Estive afastada de muitas atividades nesta última semana (e também do blog) em função de um evento que modificou profundamente (e irá modificar ainda mais) minha vida e meus conceitos, como mulher, profissional, cidadã, mãe, ativista e blogueira.
Durante toda a última semana, participei do Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 – Desafios Atuais dos Feminismos, aqui em Florianópolis, cidade onde moro. O Fazendo Gênero é o maior evento
feminista do continente. Reúne milhares de mulheres e homens que não se definem por seus sexos biológicos ou por qualquer determinação biológica ou social que tentem lhes impor, mas por sua participação ativa no mundo, pela consciência de que todos somos dotados de direitos e que equidade e direito de luta são apenas dois deles.
Foi um evento cujas discussões duraram, para mim, 24 horas. E isso porque tive a grande felicidade de hospedar em minha casa duas pessoas mais que especiais, que tornaram essa semana algo intenso, inesgotável e inesquecível.
Heloísa (psicóloga, ativista, mãe do Gabriel, pesquisadora da assistência ao parto no Brasil e autora da primeira dissertação de mestrado sobre cesáreas indesejadas, minha amiga pessoal) e Mariana (psicóloga, ativista, pesquisadora da violência de gênero no Brasil, pessoa que tive a mais grata surpresa de conhecer melhor neste evento), ambas de Ribeirão Preto (SP), chegaram domingo e a presença delas em nossa casa proporcionou algo que fazia tempo que não vivia: a maravilhosa oportunidade de estar imersa em profundas discussões do café da manhã ao “boa noite”. Em nosso caso, uma discussão feminista que perpassa três questões com as quais trabalhamos: a violência contra a mulher, a assistência ao parto e a mulher como mãe.
Ainda vou levar alguns dias para realmente processar tudo o que vivemos e discutimos.
Discussões nas mesas dos bares, dos cafés e restaurantes, movidas por reflexões sobre o que vivemos, o que observamos e o que estamos aprendendo enquanto mulheres, pesquisadoras e feministas.
Aos poucos, escreverei alguns textos sobre tudo o que venho observando e refletindo especialmente sobre a interface feminismo/humanização do parto e feminismo/maternidade. Muita coisa anda esquisita e o que para mim configurava-se apenas como um desconforto, agora já está mais elaborado.
Espero, em breve e aos poucos, conseguir transformar em palavras as tantas reflexões que tivemos nesses últimos 6 dias. E contarei com a ajuda de diferentes mulheres para falar sobre diferentes assuntos.
A única coisa que posso dizer enfaticamente sobre todas essas discussões é: não é possível a construção de uma sociedade que respeite, inclua e empodere social e politicamente as mulheres enquanto elas continuarem a ser oprimidas. Em todas as instâncias. Principalmente, oprimidas por seus pares: outras mulheres. Essa é a maior incongruência que pode haver e talvez o principal ponto de enfraquecimento para todas as mulheres e para a luta que as representa. E se a luta pela humanização do parto (que engloba tantas outras lutas) é, para além de uma questão de saúde, uma questão social, de resgate da autonomia feminina e do direito sobre seu próprio corpo, então ela É SIM uma luta feminista. É uma luta feminista! Mesmo que não se queira aceitar isso, é uma luta feminista! E se é uma luta feminista, é preciso que seja e esteja sustentada por um discurso que realmente valorize e defenda a autonomia feminina. E foi difícil, muito difícil, para mim ver que isso não está acontecendo como se deveria, talvez justamente pelo desconhecimento que tantas mulheres têm sobre seu lugar no mundo, sobre o lugar de todas as mulheres.
Na segunda-feira, 16 de setembro, eu, Heloísa de Oliveira Salgado e Ana Carolina Franzon tivemos a
grata oportunidade de oferecer uma oficina sobre “A Internet como ferramenta de empoderamento feminino e produção de dados no combate à violência“. Um tema vastíssimo que não conseguimos esgotar em uma manhã de trabalho, mas que queremos e iremos continuar a desenvolver com os participantes ao longo das próximas semanas. E na quinta-feira, dia 19, o documentário que juntas produzimos, com Bianca Zorzam e Armando Rapchan, o “Violência Obstétrica – A Voz das Brasileiras” foi apresentado na Mostra Audiovisual do evento.
Mas foi na sexta-feira que a surpresa aconteceu…
Nós não sabíamos que a Mostra Audiovisual era competitiva…
Então, avalie nossa surpresa ao recebermos a notícia de que nosso documentário, popular, amador, feito com nada de recurso além de boa vontade, dedicação e ativismo, durante quatro ou cinco madrugadas, feito com a voz de tantas mulheres que se encorajaram a contar o que viveram, ganhou o prêmio de melhor vídeo! Nesse, que é o maior evento feminista do Brasil, da América do Sul, do continente! Foi talvez uma das maiores surpresas que já vivi.
