Atire a primeira pedra a mulher que nunca esteve com aquele cara apressadinho, que acha que com 2 minutos de preliminares já “tá bom de enrolar” e quer ir direto aos finalmentes. Ou aquele que faz sexo oral uma vez na vida e outra na morte, mas quer que você compareça toda-santa-transa porque, afinal, a gente tem obrigação mas ele não, né? E o pior de todos: o que acha que deixá-lo excitado é o nosso maior prazer, então vamos controlar todos os movimentos do momento para que ele se sinta satisfeito (e você trabalhando para isso, claro) e ainda jogue um “você gosta de me agradar, né?”, esperando a resposta positiva para afagar o ego de macho dominador.

O que isso tem a ver com pornografia? Tudo, minha cara. Vamos começar falando da objetificação da mulher.

A setorização dos filmes mostra isso da forma mais medonha possível. Navegar por uma barra de “categorias” de sites pornográficos é um convite à bizarrice. Brancas, negras, ruivas, altas, gordas, baixas, magras, crianças, grávidas, “maduras” e por aí vai. A classificação do filme é, geralmente, de acordo com o “tipo” de mulher que ali está representado. Isso quando o mostrado não é crime de pedofilia (nunca vou entender esse fetiche medonho de “cara de 15, corpinho de 20”, para ser bem amena. Como, em sã consciência, o cara sente tesão em uma mulher porque ela parece ser uma CRIANÇA de 15 anos?).

Essa classificação nos diz duas coisas: primeiro, estes filmes são feitos para o público masculino exclusivamente. “Ah, mas tem filmes com lésbicas”. Não. Tem filmes retratando a relação entre duas mulheres da forma como os homens a fantasiam. Eu acredito que nenhuma das lésbicas que conheço costuma ter relação sexual da forma como elas são mostradas na indústria pornográfica. Segundo, as mulheres estão expostas ali não como agentes do ato sexual, mas como objetos de realização dos desejos dos homens. E, para isso, não têm vontade, tesão, satisfação ou opção. Toda e qualquer performance delas será sempre voltada para o que ELE quer.

Ela olha para a câmera, faz poses e posições nitidamente desconfortáveis, grita, geme, lambe os lábios. Não do jeito que dá prazer a ela, mas do jeito que dá prazer a ele – o macho consumidor.

E aí o cara, acostumado a ver exatamente o que quer, a escolher no menu o tipo de corpo, a cor e até a performance da mulher, vai para o mundo real. Com mulheres reais. Mulheres que não têm vaginas perfeitamente depiladas, nem peitos enormes e duros de silicone, ou barrigas sequinhas/molengas/grávidas (porque, né? Vai do gosto de cada um). Mulheres que não gemem como se estivessem ADORANDO CADA MINUTO daquele encontro, que não gozam a cada mudança de posição, que não fazem sexo oral como se fosse a coisa para qual nasceram e que não se importam de não terem seus desejos atendidos.

Pronto. Puf, a conexão cai.

A conexão cai porque aquela mulher real, ali, que não se especializou em cinema pornô, não atende às expectativas daquele cara. Porque ele, que sempre que quer (ou todos os dias), vem aqui na internet e dá uma pimbada com a própria mão, imaginando-se nas cenas dos filmes, não tem no seu próprio relacionamento uma mulher disposta a agir daquela forma. Ou com aquele corpo. Ou sem pelo algum no corpo (de novo, infantilização da mulher no sexo). Ou que curte gastar todo o tempo em que estão na cama (ou em qualquer outro lugar da casa) agindo como se o prazer do cara fosse seu principal objetivo.

Sabe o que eu já ouvi muito nessa curta jornada de feminista? “Quando eu descobri o que me dava prazer, meu relacionamento acabou. Porque ele não queria abrir mão do conforto/conveniência do sexo que já tínhamos (e era totalmente voltado para o prazer dele)”, ou “Acabou porque ele acha que fiquei chata, que não quero mais fazer nada do que ele gosta – porque não me sinto mais obrigada a isso”. Ou a minha preferida (a frase está resumida, mas foi isso mesmo que a moça escreveu): “Eu pedi a ele para fazer oral em mim todas as vezes que a gente transou durante três meses. Ele disse que eu exigia demais. Fiz sexo oral nele em todas as nossas transas durante três anos. Estou solteira.

