E então, amanhã – 10 de setembro – minha filha dará mais um passo importante na sua caminhada. E, obviamente, como mãe, também darei.
Esse momento importante está me fazendo voltar no tempo e entender melhor os caminhos que decidi percorrer após ter me tornado mãe.
Que bom ter a chance de refletir sobre as coisas que nos ajudaram a nos tornarmos quem somos hoje.
Que bom poder olhar alguns momentos da vida de outro ângulo que não o de quem a está vivendo, mas pelo ângulo do expectador. O futuro permite isso: olhar para o passado com certo distanciamento, analisando quais foram os momentos significativos que contribuíram para as mudanças que aceitamos viver e para a constituição de quem somos.
Quantos momentos difíceis vivemos sem pensar que são fundamentais para nosso crescimento…
Sem imaginar que são justamente estes os que de fato importam para nossa constituição como pessoa em desenvolvimento, diferente do que se era.
Hoje, refletindo sobre as mudanças que começarão a acontecer na próxima semana, vejo alguns dos passos que demos juntos, eu, Clara e Frank, e que foram absolutamente determinantes para as mudanças que aconteceram na minha vida.
E o que tem a ver tudo isso com a mudança pela qual ela (e consequentemente nós) vai passar na próxima semana?
O que tem a ver tudo isso com a quebra de paradigmas?
Antes de me tornar mãe, eu fazia parte daquele grupo de pessoas que, mesmo não sabendo nada sobre maternidade, tinha algum tipo de opinião formada sobre o assunto. Embora não pensasse muito em ter filhos, uma coisa eu sabia: se os tivesse, eu seria uma “mãe moderna”, naquela concepção occidental way of life de modernidade para uma mãe cheia de especializações e tal. Bebê na creche após 4 meses e a feliz volta ao trabalho, para ter todas as minhas funções femininas plenamente supridas e sentindo-me completa e realizada, como mãe, mulher e profissional. Claro que eu não sabia nada sobre maternidade e havia comprado um pacote muito bem vendido pelo status quo. O fato de não saber nada sobre maternidade nem era o realmente relevante. Relevante era o fato de não saber como eu, um dia, poderia me comportar frente à maternidade; era a ignorância redundante de não saber que cada mulher tem seu jeito de viver a maternidade que pode ser muitíssimo diferente daquilo que você acreditou por muito tempo, ou que te foi vendido, e que você comprou por automatismo e falta de reflexão.
Muitas mulheres sentem-se realmente felizes e realizadas vivendo essa concepção occidental way of life de mãe moderna.
Não foi o meu caso.
E não foi nada bom quando me toquei disso. Sofri muito até entender a contradição que eu vivia em meu interior. Melhor para mim, naquele momento, teria sido permanecer na concepção que eu tinha anteriormente, assim eu não teria sofrido tanto. Mas por que RAIOS eu resolvi me questionar sobre se seria o melhor para minha filha também? Por que diabos fui deixar a intuição invadir meu lado racional?
Agora, que o tempo passou, posso dizer: que bom foi ter feito isso. Que grande chance eu tive. Que bom que aceitei o questionamento e não o varri para debaixo do tapete.
O modelo de vida que eu havia comprado e que descrevi anteriormente, que serve como uma roupa bem ajustada ao corpo de tantas mulheres, não serviu para mim, embora eu acreditasse, antes de vivê-lo, que serviria. Isso não me torna melhor ou pior, só me faz diferente – como são diferentes cada um dos 7 bilhões de habitantes desse planeta. O fato de você não ficar bem numa roupa 40, ainda que queira muito, não te faz melhor ou pior, apenas te obriga a usar 42.
Então eu precisava de outro modelo de roupa, ou de um número diferente.
Mas qual? Largar tudo e ficar em casa? Pensei nisso, mas não. Seria cobrir um santo descobrindo outro. Qual era o meu caminho, então?
Conhece-te a ti mesmo: a primeira lição da maternidade.
Quando minha filha tinha pouco mais de 2 meses de vida, um projeto de pesquisa que eu havia escrito ainda na gravidez, quando não fazia a menor ideia do que aconteceria comigo após seu nascimento, das profundas mudanças íntimas que viveria, foi aprovado.
E então eu, que estava há quase 12 meses afastada das pesquisas científicas, tive a oportunidade de voltar e fazer meu pós-doutorado, com uma bolsa excelente que nos salvaria financeiramente.