Por não sabermos que a mostra tinha caráter competitivo, nem estávamos presentes no momento da premiação. Marisse Queiroz, nossa amiga, também ativista, estava presente e começou a nos marcar via Facebook. Ana Carolina então, pode, muito surpresa e feliz, receber das mãos da antropóloga Carmen Rial, presidenta da Associação Brasileira de Antropologia e coordenadora do Núcleo de Antropologia Audiovisual (NAVI) da Universidade Federal de Santa Catarina, o prêmio que simboliza a voz ouvida de tantas mulheres…
Video-documentário popular “Violência Obtétrica – A Voz das Brasileiras”. Premiado no Seminário Internacional “Fazendo Gênero” – Desafios Atuais dos Feminismos. |
Eu, Heloísa e Mariana estávamos no aeroporto naquele momento e nem imaginávamos que isso estava acontecendo.
Depois que nos despedimos, entre promessas de nos revermos o mais rápido possível e de escrevermos alguns textos juntas, não voltei para casa: fui passear com minha filha. Minha menina, que um dia será uma mulher que espero que viva em um mundo onde seu lugar seja respeitado e garantido, que esteve junto de nós em tantos momentos, entre discussões feministas e colos de amigas. Passeamos, juntinhas, sozinhas, entre muito colo e beijo. E foi só às dez da noite, quando voltamos para casa, que abrindo o computador vi a foto.
Não entendi o que estava acontecendo… Um prêmio?! Pelo que?! Foi então que soube: a mostra era competitiva e o documentário havia sido premiado.
Quero agradecer profunda e emocionadamente a todos que participaram dessa ação – uma ação ativista sem qualquer outra motivação. São muitos os envolvidos. É fruto de uma luta ainda incipiente, mas que já está colhendo frutos.
A desnaturalização da violência é o primeiro passo. E nós já o estamos dando.
Que
semana!
Estou bastante cansada, física e mentalmente. Mas esse cansaço é proporcional à minha satisfação e
motivação. Daqui ao final do ano, muitas emoções como essa ainda estão à nossa espera.
No próximo sábado, 28 de setembro, terei a imensa honra de participar do TEDxFloripa. Terei 18 minutos para conversar com 300 pessoas sobre a humanização do parto no Brasil.
No final de outubro, estarei, com Simone Diniz, minha co-orientadora e uma das principais pesquisadoras brasileiras da assistência ao parto, em uma mesa sobre violência obstétrica no COBEON (Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal).
Em novembro, junto com ela e Gustavo Venturi, autor da pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, pesquisa que evidenciou o dado de que 25% das mulheres brasileiras sofrem violência no parto, estarei em mais uma mesa, dessa vez no Abrasquinho, Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, no Rio de Janeiro.
Estou em muitas mesas. De congressos, de bar e de almoços em família.
Minha filha tem vivido tudo isso junto comigo e isso me enche de alegria porque acredito verdadeiramente no poder do exemplo.
Acabamos de nos mudar de casa.
Desencaixotei o suficiente para que a vida seguisse e parti para o Fazendo Gênero. Estamos morando em um lugar onde ela pode correr e brincar na grama, enquanto eu e seu pai podemos trabalhar ao seu lado. Agora, que o evento terminou, vou colocar cortinas, pendurar quadros e terminar de organizar as coisas. Sabendo que o trabalho das mulheres ativistas está sendo valorizado.
E agora, aproveito para te pedir um voto de confiança – mais um, já que cada vinda a esse blog
significa votos de confiança.
Demorei para divulgar porque tinha esperança de que a organização do prêmio corrigisse o equívoco dele estar na categoria “Arte e Cultura”, ao invés de “Variedades”. Como não corrigiram, então vai assim mesmo e seja o que os leitores quiserem.
Esse blog aqui foi indicado ao Prêmio Top Blog 2013.
Ano passado, o júri popular o escolheu como o segundo melhor blog brasileiro de variedades.
Esse ano estamos no páreo novamente.
Se vamos conseguir, depende do seu voto, do voto de cada pessoa que o lê.
Se você acha que ele merece, VOTE!
Para votar, clique aqui (ou no botão de votação na barra lateral do blog). Você pode votar com seu e-mail e com seu perfil do Facebook, computando dois votos. Para validar o voto, acesse sua caixa de -mails e clique no link que irão te mandar.
A votação vai até o comecinho de novembro, quando divulgarão os TOP 100. É dos TOP 100 que serão selecionados os TOP 3.
Se você já votou, muito obrigada!