PORNOGRAFIA E MATERNIDADE

Antes de sermos mães, a sexualidade se mostra de um jeito. Se você é bem resolvida, ela é simples e acontece sem muitos obstáculos – veja, estou falando de marcar um encontro com quem se quer, onde se quer, como se quer. Depois de sermos mães, não só as mudanças físicas, mas emocionais e toda aquela enxurrada de hormônios, acaba transformando a forma como vemos o sexo. Sem contar a rotina exaustiva da maternidade e a falta de tempo atrelada a ela. Não estou dizendo que antes era bom e depois ficou ruim, ou vice versa. Só estou dizendo que fica diferente.

A perspectiva de amar, cuidar e de se relacionar da mulher muda com o olhar da maternidade. Muda portanto, também, sua forma de lidar com seu próprio corpo – aquele que gerou e trouxe ao mundo os filhos. Os filhos, aqueles que tomam conta da maior parte do tempo, dos pensamentos, do planejamento e da energia das mães. Agora – depois que vira mãe – ela olha pro parceiro e não sente aquele tesão adolescente. Porque agora ela precisa de cuidado e parceria. Sim, agora é o puerpério. Depois, ela olha para ele e procura calor, afago e segurança. Depois, é a rotina dificílima estabelecida com uma, duas ou seja lá quantos filhos sejam. E o tesão? Continua ali, em algum momento ele volta com força, mas será que é o mesmo tipo de tesão de antes? Depende de cada uma, sim. Mas a jornada até que ele volte ou se reconstrua é que é difícil. E é durante essa jornada que muitos relacionamentos vão pro ralo…

Então o pai, precisando desafogar os próprios hormônios, vai ali no computador. Abre um site de pornografia. Se alivia. Eu nem vou comentar sobre os que acabam criando relacionamentos extraconjugais – físicos ou não – , porque já são outros 500. Mas vamos lá, a tal pornografia. Para satisfazer seus desejos, aquele pai vai ali e procura o que quer. E nesse tempo de recuperação da mãe, ele se acostuma a ver aquelas mulheres submissas, extravagantes, desejáveis. E volta para um quarto para encontrar uma mulher cansada, sensível e – provavelmente – com um corpo muito longe daquele com o qual ele estava acostumado. Ou, em outro cenário, o seu corpo está de volta, o máximo que você conseguiu fazer com ele estivesse. Mas a sua rotina, a sua mente, os seus parâmetros de relacionamento e sexo mudaram. E tudo isso não bate mais com o que era a vida sexual de vocês antes dos filhos. A realidade distancia o desejo do apurado cotidiano.

Veja bem, a discussão aqui não é sobre o CONSUMO da pornografia. Mas sobre a REPRESENTAÇÃO feminina na pornografia comercial. Porque é essa representação que cria expectativas nos homens e frustração nas mulheres. E estamos falando aqui com um recorte específico nas relações heteronormativas, para simplificar a discussão.

Uma pesquisa rápida e é possível encontrar várias outras pesquisas sobre a dificuldade das mulheres de atigirem orgasmos. Sobre como só a penetração não é suficiente. Sobre a importância das preliminares. E sobre como a conexão emocional com o parceiro é importante para que o sexo se mantenha prazeroso em relacionamentos duradouros.

 Então, quanto mais as perspectivas se distanciam acreditando-se ou  desejando-se que aquele comportamento mostrado nos filmes poderia ser real e transferido para o relacionamento cotidiano, mais esse relacionamento se desgasta. Porque ali vai estar não só uma mulher pressionada pelas expectativas do homem, mas massacrada pela própria cobrança pessoal sobre o que deveria ser seu comportamento íntimo para manter aquele parceiro do qual ela precisa tanto. Quando isso acontece, a autoestima dela vai ao chão. E quando uma mulher perde a autoestima ela está a meio caminho de um relacionamento abusivo, ou de um processo depressivo.

Portanto, mulheres, ao invés de tentar refletir essa representação absurda para agradar quem quer que seja, tomem as rédeas dos seus corpos e dos seus desejos. Muita conversa, conversa franca. Mentiras sinceras não interessam, nesse caso elas destroem. E liberdade – de expressão, de ter ou não ter tesão, de admitir as mudanças e de se dar ao direito de ser amada como se é. Porque o “é”, quando a gente vira mãe, muda. E precisa ser reconstruído com calma e muito carinho consigo mesma.

Para descontrair, vale assistir este video sobre Pornografia x Sexo real. É leve, mas traz umas verdades. 😉

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