Apego. 
Uma palavra. Dois significados.  
Muito se tem falado sobre desapegar-se. Desapegar-se no sentido de não se agarrar a bens materiais, a condições de vida, a pessoas – com a conotação de “não se apegue, deixe-o ir” -, a objetos, a ideais, a emoções e padrões de comportamento. 
Visto por esse prisma, o desapego é uma coisa boa, é algo a se conquistar. Evita sofrimentos, evita falsas ideias de segurança, evita a paralisação, estimula o crescimento e nos faz ponderar melhor sobre as coisas. 
Mas apego também tem outro significado. Apego também é: sentimento de afeição, sentimento de simpatia por alguém, afeto, amizade, amor, benevolência, pergunte para os dicionários. Por esse prisma, portanto, o apego é algo muito bom, que todos nós buscamos. Quem não quer ser amado, ser tratado com afeto, com benevolência, com solicitude, com empatia? 
Ao falar sobre apego lembramos do Attachment Parenting que, em português, tem a tradução bastante imprecisa de “criação com apego”, que eu, particularmente, não gosto muito. Digo que é é imprecisa porque, ao utilizar uma palavra com duplo sentido, damos duplo sentido também à expressão. É muito importante que se esclareça que a criação com apego se refere à segunda conotação mencionada aqui. É uma criação baseada na hipérbole do afeto, na entrega, no amor, na empatia, na disponibilidade, na presença, na reciprocidade, na compreensão e, sobretudo, no estabelecimento de vínculos afetivos saudáveis e seguros. Não no rancor, na doutrinação, no querer ensinar alguém à força, no entendimento de que existe um superior – o adulto -, que deve ser obedecido, e um inferior – a criança, que não tem voz.
Portanto, quando dizemos “criação com apego“, não estamos falando em criar crianças negativamente dependentes dos pais, despreparadas para a vida, apegadas a bens físicos, muito pelo contrário. Estamos falando de crianças amadas com tal entrega, dedicação, presença e disponibilidade que isso as torna seguras. Quanto mais sabemos que alguém está ali para nós e, junto com ele, está também o seu amor, mais seguros nos tornamos. E segurança emocional traz coragem, firmeza nos passos pelos caminhos da vida, tranquilidade e paz interior.
Quando alguém diz que não gosta dessa ideia de criação com apego porque isso tende a criar pessoas inseguras, carentes, dependentes, não faz a menor ideia do que está falando.Quando alguém diz que criação com apego não estimula a independência e a responsabilidade, não faz a menor ideia do que está falando. A criação com apego gera exatamente o oposto. Inseguro se torna quem sabe que não adianta chamar pelo pai ou pela mãe que não será atendido; carente se torna quem recebe negativa ou desprezo no lugar da presença e da disponibilidade; dependente se torna quem não se sente confiante o suficiente para desprender-se. A falta de amor gera crianças introvertidas, cruéis, violentas, praticantes de bullying, preconceituosas, agressivas. 
Algumas pessoas dizem, ainda, preferir criar filhos com uma certa distância emocional por saberem que a separação é inevitável, seja a curta separação da escolinha, seja a separação que a idade adulta, de uma forma ou de outra, traz. Se pensarmos assim, ninguém mais amará ninguém, ninguém mais buscará a união, a parceria, a comunhão, porque sabemos que, mais cedo ou mais tarde, todos nos separaremos.
A questão é: o que você quer fazer com o tempo de proximidade que lhe é concedido, seja na vida em geral ou como mãe ou pai? 
Quer criar filhos com afeto, dedicação e presença ou prefere criá-los com uma dose de afastamento para evitar o (seu) sofrimento? 
Optando pela última, você está, além de iludindo a si mesmo, aumentando a possibilidade daquilo que quer evitar: o sofrimento. 
Nós nos queixamos diariamente da forma como as pessoas em geral estão se comportando: com individualismo, egoísmo, egocentrismo, falta de empatia ou compreensão. Mas esquecemos de que é desde a infância que isso está sendo estimulado.Quando nos tornamos mães e pais, temos a grata oportunidade de ajudar a mudar o mundo.Pelo nada simples fato de que criar boas pessoas para o mundo é ajudar a melhorá-lo.Para quem diz “Não deposite sobre mim essa responsabilidade“, eu digo: não fuja dela. Isso é o que de melhor você pode fazer não só por seus filhos, mas por todos, inclusive, e principalmente, por você.
Porque criar filhos com amor ajuda a ressignificar a sua própria história.
Não perca essa chance. Sempre é tempo de melhorar a qualidade do vínculo com nossas crianças… Sempre é tempo de mudar a própria história.


*escrito originalmente em 28/02/2012

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