Imagem: Silvia Falqueto |
Quando eu sugeri, no início do mês de junho, a postagem coletiva “Para o bebê, o melhor leite é o da mãe“, foi para que, no Dia Internacional do Leite (24 de junho) – que, com toda a certeza do mundo, não foi criado para enaltecer os benefícios do leite materno – diferentes pessoas pudessem parar, refletir e falar a outras pessoas como é importante a prática do aleitamento materno.
- historicamente, quando um bebê não era amamentado por sua mãe – o que por si só já era um evento raro – era o leite do peito de outra mãe que o alimentava. Eu, particularmente, gostaria de estar vivendo num mundo em que as amas-de-leite não fossem mais artigos raros. Talvez tenha sido por isso, também, que fiz questão de doar muitos e muitos litros de leite para o hospital infantil da cidade, quando a minha produção ainda não havia se regularizado;
- o primeiro a recomendar o uso do leite da vaca como alternativa ao humano foi um médico chamado Underwood. Sabe quando? Em 1784. O interessante é notar o contexto histórico da época: as mulheres burguesas e as que tinham melhores condições financeiras recusavam-se a amamentar seus filhos, vejam só que coisa…
- foi um outro médico, chamado William Cadogan, que, embora defensor do aleitamento natural, instituiu a regularidade das mamadas, ou seja, que os bebês fossem alimentados em horários fixos, a cada 4 horas. Foi ele também que “proibiu” as mamadas noturnas. E você sabe por quê tantas regras? Porque ele, pessoalmente, acreditava que alimentar um bebê era um momento de lhe passar uma infecção. Meio problemático esse doutor, não? Isso no século 18, tá? Então, minha querida, se você é daquelas que colocou horário para a mamada porque sua doutora disse que era pra fazer assim, sinto lhe dizer: você não é nada moderninha, você é antiquada pacas. Ouso até dizer que você é demodê, baby, datada mesmo. Sai dessa, fofa. Vem pra modernidade. Seu bebê não é relógio. Ele é um bichinho. E, como tal, tem fome a qualquer hora;
- essa parafernalha toda de fórmulas, complementação e tal começou com o leite condensado – que não era propriamente o leite condensado que a gente conhece hoje. Mas foi difundido comercialmente por uma empresa cujo nomezinho você conhece até hoje: Nestlé. E só foi difundido assim tanto porque coincidiu com o momento da revolução industrial, quando as mulheres passaram a trabalhar grandes cargas horárias, mesmo na época da amamentação. O seguinte trecho, inclusive, está nesse excelente artigo:
“Page, um americano que formara na Suíça a Anglo-Swiss Condensed Milk Co., supôs corretamente que o leite condensado produzido podia ser estocado e utilizado pela população em crescimento da Inglaterra no período da industrialização”.
- o artigo também chama a atenção para a relação digamos, “íntima”, que existe entre os fabricantes de substitutos ao leite materno e os médicos. A autora cita, inclusive, uma outra referência para dizer que
“os fabricantes vendem, mas os médicos controlam: uma relação mútua vantajosa entre médicos e companhia de alimentos infantis está estabelecida”. E afirma que essa mesma referência utilizada sugere que os médicos estão desejosos de cooperar porque vêem na alimentação artificial um meio de controlar os pacientes “porque estes passariam a procurá-los mais”.
e sou doutora mas não sou médica, conheço vários, imaginem vocês que estudaram para isso – ou que deveriam ter estudado, pelo menos…
“os lucros das companhias, entretanto, não teriam sido auferidos se só este mercado [os dos bebês que realmente precisam de complementação] fosse atingido. Daí a tarefa de criar nas mães (e nos médicos) a “necessidade” de tais produtos formulados ter sido dever bem cumprido através das técnicas de “marketing” por todos esstes últimos cem anos. A imagem do produto perfeito, que leva a bebês robustos e facilita a vida da mulher, é vendida com toda a sofisticação e invade os vilarejos mais distantes”.
Tetas, a quem agradeço todos os dias com toda devoção. Se precisasse ter oferecido por não ter podido amamentar, faria com a consciência tranquila de estar fazendo o que é melhor pra ela, depois de tentar tudo o que fosse possível para amamentar. Mas não me deixo ser pescada por outros produtos dessas mesmas indústrias. E é por isso, também, que eu não ofereço à minha filha nenhum tipo de alimentação pronta de indústrias como essas. Nenhum potinho. Porque acho que já tem mulher demais sendo pescada pelas promessas de aparente facilidade e saúde “enfrascada”.