Sou fã dele há milianos.
Fiquei muito, muito triste com sua morte, ocorrida de ontem para hoje.
E podem esperar: vem aí um certo balacobaco em função do seu assassinato.
Aparentemente, Glauco foi assassinado por um membro da igreja por ele dirigida, vinculada ao Santo Daime, em um surto psicótico. O assassino dizia ser Jesus e queria que Glauco o acompanhasse até a casa de sua mãe, para que ela acreditasse que seu filho era mesmo Cristo reencarnado.
Claro que agora já tem muita gente associando o evento aos efeitos psicotrópicos da bebida ritualística utilizada no Santo Daime, que é feita a partir de duas espécies vegetais, a Banisteriopsis caapi e a Psychotria viridis que, juntas, podem produzir efeitos sobre a mente humana. Só hoje a tarde, 6 pessoas me falaram algo sobre isso… “Ó lá o que dá essas coisas…”
Alto lá, pessoal. Antes de falar, certifique-se de que sabe do que está falando. Do contrário, melhor não.
Até onde se sabe atualmente, as plantas psicoativas não são capazes de produzir crises psicóticas em indivíduos sãos. Elas podem induzir alucinações, mas não crises psicóticas propriamente ditas. Mas podem predispor, realmente, crises em pessoas que já sofrem de transtornos psiquiátricos. A questão é: nem todo mundo sabe que sofre desses transtornos, o que se torna um risco em potencial. Mas dizer que psicoativo gera crise psicótica, não, tá? Não mesmo.
É muita especulação associar a crise do assassino aos efeitos do Daime.
Tem muito estudo sério sobre isso já publicado, feito por gente muito boa e de grande credibilidade, não dá pra especular. É bem melhor ler sobre o assunto antes.
Eu tenho um livro já escrito sobre Plantas Psicoativas, que ainda não consegui ir atrás das burocracias para publicar, mas que já inspirou a elaboração de um material didático que está atualmente em uso por um site brasileiro, com minha autorização. Nesse livro, há um capítulo sobre plantas importantes para religiões ritualísticas. Isso significa que li muito a respeito, não sou propriamente leiga no assunto. Posso dizer: ninguém tem crise psicótica APENAS porque fez uso do extrato de tal ou tal planta.
O mais polêmico de toda essa triste situação envolvendo a morte do grande Glauco é que no dia 25 de janeiro deste ano o governo brasileiro oficializou o uso da ayahuasca (bebida utilizada no Daime) para fins ritualísticos e religiosos. E agora virá muito blá blá blá a respeito da liberação…
Sou realmente uma apaixonada pelos estudos sobre os efeitos dessas substâncias no cérebro, gosto de estudar como agem do ponto de vista neurobiológico para entender como o próprio cérebro funciona. Estudei isso na graduação, no meu mestrado e também no doutorado. E é justamente por isso que me sinto desconfortável quando ouço especulações a esse respeito. Sempre é bom saber do que se está falando antes. Por isso, aqui vai um artigo interessante sobre o tema: uma avaliação de risco do uso ritual da ayahuasca (clique aqui para lê-lo). Aqui vai também o link para uma dissertação de mestrado defendida no Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Brasília também bastante interessante, de autoria de Rafael Guimarães dos Santos e que é livremente encontrada na internet (clique aqui para acessar a dissertação).

O fato é: Glauco morreu e com ele se foi um grande talento.
Quem é um pouco, só um pouco sensível, fica bem triste por isso…
Geraldão, Geraldinho, Dona Marta e Casal Neuras, meus personagens favoritos, vão ficar. Mas se foi um grande talento, mais uma vítima da violência. Se a violência foi fruto, direto ou indireto, do uso de plantas psicoativas, não é possível saber. Mas que foi fruto da ignorância, com toda a certeza. É o que eu sempre digo: a pior droga, mais viciante, mais devastadora e totalmente voluntária é a ignorância.


Tchau Glauco!

Psicografa um Geraldão pra nóis daí!

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