Resposta 1: sono é um estado que me acompanha a partir do meio da tarde, todos os dias há 189 dias.
Resposta 2: É uma arte milenar que eu costumava praticar com gosto antes de ser mãe, a noite, mas que, há 189 noites, tornou-se picado em mil pedaços, já que sou mãe de uma bebezinha delícia de 6 meses que acorda muitas vezes na madruga, ora pra mamar, ora pra ganhar um abracinho, ora porque quer bater um papinho. Não é segredo que vesti de corpo e alma a experiência da maternidade, vivencio ao máximo tudo o que ela proporciona, e amo cada coisinha. Exceto a privação de sono. Eu quero morrer com a privação de sono. Eu quero atear fogo em Roma por conta da privação de sono. Eu quero depor o governo, por causa da privação de sono. Quero bater a cabeça na parede, por causa da privação de sono. Fico louca mesmo. Mas na hora em que a filha acorda na madrugada querendo um cheirinho, sou o mais doce animal mamífero do mundo, a pego com carinho, coloco no colinho, dou o aconchego e volto a dormir. Mas durante o dia eu fico louca! Ok, explicado isso, vamos em frente.
A privação de sono causa uma série de alterações no organismo. Tenho um monte de companheiras de experiência materna que me perguntam como eu consigo ainda produzir leite dormindo tão pouco, porque é sabido que a privação parcial de sono influi na liberação de prolactina e ocitocina. Não sei, não faço a menor ideia, teremos que perguntar para meu hipotálamo, porque eu mesma não sei. Na verdade, cada dia que passa eu acredito mais fortemente que sou membro da dinastia MaCLeod, aquele personagem de Highlander, que não morre nem dando com um pau na cabeça. Enfim…
Os efeitos da privação de sono não são nada legais. O primeiro estudo sobre os efeitos da privação do sono em humanos foi feito em 1896, quando os caras privaram voluntários de sono por muitas horas e observaram uma série de prejuízos ligados à memória, aprendizagem, entre outros, mas também observaram que, após uma longa noite de descanso, se recuperaram de todos os prejuízos.
A pergunta é: mas e quando a pessoa não tem como repor isso?!
Olha… sei que não é nada legal.
Sei que a coisa é tão punk que já foi usado como instrumento de tortura na Coréia, vejam vocês…
Eu, na verdade, não sei nem qual foi a última vez que sonhei. Não lembro. E existe um artigo muito bom, em português, de um pessoal do Grupo do Sono do Departamento de Psicobiologia da UNIFESP, que eu tenho a felicidade de conhecer, que diz o seguinte:
O primeiro experimento de privação seletiva de sono foi realizadopor Dement(1960). O autor fez uma privação seletiva do sono REM edemonstrou que, a privação desta fase do sono, causava um aumentodo percentual do sono REM durante o período de recuperação emrelação ao seu basal, denominando esse fenômeno de efeito rebote.Além disso, observou que poderiam ocorrer distúrbios psicológicos,concluindo que a supressão dos sonhos poderia desencadear uma sériadisfunção da personalidade. A existência de um rebote de sono apósum período de privação demonstra que o sono não é um simplesperíodo de redução da atividade ou do alerta regulado pelo ritmocircadiano ou ultradiano.
Mas e quem não consegue recuperar? Vai ver começa a sonhar acordado…
Eu mesma acho que já comecei. Ando sonhando com o dia em que minha filha voltará a dormir uma noite, uma noitezinha, uma noitinha de nadica de nada só, inteira.
Outro dia uma amiga, também recém-mãe, disse: e pensar que a gente emendava uma balada na outra na graduação, e ainda fazia prova e assistia aula, sem nunca tomar pau, e hoje a gente apita ao menor aperto…
Minha amiga, presta bem atenção: EU NUNCA EMENDEI 189 BALADAS UMA NA OUTRA, DORMINDO SÓ 4 HORAS ENTRE ELAS.
Juro!