Lembro-me do que senti quando soube da sua aprovação. Chorei muito de alegria, de alívio, porque teriam fim alguns momentos difíceis pelos quais havíamos passado.
Como não sabemos de nada sobre a vida…
Como nunca sabemos o que é realmente o melhor para nós…
Então eu aceitei a bolsa – não tinha muita alternativa. E, também, era o que eu realmente queria até então: voltar e fazer meu pós-doc. E recomeçar.
Foi quando tudo começou a mudar…
Foi quando as mudanças dos 9 meses de gravidez e dos 2 meses como mãe, consequências do tipo de busca que fiz, começaram a se revelar em mim.
Os questionamentos sobre o que de fato vale na vida para mim. A análise crítica sobre a área de pesquisa na qual eu me inseria. A observação participante sobre a postura da maioria das pessoas sobre a maternidade, sobre o papel da mulher que trabalha e que se torna mãe. Os preconceitos enraizados – inclusive os meus próprios. A sociedade que não oferece muitas alternativas à mulher que precisa (e quer) voltar a trabalhar. O confronto entre o que eu mesma pensava antes de viver a experiência da maternidade e o que passei a pensar após ela.
A volta à pesquisa e o início do pós-doutorado, após o nascimento da Clara, foram os disparadores das grandes mudanças que vivi e ainda vivo.
O estranhamento que passei a sentir perante questões básicas da vida, sobre as quais eu tinha conceitos pré-concebidos, foi tomando conta de mim.
Passei a não mais entender – e a não aceitar – a maneira fria com que as pessoas lidam com o fato de uma mulher ter um bebê de 2 meses, que mama, que precisa dela. Passei a não entender como as pessoas podiam pensar que seria fácil e esperado que, simplesmente, a mulher colocasse o bebê no berçário da creche pra voltar a trabalhar.
Guardo até hoje, na minha testa, a marca do cuspe que atirei para o alto antes de ser mãe e que voltou como cocô de pomba depois. PLOFT! Tome, besta, pra aprender e não criar imagens mentais e conceitos sobre o que não faz a menor ideia do que é.
Não fale sobre o que não viveu: lição número 2.
“Se, para mim, é isso o que toda mulher moderna que precisa e quer voltar a trabalhar faz, se é preciso isso para recuperar/manter minha autonomia e liberdade como mulher emancipada, por que esse meu estranhamento, cátso?!”.
Pergunta que repeti a mim mesma dezenas de vezes, por horas a fio, aos 2 meses e meio de vida da minha filha. Mesmo sabendo que eu já tinha a resposta… Mas é difícil enxergar aquilo que te obriga a mudar.
Naquela minha velha concepção de mulher moderna, havia uma falha (para a minha concepção de vida e meus valores) que eu não previa – e não previa apenas porque não era mãe, oras: eu incluía as necessidades que eu teria como uma mulher, mãe, moderna, mas NÃO incluía as necessidades que meu bebê teria. Eu
não sabia quais seriam essas necessidades. Eu nunca tinha lido algo realmente válido sobre o assunto, nunca tinha conversado com mulheres sobre isso, nunca tinha sentido a voz da mãe dentro de mim. E o que meu bebê necessitava era apenas uma coisa: DA MÃE.
E, de repente, a mãe não estaria lá.
O bebê precisa da mãe disponível, física e emocionalmente: lição primordial da maternidade.
Queria muito voltar a fazer pesquisa, gostava muito da ideia do projeto (estudar a base neurobiológica do estresse pós-traumático), precisava daquela bolsa, daquela oportunidade.
Mas ainda assim, não consegui negar o estranhamento que sentia perante a “obrigatoriedade” de colocar minha filha de 2 meses numa creche e seguir como se nada tivesse acontecido.
Certo dia, aconteceram duas conversas, em momentos diferentes, mas com um intervalo de uma meia hora entre as duas, que hoje vejo como fundamentais nos caminhos que escolhi depois, mas que na época me geraram um sentimento terrível de desrespeito.
