Muitas mulheres com quem converso rotineiramente e que sabem sobre a pesquisa na qual estou envolvida, me perguntam o que é a violência obstétrica e como pode acontecer violência num momento tão especial e delicado quanto um parto. Antes, eu ficava até contente com essa pergunta, pois, para mim, significava que aquela mulher que perguntava era uma a menos a ter vivenciado isso.
Hoje, não tenho mais essa ilusão.
A violência obstétrica muitas vezes acontece disfarçada de “coisa normal”, de “praxe”. Grande parte das mulheres que adentram as instituições de saúde para dar a luz acabam vivenciando procedimentos “de rotina” que não precisariam, em absoluto, “ser rotina”. Ou, muitas vezes, interpretam a cascata de comportamentos da equipe de saúde como “decorrente da falta de tempo”, “da falta de pessoal”, “da superlotação do hospital”, “do estresse de quem vive aquilo todos os dias” ou tantas outras possíveis explicações para o que se observa.
Mas pense… para coisas boas a gente não fica procurando justificativas. As coisas boas são facilmente aceitas. As coisas ruins, as desagradáveis, é que ficam ecoando em nossas mentes e é para elas que buscamos possíveis explicações. “Vai ver eles não estavam num bom dia”. Ou “vai ver é assim mesmo, a pessoa trabalha todo dia com isso, acaba banalizando”.
Mas isso não pode acontecer.
Tanto não pode que existem dezenas de profissionais da saúde que prezam pelo bom acolhimento, pelo afeto, pelo carinho, pelo bem receber e atender uma pessoa que chega precisando de seu amparo. E são esses profissionais que nos deixam marcas positivas e profundas que duram a vida inteira e, por vezes, mudam nossas vidas.
Para quem não vivenciou uma experiência de parto e me pergunta isso, eu sempre respondo com detalhes.
Mas para quem passou por um parto é mais difícil falar… Simplesmente porque aquela mulher pode nunca ter problematizado o que viveu sob esse prisma. Pode ter achado sempre que aquilo que viveu, embora tenha incomodado, era “o normal”. Mesmo não sendo. E levantar uma questão dessa é algo muito, muito delicado, pois envolve mexer com sentimentos humanos.
Por isso, quando alguém que já pariu me pergunta sobre – “Mas o que é mesmo a violência obstétrica? Como esses desrespeitos podem acontecer?” – geralmente, de uma forma bem sutil, eu devolvo a pergunta. E não são poucas as que, ao tentarem responder, percebem algo estranho e “Opa!”. E o que mais ouço é “É sério?! Achei que isso era o comum!” – e se segue uma expressão de quem está pensando sobre…
Esteja atento! Existe uma imensa diferença entre o que é “comum” e o que é “normal”.
Isso não é normal, embora seja comum. E é contra esse “comum” que nós lutamos.
Embora o que seja violência para uma pessoa não obrigatoriamente o seja para outra, uma coisa é certa: quem se sentiu desrespeitado sabe o que sentiu. De alguma forma isso ficou lá dentro.
O vídeo que estou linkando abaixo me foi enviado por uma querida colega que também trabalha com a questão do parto e nascimento, a Juliana Sell, que faz um trabalho muito bacana com gestantes, mulheres no pós-parto e pais adotivos de bebês, e tem um blog muito bom, o Apoio Materno.
É um excelente vídeo sobre violência obstétrica, produzido pela Amnistía Internacional Uruguay.
Não deixe de ver.
E divulgue também. O objetivo é que ele alcance 0 (zero) visualizações.
É um video curto. E fundamental. Clique nele pra assistir.