Hoje vou contar algumas histórias.
A primeira é uma história bem conhecida, bem famosa.
As demais são quase nada conhecidas no Brasil, embora aconteçam com uma a cada quatro brasileiras que têm filhos. Essas são histórias muito difíceis. Histórias tristes de mulheres que perderam aquele que, para as que escolhem ser mães, seria um dos momentos mais felizes de suas vidas.

Começo agora, então, com a primeira história, a famosa. 
Ela envolve um homem e uma mulher, pelados, uma maçã, uma serpente e uma força onipotente, onisciente, onipresente. Você já deve saber de qual história estou falando…
A mulher dessa história achou que um tal fruto, de uma tal árvore, poderia ser bom para comer. Então ela o comeu e ofereceu a seu companheiro, que também comeu.
Mas então eles ouviram a voz de Deus, que passeava pelo jardim, e se esconderam no meio das árvores do paraíso. Então, Deus chamou Adão: 
– Adão! Adão! Onde estás?
E Adão respondeu: 
– Estou aqui. Estava escondido… Fiquei com  medo, porque estou… nu. 
E Deus, desconfiado, perguntou: 
– Mas como você soube que está nu?! Por acaso você comeu do fruto da árvore que te proibi?! 
E Adão respondeu: 
– A mulher que me deste por companheira me deu… e eu comi… 
Deus ficou muito zangado e, indignado, perguntou à mulher: 
– Por que fizeste isso, mulher?!
E ela respondeu: 
– A serpente me enganou e eu comi… 
Deus, então, baniu a serpente do paraíso e a amaldiçoou entre todos os animais da terra. Mas Ele estava muito bravo também com a mulher. E também a amaldiçoou, dizendo: 

“Sofrerás de muitos males em tua gravidez. Estarás sob a dominação de teu marido e ele te dominará. Parirás com dor

Bom… e assim foi.

Nossa sociedade, fortemente influenciada pela tradição judaico-cristã, desenvolveu-se sobre algumas crenças. Essa é uma: “PARIRÁS COM DOR”.
De forma que todo homem e mulher cresceu e se desenvolveu ouvindo: parto é dor, parto é dor, parto é dor. 
Mas parto… não é dor.
E dizer isso não significa ignorar ou minimizar o componente doloroso do parto que – sim – existe, e todo mundo sabe que existe. Significa dar a ele seu real significado e, mais do que isso: significa falar sobre a verdadeira dor que muitas mulheres estão vivendo em seus partos atualmente no Brasil.

Não estamos falando de dor física.
Mulheres estão sofrendo de dores terríveis que nada têm a ver com a chamada “dor do parto”. Mas tem a ver com a forma como estão sendo tratadas não somente pelo sistema médico hospitalar mas por toda a sociedade.
E se você acha que, por estarmos falando sobre parto você nada tem a ver com isso, errou. Parto não é algo que “Ah! Eu não quero falar sobre parto porque eu sou jovem,  ainda não penso em ter filhos”. Ou, “Eu não quero falar sobre parto porque sou homem, biologicamente não vou parir”. Ou, “Eu não quero falar sobre parto porque eu sou mulher e escolhi não ter filhos”. Ou, “Eu não quero falar sobre parto porque… ah, porque eu não quero falar sobre VAGINA. Falar sobre ‘isso’ me constrange”. Essa última justificativa merece até uma discussão maior. Você já notou que as pessoas não gostam de falar VAGINA? Pois não gostam. Falam todo tipo de nome para se referir a ela, de nominhos fofos a nomes grosseiros, passando por nomes de animais, plantas ou países. Mas não falam VAGINA. Começando por pepeca, pombinha, passarinha e indo até formas mais enfáticas, fala-se tudo, menos vagina.
Seja lá qual for a justificativa utilizada para evitar o assunto, o fato é: parto não é assunto de interesse exclusivo de algumas poucas pessoas. Todos nós nascemos um dia. As mães de todos nós passaram por situação de parto/nascimento. Cem por cento da humanidade tem a ver com esse assunto.
Mulheres deram à luz a cada um de nós. E continuam dando à luz todos os dias.
Como cidadãos críticos, portanto, em busca de um mundo mais justo e menos violento, nós temos que nos perguntar: como essas mulheres estão dando à luzO que está sendo feito delas nesse momento?
Portanto, a dor sobre a qual falo agora nada tem a ver com uma maldição divina, sequer se trata da dor fisiológica do parto. Estou falando sobre uma dor construída por nós, uma dor que tem profundos motivos de origem social.
Estou falando dessa dor aqui.