A primeira: abri meu coração para uma pessoa que considero muito, dizendo que eu não sabia se conseguiria voltar como todos esperavam que eu voltasse. Que eu não conseguiria colocar minha filha numa creche pra retomar do ponto de onde eu tinha parado, que eu não queria isso. Porque o ponto de onde eu havia parado, perto de tudo o que a vida me mostrava de novidade, de grandeza, de beleza pelo fato de ter me tornado mãe, não era mais tão relevante assim dentro da minha nova concepção de mundo, pelo menos não naquela hora, com bebê recém chegado. Mas a pessoa não se importou muito se ali havia uma mulher em adaptação à imensa novidade da maternidade, uma profissional querendo saber como se reinserir num mundo que valoriza o desenvolvimento profissional mas não o desenvolvimento de mães presentes e próximas e que não vê necessidade de estimular ambos os lados de uma mulher. E então ela simplesmente me disse:
– Não faça drama. Não inverta suas prioridades. Você tem um bebê de 2 meses que pode muito bem ficar sem você numa creche enquanto você se dedica à sua carreira, que é sua prioridade. Inclusive para que possa ser uma boa mãe. E, afinal, todas as mulheres fazem isso, você não é diferente. Logo sua filha acostuma.
Choro por lembrar disso.
Da mágoa que me causou, de como me senti ferida.
Segurei o choro, não tive resposta que pudesse dar naquele momento, apenas fiquei em pé olhando pra ela, escorada numa estante e disse: vou pensar, vou ver o que eu faço.
Eu havia deixado minha filha por 2 horas, naquele dia. Era o primeiro dia que saía sem ela, justamente para tentar encontrar uma possível solução.
Então dali a meia hora, a segunda conversa, totalmente inesperada.
Reencontrei dois amigos (um homem e uma mulher). Eles não me viam há bastante tempo. Então conversávamos sobre a minha possível volta, o nascimento da Clara, as novidades pelas quais eu vinha passando e como seria dali pra frente. E então o amigo disparou contra mim o mesmo discurso de “prioridades”. Que uma mulher não pode estudar tanto pra depois cuidar de criança. Que “Tá, nasceu, legal. Mas a creche taí pra isso. Bora colocar a criança lá e começar de onde parou”.
Nem lembro o que respondi. Mas lembro que tinha um “vai cagar” no meio, dito em tom de brincadeira, mas com a traqueia doendo de tanto que apertava o choro (escrevi isso na época, sobre os ocorridos).
Nos despedimos, os amigos foram embora, peguei minha bolsa e corri pra casa.
Chorei o caminho inteiro.
Que falta de sensibilidade era aquela?!
Será que eu havia dado uma zica de encontrar duas pessoas altamente produtivas cientificamente, gente que eu admiro por seus perfis profissionais, mas que pensavam de maneira diferente ou isso refletia o pensamento dominante?!
Não queria a resposta porque tinha medo dela.
Então cheguei em casa e a pequena estava chorando horrores – sombras…
A abracei e disse: “Não, filha. Não será assim. Nós vamos encontrar uma alternativa”.
Então conversei com meu marido, abri meu coração, contei minha angústia de “SER OBRIGADA” a colocá-la numa creche e disse que, ainda que tivéssemos passado todo tipo de dificuldade, eu não iria pagar esse preço. Era um preço muito alto pra mim.
Sentamos repetidas vezes para conversar sobre o assunto. Ele também não concordava com aquilo (ufa, ufa, ufa!). Ele via como ela precisava de mim, e eu dela, e todos uns dos outros, e também sabia como seria importante estarmos todos próximos naquele momento. Era assim que a gente queria nossa família.
Então decidimos mudar. Ele continuaria em casa – já estava muito mais em casa desde o terceiro trimestre da minha gravidez, já tinha se transferido definitivamente para casa depois do nascimento dela -, eu voltaria pra pesquisa, negociaria um horário alternativo, e não colocaríamos nossa filha na creche.
O lugar dela era em casa com seus pais: esse foi o martelo que batemos. Precisaríamos de muitos ajustes, mas estávamos dispostos a fazer esses ajustes.
Propus um horário alternativo, minha antiga orientadora aceitou com a condição de que fosse apenas por mais alguns meses e depois eu voltaria no horário comercial, das 8 às 18, como um pós-doutorando tem que ser. A UFSC disponibiliza uma creche e eu tentaria uma vaga lá.
Aceitei.
Menti. Hoje posso falar.
Eu tentaria dar o melhor de mim no horário alternativo, para mostrar que eu poderia fazer bem feito sem tornar minha vida profissional prioridade e sacrificar o tempo que eu poderia destinar à minha filha.
Lá na frente eu veria o que faria.
