Por que você bate no seu filho?
– Porque ele mereceu. Já cansei de falar pra não fazer isso ou aquilo, mas ele insiste em fazer.
Por que você bate no seu filho?
– Porque é bom que se ensine limite desde cedo.
Por que você bate no seu filho?
– Porque eu apanhei quando criança, aprendi, sobrevivi e sei que não faz mal.
Por que você bate no seu filho?
– Porque não adianta conversar com ele.
Por que você bate no seu filho?
– Porque se eu não fizer isso hoje, a polícia fará amanhã. E eu prefiro bater hoje do que ver meu filho preso no futuro.
Por que você bate no seu filho?
– Porque minha religião diz que é preciso corrigir a criança com vara.
Por que você bate no seu filho?
– Porque eu perco a paciência.
Por que você bate no seu filho?
– Porque sempre foi assim, as crianças precisam apanhar pra aprender a se comportar.
Por que você bate no seu filho?
– Porque eu sou o pai, ou a mãe, e eu tenho autoridade pra isso.
Por que você bate no seu filho?
– Porque eu sou a mãe, eu sei o que é melhor pra ele.
Por que você bate no seu filho?
– Porque esse negócio de conversar com criança não leva a nada. Criança não entende conversa, entende força, ordem.

Por que você bate no seu filho?
Porque você não se preparou para educá-lo de fato. Porque você demonstra incapacidade para lidar com situações limítrofes. Porque você se acha superior – física e moralmente. Porque você é mais forte, sabe que a criança é fisicamente mais fraca e usa essa desigualdade para amedrontar (se não se achasse, bateria no amigo, no vizinho, no padeiro, no policial. Mas não bate porque neles sabe que haverá troco, mas na criança não…). Porque você confunde medo com educação. Porque você não conhece (ou ignora) outras formas de educar. Porque você vem de uma educação violenta, apanhou bastante e não foi capaz de usar a própria experiência para aprender outras formas de educar. Porque você acredita que violência serve para uns (como seus filhos), mas não para outros (você). Porque você não se importa de infligir dor física ao seu filho. E usa o argumento hipócrita de que “dói mais em você do que nele” – embora seja ele quem fica marcado, que sente a dor e chora muito. Porque você acredita na violência como forma de punição. Porque você não sabe quais as consequências emocionais da agressão física. Porque  você deve acreditar que nas penitenciárias estão pessoas que receberam total amor e educação não violenta – afinal, se tivessem apanhado, não estariam lá (mal sabe você que muitos estão lá justamente porque conviveram desde sempre com um ambiente hostil, opressor e violento). Porque você é incapaz de tratar criança como ser humano, digno de direitos – iguais aos seus, ou maiores. Porque você, muito hipocritamente, usa o que está escrito nas tais escrituras para justificar sua incapacidade, embora ignore todas as partes que falam sobre amar ao próximo como a si mesmo. Porque, batendo, você não precisa se dedicar afetivamente ao seu filho naquele momento difícil. Porque você se esquece que crianças imitam os adultos – e acharão que bater é normal (veja o seu caso…). Porque você não tem autocontrole. Porque você não está preparado para educar de fato e foge disso por meio da violência. Porque você subjuga seus filhos. Porque você ainda não percebeu que amor e violência são coisas excludentes.

Luana (esse não é o nome dela) é uma menina de 7 anos. Cresceu tomando tapas e palmadas – das tais “educativas” que inventaram que existem apenas para justificar a própria tendência violenta – e recebendo puxões de orelha quando não fazia algo aprovado por seus pais. Vive em um bairro de classe média, estuda em escola particular. Apanhar – “educativamente” – é rotina em sua vida. Seus pais se orgulham das palmadas – “educativas” – que dão na frente de todos, dos puxões de orelha e das ameaças – mais atuais – de “vou pegar a cinta”. Tudo educativo. Em prol da “boa educação”.  Dizem, orgulhosos, que a filha sabe com quem está lidando e que está crescendo bem criada. Dizem que passaram da palmada “educativa” para a cinta porque perceberam que as palmadas já não surtiam efeito, ela havia se acostumado com elas. E foi quando a menina, então com 6 anos, desenhou com canetinha na parede recém pintada do apartamento, depois de muitos avisos dados de que não era pra pintar ali, que ela tomou sua primeira surra de cinta. Nunca mais desenhou. E seus pais consideraram isso eficiente. Repetiram a dose sempre que avisavam algo e ela fazia ainda assim (6 anos de idade…).
Em um dia de jogo de futebol, a garotinha corria com os filhos dos amigos dos pais pela sala do apartamento quando, sem querer, chutou o copo da visita que estava apoiado no chão. Impulsivamente, porque isso já fazia parte da rotina, seu pai virou e deu-lhe um tapa. Mas saiu mais forte do que esperava. Pegou na orelhinha esquerda da menina, que desatou a chorar. Sua mãe a pegou no colo, disse que era pra prestar mais atenção por onde corria e que já estava bom, que já podia parar de chorar. Ela foi pro seu quarto e lá ficou chorando. Teve uma febrinha depois, mas “nada demais” diziam os pais. Desde aquele dia, Luana passou a ser mais retraída e a brincar menos com os amigos. Não se envolvia muito nas aulas. Não dava ouvidos à professora. Fingia não ouvir seus pais.
Luana não fingia.
Luana perdeu a audição do ouvido esquerdo com o tapa que recebeu.
O tapa educativo.

Dia 19 de novembro, próxima segunda-feira, é o Dia Mundial pela Prevenção da Violência Doméstica contra a Criança.
Os blogs Cientista Que Virou Mãe e Mamíferas, com o apoio da amiga, pesquisadora e ativista contra a violência infantil Dra. Andreia Mortensen, estão organizando e incentivando uma postagem coletiva sobre o assunto, com o título:

“EU NÃO BATO NO MEU FILHO. DOU O EXEMPLO. 
Por que escolhi criar meus filhos sem violência?”

E estamos chamando todo mundo pra participar!

No dia 19, poste um texto – no seu blog ou perfil das redes sociais – juntamente com a imagem que acompanha essa postagem e o título que está acima (“Eu não bato no meu filho. Dou o exemplo. Por que escolhi criar meus filhos sem violência?”) contando porque você cria seus filhos sem violência. Como foi esse processo. Que estratégias usa. Como faz. Dê dicas, oriente, compartilhe. Pense que alguém que considera palmada e tapa como estratégias educativas poderá ler sua experiência, repensar sua prática e tentar mudar.
Muitas famílias que viam na palmada ou tapa educativo uma forma eficaz de “educação” já puderam repensar sua prática e mudar. Vamos falar a respeito, vamos compartilhar o que vivemos.
As crianças não merecem passar por qualquer tipo de violência. Ninguém merece passar por isso.
Quem defende o respeito às pessoas, defende a todas as pessoas, sejam
crianças, adultos ou idosos. Mulheres ou homens. Evangélicos, católicos, espíritas ou umbandistas. Não há respeito se ele for respeito a um mas não a outro.
Compartilhe a postagem, chame outras pessoas.
No dia 19, vamos encher os blogs e as redes sociais de histórias de compreensão, afeto e superação.
E não de violência.
Violência não é educação.

Violência não é amor.

Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro;
a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.
Platão

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