Esse vídeo é uma compilação muito simples, de pouco mais de 2 minutos, de um documentário que ajudei a produzir e que talvez você já conheça, e que tem cerca de 50 minutos de duração. É o documentário “Violência Obstétrica – A Voz das Brasileiras“, que é, na verdade, a junção de diferentes vozes femininas. Vozes que contam histórias tristes de violência e desrespeito em seus partos.

As pessoas acham que todo nascimento é lindo.
Não é. 
Dizer que todo nascimento é lindo significa ignorar milhares de mulheres que viveram atrocidades em um momento que – sim! – deveria mesmo ser lindo. E não podemos dizer que é lindo algo que não foi! Fazer isso é ignorar, mais uma vez, muitas histórias de violência contra a mulher. E as mulheres, como vítimas de diferentes formas de violência, já foram ignoradas por tempo demais.
Não. Nem todo nascimento é lindo.
As fotos a seguir fazem parte de um projeto fotográfico da fotógrafa Carla Raiter, de São Paulo, chamado Projeto 1:4. Ela retratou mulheres que foram violentadas em seus partos e sobre a pele dessas mulheres, nesse trabalho, encontra-se estampado o relato que elas ofereceram sobre a violência que viveram. Leia. Sinta. E diga: isso pode ser chamado de lindo? Isso pode ser ignorado?



Mulheres estão sofrendo para dar à luz a seus filhos e isso nada tem a ver com a tal da maldição,     “PARIRÁS COM DOR”.
Tem a ver com muitas coisas.
E é sobre essas coisas que quero falar.
A violência no parto, ao contrário do que muita gente acha, não é algo que se atribua apenas a uma categoria profissional, no caso a categoria médica. É um problema complexo e que, por ser complexo, possui múltiplas dimensões. Obviamente, justamente por um dos motivos que discuto abaixo, grande parte do problema poderia ser minimizado com uma profunda mudança de postura profissional médica. Mas outras dimensões também precisam ser modificadas, se quisermos, verdadeiramente, erradicar o parto violento e a epidemia de cesarianas – que muitas vezes são sinônimos.

1) A SOCIEDADE MACHISTA
A violência no parto tem a ver com a sociedade machista, que desde sempre acha que pode legislar sobre o corpo feminino, dizendo à mulher como ela deve se vestir, como ela deve se portar, como ela deve falar, o que ela deve estudar, o que ela deve fazer, se ela deve parir, como ela deve parir.
Como feminista, defendo o direito da mulher decidir livremente o que fazer com seu corpo. Em TODOS os sentidos. E eu disse TODOS. Mas quando uma mulher usa esse argumento para dizer que fez jus ao seu direito de escolha ao optar por uma cesariana eletiva (e muitas que fizeram usam esse argumento), o que é preciso questionar: “É verdade mesmo? Foi você? Ou fizeram você acreditar que a escolha era sua, quando não era? Com base em que você decidiu? Que tipo de influência recebeu? De quem recebeu?”. Porque não adianta dizer que decidiu por si quando o que se fez foi, apenas e somente, reproduzir um discurso que nem seu era, reprodução essa fundamentada em coação, pressão, terrorismo. Afinal de contas, se uma mulher diz que “escolheu cesariana porque foi visto no ultrassom que o bebê era grande, ou que havia volta de cordão no pescoço do bebê, ou que ela é pequena para o tamanho do bebê” ou qualquer outra justificativa que, sabemos (ou deveríamos saber), são falsas, mentirosas e fictícias, então fica claro que não, ela não escolheu. Escolheram por ela. Mais uma vez, e de maneira bastante sutil, seu corpo foi legislado por terceiros. É por isso, então, que o que eu, como ativista da humanização do parto e feminista, defendo é a escolha informada. Informar-se, para escolher. 
Quando alguém oferece a uma mulher motivos falsos para ser operada, o que está fazendo, na verdade, é apoderar-se de um corpo que não é seu, como se o fosse. É ver aquele corpo como uma mercadoria, um produto, do qual pode se apropriar. E isso é um pensamento tipicamente machista. O mesmo machismo escancarado expresso na famosa frase, dita a tantas mulheres por tantos profission
ais despreparados: “Na hora de fazer não gritou, né?! Agora tá chamando a mamãe por que?!“. 

