No madrugada do dia 26 para o dia 27 de março deste ano tive um sonho muito especial.
Sonhei que uma querida amiga estava tendo bebê. Essa amiga estava mesmo grávida, aguardando a chegada do filho ou filha (ela optou por não saber o sexo da criança). Acordei impressionada pela expressão de alegria dela com a filha nos braços – sim, em meu sonho era uma menina. Uma linda menina, muito cabeluda, moreninha e bochechuda, diferente do primeiro filho dela, o Bernardo, que é bem loirinho.
Permaneci com aquela forte sensação por algumas horas, pensando se devia ou não ligar pra contar.
Acontece que isso não é raro comigo.
Com frequência sonho que amigas que estão grávidas estão ganhando seus bebês – e por algum motivo daqueles que a ciência não explica, os sonhos geralmente coincidem mesmo com o processo de nascimento. Foi assim com minha prima, há 14 anos atrás, e foi assim com outras três amigas próximas.
Por lembrar dessas histórias, enchi-me de coragem, peguei o telefone e liguei para a Ana. Sondei o estado emocional dela antes, para não aumentar sua ansiedade. E por percebê-la muito tranquila, com muita delicadeza contei sobre meu sonho. Disse que havia sonhado com o nascimento de seu bebê, que ele era bem diferente do seu primeiro filho e que ela ostentava uma expressão de muita felicidade. Em respeito à sua opção, inicialmente não contei que o bebê do sonho era uma menina. Mas foi exatamente essa a pergunta que ela me fez. E então eu respondi: “Um menina, Ana! Bochechuda, cabeluda e moreninha!”.
Ela me pareceu muito feliz com a conversa e senti que havia feito a coisa certa.
Eu não sabia… Eu não podia imaginar uma coisa dessas…
Mas naquele exato momento, Ana estava sentindo as contrações. Somente depois ela me contou. Ela estava nos pródromos – contrações que sinalizam que o nascimento está bem próximo.

Dois dias depois, Paulo, seu companheiro, me ligou. Lembro-me até hoje da doçura em sua voz: 
“Liginha, Ana está em trabalho de parto. Ela está tranquila, está bem, estamos em casa e aqui ficaremos até que o momento do nascimento esteja mais perto”.

Que emoção senti.
Essa notícia foi muito, muito esperada por todas as suas amigas e amigos.
Por que?
Porque Ana havia passado por uma cesárea há 1 ano e 5 meses para o nascimento do seu filho Bernardo, mesmo tendo desejado tanto um parto domiciliar. Ana foi uma das pessoas que me inspiraram a mudar de carreira e estudar a violência obstétrica, em função do que passou no nascimento do seu lindo menino. Seu relato me inflamou de indignação por saber que uma mulher, uma amiga, passara por aquilo.
Quando recebi a notícia do seu trabalho de parto, chorei de emoção. Eu sabia o quanto isso era importante para ela e quanta angústia ela havia sentido durante os 9 meses de gravidez de seu novo filho, sem saber se, tendo vivido uma cesárea há tão pouco tempo, poderia viver a experiência de parto normal com a qual tanto havia sonhado. Muitos obstetras não incentivam mulheres com cesáreas prévias a terem um parto normal – por desinformação, medo e/ou preconceito, ainda que as evidências científicas incentivem. Ainda mais uma cesárea acontecida há tão pouco tempo…

Bem, a história do nascimento de sua filha Betina – SIM! Era mesmo uma menina! – Ana só conseguiu contar em detalhes há alguns dias, 6 meses após seu nascimento.
Ela enviou seu relato de parto para a lista de parto domiciliar da qual participamos.
Quando vi aquele relato lá, sabia que não poderia lê-lo a qualquer momento. Sabia que precisaria reservar um tempo especialmente para isso, porque com certeza iria me emocionar muito. Então, em certo dia, comecei a ler. E levei três dias para isso… Precisei parar muitas vezes.
Só quem passou pelo que nós passamos entende isso.
Ao final da leitura, eu escrevi privativamente para ela – não liguei, não dava pra falar por telefone…
Escrevi contando o que havia representado para mim aquele relato, como havia sido especial ler aquela história de amor. De coragem. De autoconfiança. De determinação. De empoderamento.
Então hoje, tenho a imensa honra de publicar aqui o relato de parto da Ana Maria. Essa mulher determinada e corajosa, que pariu seu segundo bebê – uma linda menina moreninha, cabeluda e bochechuda – na água, após 1 ano e 5 meses de uma cesárea para a qual ela não havia se preparado.