Mas não precisou. Logo um segundo projeto que havia escrito ainda grávida saiu, a oportunidade era ainda melhor, representava um grande desafio, era uma honra ter sido aceita e então eu deixei essa e parti pra outra. A equipe que me acolheu aceitou meu horário alternativo, foi muito empática com minha condição de nova mãe e meu horário alternativo permitiu que eu me dedicasse da mesma forma que o horário tradicional. Isso não minimizou a dor que eu sentia de deixá-la em casa tão novinha, mas era possível.
Minha rotina era uma batalha, acordava às 6 da manhã depois de ter acordado umas 5 vezes na madrugada com bebezinho novo e andava pela vida meio zumbi de sono. Clara sempre sendo cuidada por seu pai com todo amor enquanto eu não estava.
Dali a 6 meses tudo mudou novamente. Enchi-me de coragem e decisão e deixei para trás um caminho de estudo que me fez muitíssimo feliz durante muitos anos, mas que não fazia mais e parti pra outro. No novo caminho, eu também precisava sair para me dedicar a ele, mas Clara já estava crescendo e nossa rotina já estava mais solidificada na decisão que tomamos de cuidarmos, nós dois, dela.
Ela não estava pronta para ficar sem os pais, nós não estávamos pro
ntos para ficar sem ela, supríamos suas necessidades e estava dando tudo certo.
E então… crescendo foi ganhando espaço, pulou do meu braço, nasceu outro dia, já quer ir pro chão.
E cresceu rápido demais…
Também rápido mostrou sua personalidade agregadora e ávida por novidades e pessoas.
Simpática, empática, gosta de estar entre adultos e crianças e aprecia uma boa conversa.
Seus pais – nós – mudaram suas vidas para estar sempre com ela.
Transferimos 90% do trabalho pra dentro de casa, revezamo-nos nos afazeres e tornamos as madrugadas nosso horário preferido de trabalho (bom, isso foi fácil, porque já era meio assim mesmo).
Planejamos que ela pudesse estar exclusivamente conosco por 3 ou 4 anos, sem escolarização. E estávamos tranquilos.
Fazer o que deixa o coração tranquilo dá paz: lição número 3.
Mas quem disse que criança é um caminho linear que permite ser planejado?
Quem disse que tudo acontece como se prevê?
E foi então que, antes do que pensávamos, nossas companhias se tornaram insuficientes.
Ela passou a pedir além. Outras presenças. Outras pessoas. Novas situações e desafios. Novidades.
“Papai, qué passiá” – mesmo tendo passeado ontem e anteontem.
“Mamãe, qué amígush” – mesmo tendo encontrado os amigos ontem e anteontem.
“Clara qué muitos mígush”.
Clara queria dar mais um passinho…
Então começamos a pensar na possibilidade dela frequentar um jardim onde pudesse brincar, fazer novos amigos, experimentar novas situações e vivenciar novas emoções. Onde seu tempo de brincar fosse respeitado, sua infância valorizada e sua constituição fortalecida.
Fomos em busca do jardim.
Pai motivado. Mãe em dúvida.
Desde os idos de 98 eu já desconfiava de que tipo de educação eu gostaria para os filhos que eu nem sabia se teria ou não. Frank também gostava da ideia. E então fomos em busca de uma escolinha adepta da pedagogia Waldorf.
Felizmente nossa cidade conta com algumas dessas escolas. Então visitamos três.
No primeiro: pessoas muito queridas, profissionais acolhedores e preparados. Clara – sempre junto, ajudando a escolher – entrou e se familiarizou em questão de minutos. Logo estava sentada à mesa, participando da refeição com os amiguinhos, enquanto conversávamos com as responsáveis.
Gostei bastante. Frank também.
Entrei no carro pensativa e assim fiquei até à noite.
Bem mais tarde, perguntei: “Podemos deixar para 2013? Eu não estou preparada”. Frank ainda conversou comigo um pouco, argumentou com fatos consistentes e verdadeiros, mas aceitou.
Os dias se passaram, algumas semanas se passaram, e Clara mostrava uma vontade ainda mais forte e diferente de tudo o que já havia mostrado. O contato com outras crianças e novas experiências eram os momentos mais felizes dos dias dela, o sorriso e a disposição que ela mostrava nessas horas eram muito emocionantes.
Então percebi que eu estava atrapalhando.