Quem foi que disse que pra fazer não gritou?!
Uma mulher não pode gritar no sexo? Não pode se manifestar no sexo?
Que falem por si e pelo que veem em sua própria casa, sejam homens ou mulheres. 
Mas que não transponham a sua realidade e o seu pensamento preconceituoso para a mulher a quem deveriam atender com atenção ou cuidado. Isso é machismo – e é apenas uma forma dele, entre tantas… Mesmo quando proferido por mulheres. 

2) O TABU DO SEXO
A violência no parto tem a ver com o tabu do sexo. 
E parto é sexo.
Se sexo é tabu, em nossa sociedade moralista, então parto também passa a ser.
Você já parou pra pensar que parto seria o desfecho final de grande parte dos sexos praticados se não fizéssemos nossas escolhas de planejamento reprodutivo?
Parto É SEXO!  As fotos a seguir mostram exatamente isso: como parto é sexo e, portanto, como pode ser prazeroso. 

(fotos enviadas pelas próprias mulheres para este fim; 
uso ou reprodução não autorizado)

Envolve tudo que o sexo envolve. Envolve os mesmos hormônios (prolactina, ocitocina, endorfinas, adrenalina), as mesmas posições (que não se resumem a uma mulher deitada de barriga para cima, de pernas abertas, em posição passiva), a mesma via natural vaginal, os mesmos barulhos, os mesmos cheiros, o mesmo suor, os mesmos gemidos.
Mas a sociedade tem medo do sexo…
Tem medo, principalmente, da mulher que lida de maneira tranquila com sua sexualidade. A essas, chama de “vadia”. É por isso também que, portanto, para nós, feministas, “vadia” não representa uma ofensa. Porque se está se referindo à liberdade sexual, à liberdade de escolher o que bem fazer com sua própria sexualidade, então “vadia” não tem nada de pejorativo. 
A sociedade tem medo da mulher que geme, da mulher que se mostra ativa. Isso constrange, isso intimida, embora seja o que tantos desejam – declaradamente ou em segredo – inclusive ou  principalmente elas próprias. Querem, mas não podem ver. Porque se desconstroem. E embora muito se diga sobre a suposta “liberalidade” do brasileiro, a gente sabe: brasileiro é um povo moralista. Moralista e hipócrita: não gosta de ver peito de mulher amamentando, mas adora carnaval e seus peitos de fora. Adora filme pornô. Mas não pode ver uma mulher lidar de maneira saudável com o trabalho de parto, porque ela geme, ela sua, ela fica de quatro, ela rebola. 
Assim, portanto, uma coisa se torna óbvia: uma sociedade que tem problemas para lidar com o sexo, também terá problemas para lidar com parto. E estão aí nossas taxas de cesarianas para mostrar a realidade… 

3) A INDÚSTRIA DO NASCIMENTO

A violência no parto tem a ver com o nascimento encarado como uma indústria das mais rentáveis, com mulheres sendo abertas a cada 40 minutos, ainda que o processo natural de nascimento leve horas e horas a fio. Como no filme protagonizado por Charles Chaplin, mas com mulheres no lugar dos parafusos e porcas. Tantas mulheres desejando ter experiências individualizadas de parto e nascimento… e dando à luz exatamente igual umas às outras, de maneira mecânica, fria, não protagonizada por ela, cirúrgica, metálica, estéril. Exatamente como precisa ser uma indústria.
4) O PARADIGMA MÉDICO E BIOMÉDICO ATUAL DA SOCIEDADE