Publico mediante autorização e incentivo dela.
Com o único e exclusivo objetivo de incentivar outras mulheres a lutarem por seus sonhos e por seus partos. De mostrar que é possível viver o que chamamos de VBACvaginal birth after cesarian. Inclusive quando a cesariana aconteceu há não muito tempo.

Ana é uma inspiração para mim.
Ela sabe disso.
No momento que Betina nasceu, eu, Frank e Clara estávamos de frente para o mar, na companhia de nossos amigos queridos, e celebramos com um brinde a notícia dada por seu pai por telefone.
Eu chorei. Cobri o rosto com as mãos e chorei ali mesmo.
Porque eu sabia que junto com a bebê havia nascido outra mulher.
E porque Ana mostrava a todas nós que: SIM, NÓS PODEMOS!

O relato do nascimento de Betina
Por Ana Maria Castilha

Eu já vinha pensando que poderia estar grávida a alguns dias. Naquele dia, minha prima-amiga-comadre veio me visitar em Floripa e eu contei sobre meu palpite; ela então me incentivou a criar coragem e fazer o teste de gravidez. Como chovia muito e eu não queria sair de carro até a farmácia, liguei pro marido e pedi que ele trouxesse um teste de gravidez. Ele prontamente me respondeu: “Coloca um espumante para gelar então!” Com aquela resposta eu soube que tudo daria certo, e eu o amei mais ainda. Ele trouxe 2 testes e os dois deram positivo.Meu maior receio era sobre o parto. Eu queria sim mais um filho; eu me apaixonei pela experiência da maternidade e queria muito ter mais um filho, mas a ideia de ter que passar por outra cesariana me assombrava. Naquele momento eu vi o sonho do parto normal ir para mais longe ainda na minha linha da vida…
Alguns dias depois, fui a um encontro de amigas – mais um Bazar Coisas de Mãe – e lá encontrei a enfermeira-parteira Iara e contei sobre a gravidez. Perguntei a ela o que ela achava sobre a possibilidade de um parto normal após 1 ano e meio de uma cesariana e ela me recomendou que consultasse com a dra. Roxana; que para ela (médica) tudo seria possível! Fiquei feliz e confiante naquele dia!
Marquei consulta com a Roxana quando estava com 20 e poucas semanas de gestação. Na primeira consulta ela logo me devolveu esperanças, disse que seria sim possível eu tentar um parto normal, que o risco era mínimo e que eu deveria acreditar no meu poder. Recomendou-me que fizesse um acompanhamento psicológico para tentar resolver internamente a questão do nascimento do Bernardo, que seria muito positivo para o nascimento daquele bebê que eu gestava. Ela também me indicou a terapeuta e doula Carolina Horn, com quem fiz acompanhamento nos 5 últimos meses de gestação e que foi de fundamental importância neste processo.
Durante os 5 meses de terapia, lidei com meus medos e tentava não criar muita expectativa sobre o parto natural, creio que por conta do medo que eu sentia de ter que lidar com outra frustração
novamente. Mas ao final da gestação a expectativa foi crescendo em meu coração e eu começava a sonhar grande novamente. Li muitos relatos de VBAC, conversei com amigas que tiveram experiências parecidas, as quais me carregavam de boas expectativas, busquei muita informação sobre os riscos e os mitos. Desta vez me sentia mais preparada para o que tivesse que vivenciar, fosse parto natural, parto normal induzido ou outra cesariana. Decidimos que o parto seria hospitalar porque eu não queria que o medo de uma possível ruptura uterina sem tempo hábil para chegar no hospital travasse o trabalho de parto (eu nem sabia se teria esse medo na hora ou não, mas queria me cercar de cuidados quanto a isso).
Cheguei na tão esperada 37ª semana de gestação, quando então decidi encarar o exame de ultrassonografia para verificar a espessura da cicatriz da cesariana anterior. Digo que “decidi” porque meu obstetra – TÃO RESPEITOSO DAS MINHAS ESCOLHAS – me deixou livre para decidir se faria ou não, afirmando que me apoiaria e me incentivaria ao parto normal independente do exame. Disse-me que estaria junto comigo no parto normal se o resultado do US fosse de 3 a 4 mm.
No dia do exame estava muito ansiosa. O médico que fez a US disse que a espessura era de 4 mm, mas que eu deveria conversar com meu obstetra porque o bebê era muito grande, que havia outros dados para avaliar… Aquela conversa não me desanimou, eu saí dali muito confiante. Pra mim aquilo era um sinal de que meu sonho estava muito perto de se concretizar.
