Há duas semanas, Adelir Carmen Lemos de Góes recebeu em sua casa, durante a madrugada e estando em trabalho de parto, a visita de um oficial de justiça acompanhado de policiais armados que a forçaram, e ao marido, a acompanhá-los ao hospital para que fosse submetida a uma cesariana contra o seu consentimento. A ordem judicial se baseou na opinião de uma médica, que afirmava que Adelir estaria colocando em risco sua própria vida e a de seu bebê, usando como argumentos o pós-datismo (quando a gestante ultrapassa 42 semanas de gestação), um bebê em posição sentada no útero e o fato de Adelir ter vivido duas cesáreas anteriores. Segundo a médica, ela não teria qualquer condição de viver o parto normal para o qual tanto se preparou, e insistir nesse objetivo traria obrigatoriamente um desfecho fatal.
respeito e orientada, durante a gestação, por profissionais sérios, foi cruelmente desrespeitada e forçada a uma cirurgia sem necessidade, contra sua decisão autônoma.
m pouco sobre a bebê, depois de saber que Flora sua segunda filha, que tem hoje 2 aninhos está apaixonada pela irmãzinha e não quer nem que cheguem perto dela porque só ela quer cuidar, Adelir desabafou:
Eu não seria nada… Nesse momento, eu não seria nada sem esse apoio. Esse, que vocês todas estão me dando. Eu não seria nada, nós não seríamos nada, porque nem nossa família está nos apoiando. Eu não seria nada… Nosso nome estaria na lama se não fossem vocês.
anos para Torres, também no Rio Grande do Sul. Canoas é uma cidade da região metropolitana de Porto Alegre e tem mais de 400 mil habitantes. Torres tem pouco mais de 30 mil habitantes e fica há mais de 200 km da capital do estado. A família se mudou porque buscava mais tranquilidade para viver e uma qualidade de vida melhor, que de fato encontraram na pequena cidade. Mas depois do que aconteceu com ela, tudo mudou. Hoje, eles são apontados na rua ou ofendidos por pessoas em função do que a grande mídia tem mostrado e em função de suas escolhas. Eles moram numa área rural e levam uma vida simples, e as pessoas da região pouca ou nenhuma informação têm acerca das possibilidades que uma mulher tem para receber o filho que gerou.
Tudo o que eu não quero é voltar naquele hospital. Não posso nem imaginar o que pode acontecer comigo lá. Nunca mais voltei, mas tenho que voltar em breve para marcar o teste da orelhinha da bebê. Mas estou com muito medo. Eles me maltrataram muito naquele dia, imagine agora que o que fizeram foi revelado e está sendo discutido.
Lá eu sou cuidada, sabe? Elas me abraçam, me beijam, perguntam como estou. Elas estão cuidando de mim, não estão me chamando de assassina nem nada. Elas entendem minhas escolhas.
parto, porquê havia decidido por um parto natural após ter vivido duas cesarianas, quem a tinha apoiado e orientado, como ela tinha conseguido informação.
Foi lá que eu comecei a estudar. Foi quando soube que muitas médicas e outras profissionais estavam quebrando mitos. Elas tinham dados, informações. Foi lá que encontrei a doula que tanto me ajudou.
Emerson, fez um acordo com seu empregador e passou a ficar em casa junto com ela, também se preparando para apoiá-la e ajudá-la na hora do parto. Ambos estudaram. Ambos se prepararam. E ela diz que não foi em busca de um parto normal por ser irresponsável, como tantos a chamaram. Mas porque tinha medo de morrer em uma cirurgia que, de acordo com o médico anterior, seria muito arriscada. E, também, porque se lembrou muito de seu pai e do que ele a ensinou. Adelir perdeu os pais aos 14 anos e tinha muito medo de que seus próprios filhos ficassem órfãos.
Meu pai era um educador. Ele me ensinou a nunca repetir o que os outros falavam, me ensinou a ir atrás da verdade. Nós não somos papagaios, não podemos só repetir o que dizem por aí, temos que estudar, temos que decidir o que é melhor para a nossa própria vida. Eu nunca descartei uma cesárea! Jamais! Eu só estava em busca de uma opção melhor, mais saudável, para mim e minha filha. Então quando dizem por aí que eu estava colocando meu bebê em risco iminente, é mentira! Não estava! Se um médico me disse que havia um problema com minha cicatriz, eu queria ir atrás de outra opção e encontrei.
Enquanto ela me operava, dizia que eu era uma irresponsável, uma assassina, uma louca. Que se eu tivesse marcado a cesárea antes, nada disso precisava ter acontecido. Se eu tivesse marcado a cesárea, meu marido podia estar ali tirando foto agora. Que por minha causa agora eu estava sozinha e ele lá fora. Eles não deixaram meu marido entrar, eu fiquei sozinha….
Foi ótimo, tudo o que pediram que eu fizesse, eu fiz. Foram 9 consultas, então quando dizem que eu não me cuidei, estão tentando manchar meu nome. Sempre esteve tudo bem com a gestação. Tanto que no exame do dia 31/03 todo mundo pode ver estava tudo ótimo com a gente. Batimentos cardíacos ótimos, placenta íntegra, líquido adequado, tudo ótimo. Como que de uma hora pra outra tudo ficou ruim? Só porque eu não quis fazer o que queriam! A única coisa que não batia era isso deles dizerem que eu estava de 42 semanas, porque não batia nas minhas contas. E depois o exame mostrou que eu realmente não estava, estava de 40 semanas.
ciganos. Ela é órfã e somente tem contato com os tios. Deles, apenas 1 tio ligou para saber como eles estavam, se precisavam de algo. Seu tio e sua irmã, Talita, foram os únicos da família que a apoiaram. Perderam contato com muitos outros familiares, que não os apoiaram quando o caso chegou à mídia, sequer telefonaram para saber da bebê ou de Adelir. Adelir e Emerson estão chateados e magoados porque gente a quem consideravam muito os estão ofendendo. E quando eu perguntei o que eles esperam com todo esse movimento, ambos responderam juntos:
delir, Emerson e toda sua família.