Violência no parto tem a ver com a sociedade em que vivemos, pautada no conhecimento hegemônico médico e biomédico –  tecnocrático, como diria Robbie Davis-Floyd. E é bom que se saiba: só vivemos nesse paradigma médico, cartesiano, reducionista, que divide a vida em sistemas que dão a falsa sensação de que não se conectam e de que podem ser controlados, há muito pouco tempo na história humana. E não se surpreenda nem um pouco ao saber que é uma história casada com o percurso histórico do capitalismo, que vende tudo, inclusive corpos…
Crescemos achando que a palavra médica é soberana, é sábia, é indiscutível e somos diariamente estimulados para que assim acreditemos, via mídia, via indústria farmacêutica, via discurso de riscos.
Mas, você tem que concordar: se a palavra médica fosse realmente indiscutível, soberana e invariavelmente sábia, não nos depararíamos cotidianamente, com uma frequência assustadora, com os tais MITOS MÉDICOS DO PARTO, que nos foram inculcados de maneira sutil ou
descarada. 
Assim, saiba: cordão enrolado no pescoço do bebê não é motivo para cesárea – por que seria? O bebê no útero da mãe sequer respira pelas vias áreas superiores, a troca gasosa é feita via vasos sanguíneos do cordão, porque estar enrolado no pescoço, portanto, representaria perigo? Idade não é motivo para cesárea. Bacia estreita  não é motivo para cesárea. Ser baixinha não é motivo para cesárea. Cesárea anterior não é motivo para uma nova cesárea. Bebê sentado não é motivo para cesárea. E não digo isso porque acho. Mas porque é o que nos mostram as mais recentes evidências científicas, estudos sérios, meta-análises contundentes.
Você tem que concordar: se a palavra médica fosse realmente indiscutível, soberana e invariavelmente sábia, o Brasil não deteria o vergonhoso número de 52% de cesarianas (considerando o geral). Feitas por médicos. 
5) BAIXA AUTO-ESTIMA FEMININA

A violência no parto tem a ver com a falta de auto estima e empoderamento das mulheres, que muitas vezes buscam seguir um modelo de mulher, um modelo que lhe é imposto, que é irreal, que a torna submissa e vítima.
Nesse modelo, as mulheres não podem se mostrar sem controle da situação.
Ela deve estar bonita, contida, recatada, submissa, penteada, maquiada, de unhas feitas. Sem discussão. Porque esse é o modelo de mulher que lhe foi vendido. Baixo empoderamento tem a ver com baixa auto estima. Baixo empoderamento é você achar que podem decidir por você. Que qualquer pessoa que use um jaleco branco tem mais autonomia sobre seu corpo do que você. É achar que alguém sabe tanto a ponto de te isentar da busca ativa por informações a respeito de você mesma. É aceitar opiniões de terceiros sem verificar se elas procedem, se elas são fundamentadas, se fazem sentido, se são coerentes. É deixar que a família, o marido, o médico, o agente do posto, qualquer pessoa, decida por você e desconsidere seus próprios desejos. E isso é abrir a porta para que te violentem… É tornar-se vulnerável. 
Isso não tornará você culpada da violência que, porventura, (e eu espero que não) venha a viver. A violência contra a mulher jamais terá como culpada a própria mulher. 
Mas tornar-se empoderada significa reagir a qualquer forma de violência, quando e onde ela surgir.
Significa confiar em si a ponto de gritar, de saber-se e fazer-se ouvida, de botar a boca no mundo e fazer valer os seus direitos de ser humano.