Levei o exame ao obstetra que me animou mais ainda.
Estava tudo se encaminhando. Agora minha ansiedade maior era que o bebê nascesse enquanto meus pais estivessem na minha casa para cuidarem do Bernardo. Meu desejo era que o Bernardo estivesse conosco no nascimento, mas não poderia prever o que aconteceria e precisava ter alguém de confiança para cuidar dele. Tinha duas amigas daquelas especiais mesmo (Ligia e Sheila) que se propuseram a ficar com ele, o que diminuiu muito a minha ansiedade, mas ainda sim estava preocupada porque não sabia como o Bernardo se sentiria ao ficar tempo só com elas, sem o papai ou a mamãe por perto. Com o vovô e a vovó ele já estava muito acostumado. Então, nestas últimas semanas, eu me esforcei muito para não deixar a ansiedade tomar conta de tudo. Tinha medo que isso dificultasse o início do trabalho de parto (talvez pela experiência que tive com a gestação do Bernardo).
Na noite do dia 27/03 eu comecei a sentir contrações muito doloridas, mas espaçadas. Estava confusa, não sabia ao certo se eram mesmo contrações ou cólicas intestinais. Tive diarreia também. Passei a noite inteira em claro contando o tempo entre as contrações. Queria muito que fosse o início do TP. Logo pela manhã as contrações desapareceram. Liguei para a Carol (doula) que me disse que eram as contrações de preparação… (ahh, que desânimo! Eu já achava que fosse trabalho de parto). Logo mais eu saí para caminhar e recebi a ligação da minha querida amiga Ligia me contando que havia sonhado com meu bebê. Que era uma menina bem moreninha, cabeluda, linda, diferente do Bernardo. Que no seu sonho eu estava muito feliz. Disse também que uma semana atrás ela havia sonhado com bebês também e que no dia seguinte uma outra amiga sua entrara em TP. Eu contei que tinha passado a noite com contrações. Ela me animou.
Passei o dia seguinte esperando mais contrações e nada… Ansiedade crescendo. Meus pais tinham passagem marcada para o próximo sábado, e já era quarta-feira. Conversei com minha mãe e pedi que ficasse até o bebê nascer. Ela concordou. Um pouco mais de tranquilidade agora.
Dia 29/03 – quinta-feira – LUA NOVA.  Meus pais, Bernardo e eu fomos almoçar fora e passamos a tarde no centrinho da Lagoa. Bernardo brincou muito na pracinha, eu fiz compras de roupas com minha mãe e comprei também tintas para fazer a pintura da barriga (que queria fazer há meses).
Final de tarde chegamos em casa e, como não tinha feito minha caminhada naquele dia, resolvi subir e descer as escadas em casa mesmo pra ver se a coisa desencadeava. Fiz o exercício por uns 15 minutos. As panturrilhas tremiam…
Paulo (namorido) chegou e eu sugeri que fizéssemos a pintura da barriga porque achava que no dia seguinte já não teria mais a barriga. Assim fizemos.
Logo após terminarmos o desenho e fazermos algumas fotos, comecei a sentir as contrações novamente. Agora sim!!!
Passei a noite toda com contrações MUITO fortes, que ritmavam e espaçavam, não estavam regulares! Fui para o chuveiro, lá a dor aliviava, eu queria dormir lá mesmo. Em um momento de desespero e medo, pedi pro Paulo ligar pra doula e pedir pra ela vir. Eles trocaram mensagens de texto, ela disse que ainda não era trabalho de parto, recomendou que eu descansasse (oi? Descansar como?). Eu fiquei emputecida, eu tinha certeza que aquilo era sim trabalho de parto. E era… mas apenas o início, os pródromos.
Paulo tentava dormir e eu ficava marcando as contrações, estava muito ansiosa para que elas ficassem mais ritmadas. Não consegui dormir nada.
30/03/2012 – A sexta-feira amanheceu. Eu me sentia super animada! Estava muito feliz por estar sentindo tudo aquilo. Passamos o dia em casa. Eu perambulava pela casa e quando as contrações vinham, eu me debruçava em alguma parede e respirava. Tentei manter o foco na respiração, conforme a doula havia me orientado. Passei muito tempo no quarto, pois não queria que meus pais me vissem “sofrendo”. Sim, eu estava sentindo as dores das contrações, mas estava tão feliz! Finalmente tinha chegado o dia! Eu estava em trabalho de parto! Meu corpo não tinha defeito! Era meu bebê me dizendo: “Mamãe, estou pronto para te ver! Vamos começar!” Eu não sabia como meu bebê nasceria, se por parto normal ou cesariana, mas sabia que ele estava pronto para nascer. Só isso me fazia realizada. Não sei se meus pais entendiam essa felicidade ou se só percebiam a dor que eu sentia. Meu pai fez almoço, um risoto de camarão. Eu não sentia muita vontade de comer, mas almocei. Eu sabia que precisaria de muita energia em meu corpo.
