Sabe aquela história de que, no fim, o que vale mesmo é a educação, os valores morais e a ética que seus pais te ensinaram? De que herdar dinheiro é bom, mas que não garante nada além, nem mesmo a manutenção dele próprio?

Não é papo não. É isso mesmo.

Sei disso não porque exista um estudo a respeito, mas porque é realmente o que percebo: que, independentemente da riqueza material dos nossos pais, ou da falta dela, o que eles nos deixam como valores éticos e  morais tem maior peso na construção das nossas vidas. Sinto que até mesmo entre pessoas comuns como eu, que não nasceram em berço de ouro (nem banhado a), a chance de ter uma vida mais confortável aumenta quanto mais sólidas e fortes forem as bases éticas que nos foram deixadas. 
Até mesmo porque, para pessoas que foram criadas dentro de um sistema de valores positivo, construtivo e humano, “ter uma vida mais confortável” não obrigatoriamente quer dizer “ter uma vida cheia de dinheiro“… 
Fui criada em família de gente trabalhadora, que não herdou bens financeiros, e acho que ter uma vida confortável não passa por grandes quantias não… (como diz a música, “eu não preciso de muito dinheiro, graças a Deus!”) Considero como uma vida confortável aquela em que, ao final do mês, não há grandes desesperos, e que permite a mim e minha família um passeio, um almoço, uma viagem por ano, um livro, um cineminha, um upgrade tecnológico de tempos em tempos mas, principalmente, arcar com os custos da educação extra-familiar da minha filha, considerando como educação extra-familiar a própria escola e os eventos culturais dos quais ela quiser participar. Nada impossível, nada ilusório. 
Não tenho sonhos deslumbrados, não lambo ego de quem tem uma condição financeira melhor que a minha, nem acho que isso seja condição sine qua non para a felicidade verdadeira. 
Não sou franciscana nem almejo ser, mas também não sou poser – e pra ser bem sincera, não gosto muito de quem se faz de. Se eu como chuchu, trato logo de inventar um molho pra jogar por cima e gratinar, ou invés de criar uma imagem iludida de peru para o pobre do vegetal. 
Tenho orgulho da educação ética e moral que recebi dos meus pais – de cada um deles, de formas diferentes. Meu pai me ensinou a compreensão, o olhar doce e poético sobre as coisas, a elegância do gesto (como ele gosta de dizer), o acolhimento como forma de estabelecimento da confiança. Minha mãe me ensinou a sinceridade, a autenticidade, a coragem, a determinação, a garra e a força de caráter. 
Ela nunca fez vistas grossas a comportamentos destoantes disso e sempre manifestou sua opinião decidida a respeito. 
Ambos me ensinaram a compaixão pelos outros e o sentimento de identificação com as pessoas pelo simples fato de serem pessoas. 
Não sou filha de pais perfeitos, muito pelo contrário. Sou filha de gente que se constrói a cada dia, seja com base nos acertos ou nos erros, mas tenho orgulho do que eles nos ensinaram – e ensinam até hoje. Sempre valorizaram uma formação sólida e enfatizaram que, da vida, só tiramos o melhor se realmente o quisermos e, principalmente, se formos atrás dele.
Mas se você acha que isso é papo teórico baseado em achismo, e quer um estudinho pra embasar a conclusão, também tenho um pra você.
Um estudo recentemente publicado no Journal of Political Economy (Rich Dad, Smart Dad: decomposing the intergenerational transmission of income), realizado por pesquisadores norte-americanos, afirma que o que favorece o sucesso financeiro de um filho não é herdar uma situação financeira privilegiada. É, na verdade, herdar o “capital humano” dos seus pais: os valores, a ética, a força de trabalho, os conselhos recebidos, essas coisas intangíveis que bolsa de valores nenhuma consegue negociar.  
A pesquisa foi realizada utilizando o seguinte modelo teórico: comparando-se dois pais com mesmo grau de instrução e de qualificação, um vivendo em uma cidade com um bom mercado de trabalho e um bom salário, e outro vivendo em uma cidade com mercado mais modesto e com salário baixo – embora dotado de grande capital humano (sólidos valores morais, ética, etc) -, se o dinheiro fosse a única coisa que importa na influência de renda entre as gerações, então o filho do pai rico se daria profissionalmente melhor que o filho do pai pobre. Mas, se as influências de capital humano tivessem maior peso, então os filhos teriam rendimentos equivalentes.
Então os autores passaram ao teste de sua teoria e investigaram uma grande amostra de pais com filhos nascidos entre 1950 e 1965. E constataram que os filhos dos pais dotados de maior capital humano apresentaram sucesso profissional e financeiro equivalente aos filhos dos pais ricos, ainda que não tenham herdado ca
pital financeiro. O que mostra que: o que mais vale para o seu sucesso são os valores morais e humanos que seus pais te deixam.
Claro que este é apenas um estudo e, de repente, pode ser desbancado por outro que mostre que o que vale mesmo para o sucesso de alguém é a grana que os pais deixaram.
Mas se isso realmente for mostrado, irá contra tudo o que eu, pelo menos, tenho observado.
E, de qualquer forma, como pais, nós não precisamos basear nossas vidas em estudos. Não é em função deles que fazemos nossas escolhas.
Mas é muito reconfortante saber que a ciência mostra que aquilo que você valoriza realmente é importante para um filho: valores humanos, respeito e ética.
Estamos no caminho certo, rapaziada!

(ilustrações do Quino, criador da Mafalda)

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