6) POLÍTICAS PÚBLICAS

A violência no parto tem a ver com políticas públicas.
No Brasil, nascem por ano cerca de 3 milhões de bebês.
Políticas públicas ou a ausência delas têm tudo a ver com o fato de mais de 1 milhão e meio de bebês nascerem de maneira cirúrgica todos os anos.
Quem está ganhando com isso? Não são as mulheres. Não são os bebês.
O relatório sobre prematuridade divulgado pela ONU em 2012 diz que o mundo poderia evitar a morte de 250 mil bebês por ano, que morrem em decorrência de prematuridade, com algumas medidas simples. E reduzir as taxas de cesarianas eletivas é uma delas.
No Brasil, já ultrapassamos 90% de cesarianas no serviço privado de saúde. Já ultrapassamos 40% de cesarianas no SUS, quando o que se recomenda pelas organizações de saúde, é um  máximo de 15% de cesáreas, cesáreas bem indicadas. Estamos tirando bebês prematuros de dentro de suas mães por motivos que, em sua esmagadora maioria, passam muito além da vontade da mulher. E pior, marcados – mãe e criança – por um processo violento de nascimento.
Quando não cortadas em seus ventres, as mulheres estão sendo cortadas em suas vaginas, em mutilações chamadas de “episiotomia”, que estão sendo feitas sem qualquer indicação, ao contrário do que recomendam as mais atuais pesquisas.
Mas nós preferimos olhar para a infibulação dos outros do que para a nossa própria episiotomia…
E a falta de políticas públicas definidas contribui, em muito, para isso.
7) VONTADE POLÍTICA

Violência no parto tem a ver com a falta de vontade política.
Acabar com ela também tem a ver com vontade política de mudar. 
Se há no Brasil um hospital público que é referência no atendimento humanizado às mulheres que estão parindo, o Hospital Sofia Feldman em Belo Horizonte, se há, em um Instituto de Saúde em Campina Grande, na Paraíba, uma obstetra que atende mulheres de maneira digna, respeitosa, humanizada, exclusivamente via SUS, como é o caso da Dra. Melania Amorim, que não faz uma única episiotomia há mais de 10 anos, se há casas de parto que estão acolhendo mulheres e permitindo que deem a luz com dignidade, como a Casa de Parto de Sapopemba, a Casa Angela, entre outras casas de parto, é porque É POSSÍVEL!
Nós, que lutamos pela humanização do parto, não queremos parto humanizado, digno, respeitoso, para cinco amigas nossas. Nós queremos para nossas cinco amigas e para todas as mulheres com acesso ao SUS.
Mas é preciso representantes políticos que sejam verdadeiramente comprometidos com a humanização, com os direitos das mulheres. É preciso que a gente exija isso deles, que a gente participe.

(vídeo editado com autorização de Melania Amorim)

Depois do nascimento da minha filha, meus olhos foram escancarados para essa realidade.

A primeira viagem de avião dela foi comigo, aos 10 meses de idade, quando fomos para um debate sobre violência obstétrica na Câmara Municipal de São Paulo. E foi lá, ao ver e saber que um quarto das brasileiras é violentada no parto, que senti a mais profunda vontade de ajudar a mudar esse cenário de violência e desrespeito aos direitos das mulheres.
Desde que minha filha nasceu, tenho buscado o respeito a esses direitos. Que as mulheres possam escolher, com base em informação coerente e confiável, tudo sobre sua vida, e ser respeitada em sua escolha. Como ativista da humanização do parto, quero isso transposto para um dos momentos mais especiais da vida de uma mulher que escolhe ser mãe: o nascimento de um filho.
Porque humanização do parto não é uma sala sem luz, não é um som tocando no rádio, não é um sorriso por trás de uma máscara. É a ideia “radical” de que a mulher tem direito de parir com respeito, sem abuso, sem intervenções, sem violência, com seu corpo respeitado e não mutilado por um corte na vagina ou na barriga, na presença de quem ela escolher, com uma equipe que a respeite como sujeito.


O direito mais violado entre as mulheres do mundo todo é o controle sobre o próprio corpo. 
Chega de violência que induz uma falsa escolha!
Quero que esse, o parto digno, respeitoso, seja o modelo de assistência quando minha filha for adulta. Para o caso dela escolher ser mãe. Para o caso dela escolher viver um parto. Que ela viva numa sociedade que a respeite e a todas as demais mulheres em todos os momentos, inclusive no parto.