Processei aquele pensamento por alguns dias. E então me enfrentei e marquei uma visita em outro jardim.
Entramos. Clara correu feliz para um grupo de crianças aparentemente da idade dela e ali ficou, brincando, interagindo, enquanto conversávamos com a responsável pelo lugar. Seu amigo Caetano a recebeu e isso fez muita diferença, porque além da alegria de estar junto a outras crianças em um ambiente rico, ainda tinha uma pontinha de “cheirinho de casa”.
E então eu a observei muito. Conversei muito com a professora. Percebi que Frank deu todo o espaço para que eu me entregasse àquilo.
E foi quando, da observação atenta à minha filha, ficou mais claro ainda que eu é que a estava prendendo.
Saí da escolinha com a Clara no colo chorando porque não queria ir embora. E então aceitei.
Ainda fomos visitar mais uma, lindíssima, mas o coração havia ficado na segunda.
Então decidimos, voltamos mais uma outra vez, de novo ela se espalhou como areia por todo o espaço, interagiu com tudo e se mostrou disposta.
E dois dias antes de irmos viajar, fomos lá e fizemos a matrícula.
Saí de lá tranquila.
Mas não muito.
Alterno entre momentos de “Sim, ela quer, e se ela quer e está pronta, então é o melhor a fazer” e “Mas ela é muito pequena para já entrar na roda viva, aqui é a casa dela, as coisinhas dela, não estamos nos precipitando?”.
Não. Não estamos. Sei sinceramente que não.
Diferentemente do que aconteceu em outubro de 2010, quando ela, eu e Frank não estávamos prontos para uma separação precoce, nesse momento apenas um de nós não está pronto. E não são eles…
Eu tenho ferramentas para lidar com esse despreparo a fim de tornar essa experiência feliz para ela.
Posso aos poucos, com o sorriso diário dela, tornar-me preparada para isso.
Mas não posso lidar com o fato de que meu despreparo esteja atravancando seu caminho.
É nisso que se resume minha forma de criar minha filha, no fim das contas: uma mãe não tem o direito de, por despreparo, tornar a vida de um filho menos fecunda, colorida e bonita do que poderia ser. E contra isso, o antídoto está totalmente à nossa disposição: a preparação. Como eu sempre digo, nós não aprendemos previamente como ser mãe. Não podia me preparar ANTES para algo que eu não sabia exatamente como seria. Poderia, isso sim, informar-me, prever, mas preparar efetivamente, não. E as duas primeiras coisas eu fiz. Agora, vou efetivamente me preparar para esse novo passo dela.
Com amor, com entrega, com disponibilidade.
Amanhã, Clara, 2 anos, 1 mês e 10 dias, dará mais um novo passo.
E eu estarei ao lado dela. Aprendendo a lidar com isso, aceitando a mudança de planos, respeitando o desenvolvimento dela e suas solicitações. Transformando o meu despreparo em preparação.
Porque mãe – e pai – é essa coisa que aprendemos a ser enquanto somos: lição final desta etapa.
Hoje, eu faço parte daquele grupo de pessoas que sabem de maternidade apenas o que lhe foi dado por sua experiência. Sou uma mãe moderna, embora não aceite mais a concepção occidental way of life de modernidade. O pacote que me foi bem vendido sobre maternidade e que eu comprei do
status quo por automatismo, sem reflexão e quando ainda não sabia absolutamente nada a respeito eu devolvi. Não me serviu.
E sobre aqueles conselhos que me foram dados? hahahahahahahahaha – Obrigada. Mas não.
Embora meu currículo científico tenha desacelerado, fruto da mudança de área de trabalho e pesquisa e de não ter na carreira minha prioridade número 1, hoje sou uma profissional muito melhor, mais preparada e mais reconhecida. Os cães Lattes mas a caravana passa.
Que seu primeiro dia no jardim seja como todos os demais: rico e feliz. Na sua mochilinha você levará 2 anos e 1 mês de total entrega e dedicação dos seus pais, tempo que coincide com a duração de toda sua vida.
Seu pai e sua mãe estarão lá com você.
Com todo o carregamento de lenços de papel da grande Florianópolis.
Ao meu companheiro, Frank: Guimarães Rosa diz que “cada um rema sozinho uma canoa que navega um rio diferente, mesmo parecendo que está pertinho”. Obrigada por me mostrar que ele está errado. Fomos nós quem tornamos isso possível. Conseguimos!