
Ainda bem…