Então, o que quero propor é que você se desconecte! De todas essas coisas aí embaixo:




E substitua tudo isso por uma conexão profunda. Conecte-se!




Eis aí uma ideia que precisa ser disseminada.
A fim de que a sociedade consiga, enfim, se desconectar desse modelo violento que tem como suas vítimas milhares de mulheres.
De nada vale queremos mudar o mundo com ideias tão inspiradoras e transformadoras se a humanidade continuar a nascer de maneira violenta.

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Essa foi a minha fala no TEDxFloripa, que encerrou o evento que aconteceu em 28 de setembro último.
Isso foi tudo que eu consegui resumir e processar sobre violência obstétrica a ser falado em 18 minutos. 
Mas que não falei… Não falei em 18 minutos porque o contador à minha frente (que orientou todos os demais palestrantes) travou na minha vez. E eu me perdi no tempo… E o que era para ser falado em 18 minutos, acabou sendo falado em 12 minutos a mais (isso considerando que, na fala em si, esqueci de mencionar o item 5, tão importante…)
Sorte nossa (de todos nós que participamos do evento) que o evento se encerrou comigo, do contrário teria sido uma grande confusão. Fiquei chateada por isso ter acontecido, a despeito das inúmeras parabenizações que recebi pela fala, dos organizadores e das dezenas de participantes. Afinal de contas, regra é regra, não é Arnaldo?
Mas o que conta, mesmo, é que no fim tudo deu certo, o evento foi sensacional e consegui passar o recado, não meu, mas elaborado coletivamente.

Ser convidada para falar em um TEDx não é coisa que nos acontece todos os dias. Nem todos os anos. Às vezes, nem durante toda uma vida. De forma que, ao ser convidada para falar em um, uma enxurrada de diferentes emoções nos toma.
Quando fui convidada pela Denise Ferreira para falar no TEDxFloripa, primeiro tomei um susto. Que durou acho que uma semana. Depois, o susto foi substituído por um certo medo. Certo medo não. Um medão mesmo.
Eu contava para as pessoas que estava com medo e elas me diziam coisas como: “Medo? Você?! Você já encarou um monte de defesa de coisas na vida, um monte de avaliações, de processos seletivos, vai ter medo agora?”.
Mas tive. Muito.
E foi bom ter.
Porque eu realmente acredito em algo que sempre digo: medo não foi selecionado evolutivamente por qualquer bobagem. Mas, sim, porque ter medo faz com que você se prepare para algo. Quanto mais você se prepara, menos medo sente, menos medo tem, maior a chance de um resultado positivo, seja lá o que estiver buscando.
Então me preparei com muita dedicação. Pensei muito no assunto, discuti com amigas e amigos, questionei pessoas dentro e fora do movimento, querendo chegar em uma forma para falar sobre a humanização do parto que fosse ao cerne da questão, que contemplasse o máximo de informação possível, no curto tempo de 18 minutos.
Se essa preparação toda diminuiu meu medo? Não.
Mas foi com medo mesmo.

Depois do evento, dezenas de pessoas vieram conversar comigo. Pessoas que jamais haviam ouvido qualquer coisa sobre o assunto, que estavam estarrecidas, que queriam saber mais. Outras vieram dar seus relatos, falar sobre o que viveram. Teve muita gente chorando, por compaixão ou identificação. E muitos homens sentiram-se especialmente impactados e indignados com o relato da situação.
Estou recebendo e-mails desde então, muitos, de pessoas buscando mais informações e eu acho isso ótimo.
Porque informação pode, verdadeiramente, transformar uma experiência.
Pode abrir os olhos e a mente para a verdadeira compreensão do assunto.
Quebra mitos, desfaz preconceitos, liberta e empodera.
E foi nisso tudo que pensei quando elaborei essa apresentação. As imagens ao longo desse texto foram os slides apresentados, juntamente com o vídeo.
E assim que o vídeo oficial da fala do TEDxFloripa for liberado, divulgarei.
Por enquanto, compartilho o link para todo o evento, que foi absolutamente transformador.
Espero que, de posse dessas informações, você possa transformar a sua própria experiência e a de mulheres ao seu redor.


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