Depois de passar toda aquela crise de “volto ao trabalho ou cuido da cria”, “vou morrer se ficar longe dela”, “quero morrer mas não quero ter que deixá-la por algumas horas”, “mundo cruel lazarento” e “quero matar a viada que reivindicou direitos iguais”, não é que tudo parece estar indo pros seus lugares?
Duas semanas no novo trabalho e já deu pra sacar qualéquié. Cara, e é muito bacana. E é uma coisa totalmente inovadora – coisa que eu gosto (já deu pra perceber?). Estou fazendo um pós-doutorado pelo Programa Nacional de Pós-Doutorado, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o véio CNPq. E, o que é o diferente, não é dentro de uma universidade. É dentro de uma empresa! Bom, não sei você, mas eu sou a única que eu conheço que faz pós-doc dentro de uma empresa – porque esse lance é realmente novo. É uma empresa muito bacana, jovem, incubada, que trabalha na área em que fiz meu doutorado: farmacologia. O que eu tenho gostado é que é uma empresa com pensamento moderno e responsável, que preza pela sustentabilidade e que foi criada por pessoas bacanas que eu tive o prazer de conhecer quando ainda estava no doutorado.
Hoje nós somos 5 jovens doutores tocando a empresa. Já nos conhecíamos do doutorado e éramos bem próximos, inclusive. E acredito que, não por acaso, temos perfis muito parecidos, o que é muito legal. Estamos todos tentando fazer diferente num mundo que ainda valoriza sobremaneira o igual – infelizmente… E foi nesse ambiente bacana de trabalho que encontrei apoio pra minha condição específica de doutora-mãe-de-uma-bebezinha-novinha. Meus parceiros aceitaram minha proposta de horário flexível, e isso tem ajudado, inclusive, a moldar a forma de trabalho da empresa. Assim, posso exercer minha profissão, cuidar da minha filha, dar um up na renda da família, continuar na área científica e contribuir para o crescimento da empresa, tudoaomesmotempoagora. E não há dúvidas que quando uma pessoa se sente compreendida no ambiente de trabalho, ela veste a camisa mesmo.
Então hoje eu vim dizer que, SIM, há esperança! (ó o drama…)
Estou feliz de poder trabalhar com esse pessoal. Porque eu sempre tive claro na minha cabeça: só vale a pena deixar minha filha por algumas horas, mesmo sendo tão novinha, se eu estiver feliz, trabalhando num lugar legal. Ainda sinto um pouco de tristeza toda manhã, quando saio e a deixo dormindo com o papai. Mas quando lembro que logo eu volto, por conta do horário flexível, e que ela fica com o pai, fico melhor. Isso também serve como motivação para que eu faça o melhor, porque, ué, se é pra sair e deixar minha filhinha, que seja pra fazer bem feito.
Um beijo pros jovens doutores desse país que estão por aí tentando fazer a diferença, a despeito das (inúmeras) dificuldades que a gente enfrenta justamente por ter especialização demais. Um beijo pras mamães que estão retornando ao trabalho, ou já retornaram, com filhinhos-bebês em casa. Um beijo às empresas modernas que trabalham com flexibilidade sem perder a excelência. E, principalmente, um beijo às empresas e empreendedores que apoiam a causa materna, fazendo com que uma mulher recém-mãe volte ao trabalho feliz, mesmo ficando alguns momentos longe da filha.
Ah que bom! Existe vida após a crise!