A tarde a doula veio me ver. Ficou um tempo comigo avaliando as contrações. Embora eu estivesse sentindo contrações bem fortes e frequentes, ainda não era trabalho de parto ativo. Não me recordo quanto tempo ela ficou comigo, e o que fizemos. Sei que ela disse que iria para seu curso e voltaria mais tarde.
Já era noite e as contrações estavam mais fortes ainda. Eu fiquei muito tempo no chuveiro. Saí de lá e fui tentar descansar um pouco, mas logo que deitei na cama me senti mal e vomitei. A partir de então eu não queria mais deitar. As contrações estavam muito próximas. A doula chegou, acho que era perto das 22h:00min. Após sua avaliação, ela ligou para o obstetra  Fernando dizendo que eu estava em trabalho de parto ATIVO! Ebaaaa! Finalmente!
A presença da doula foi fundamental para me tranquilizar. Ficamos no quarto por um tempo. Ela foi me orientando sobre a evolução do trabalho de parto. Explicou-me que ficaríamos em casa até as contrações ficarem mais próximas, de 5 em 5 minutos, acho, quando então iríamos para a maternidade.
Meus pais tinham dado uma saída e quando voltaram trouxeram chocolates (que eu havia pedido) e pizza para a janta. Eu não sentia vontade de comer, por isso pedi os chocolates que me dariam energia.
Meu menino-parceiro não deu trabalho para dormir. Mamou e dormiu cedo. Por falar nisso, durante as mamadas as contrações ficavam muito fortes. Não sei como eu consegui amamenta-lo.
Já era bem tarde quando descemos para a sala. Lá ficamos a doula, Paulo e eu. Pedi para meus pais subirem pois eu não queria barulho. Lembro que pedi para meu pai parar de lavar louça pois o barulho me incomodava. Pedi também para desligarem a máquina de lavar roupa. Acho que fiquei bem chata nesses momentos.
Colocamos um cd que a doula havia trazido. Eram músicas muito boas. Ela havia até ace
rtado o meu gosto musical. Paulo e eu até dançamos durante as contrações.
De madrugada a doula me orientou a sair para uma caminhada com o objetivo de aumentar a frequência das contrações. Saímos então nós 3 para uma caminhada na rua no meio da madrugada. A cada contração, Paulo e eu parávamos e nos abraçávamos. O abraço dele me acalmava e me dava força.
Quando retornamos, mais um banho quentinho para compensar.
Ao sair do banho, a Carol já sugeria irmos para a maternidade, pois as contrações estavam com um bom ritmo, sinal de que o trabalho de parto estava evoluindo bem. Eu pedi para ficarmos mais um tempo em casa, queria ficar o mínimo possível na maternidade. Ela concordou.
Eis que o Bernardo acorda! E como sempre, ele só volta a dormir se mamar… Eu não queria subir as escadas. Me trouxeram o Bernardo ali na sala e eu dei mamá para ele ali no sofá. Ele dormia, mas quando tentávamos leva-lo de volta para a cama ele acordava. Lembro que a doula me dizia que o meu bebê da barriga estava precisando mais de mim que o Bernardo, que meus pais cuidariam bem dele, etc, etc, mas eu precisava saber que o Bernardo estaria dormindo bem para conseguir sair de casa tranquila. Assim eu fiz. Ele novamente mamou em meu colo, dormiu, e eu mesma subi com ele para o quarto, no intervalo entre uma contração e outra.
Eu queria o Bernardo junto no nascimento do bebê, mas como ele estava dormindo eu não quis acordá-lo. Combinamos que quando o bebê estivesse próximo de nascer ligaríamos para meus pais para levarem o Bernardo para a maternidade.
Fomos para o carro, era perto das 4 da manhã de sábado (31/03). A doula dirigia e o Paulo ia comigo no banco de trás. Cada lombada era como se minha lombar estivesse abrindo… Que caminho mais longo esse de casa até a maternidade.
Lá chegando, eu fui com a doula para a consulta com a médica de plantão e o Paulo ficou na recepção para fazer o internamento. Meu obstetra estava de plantão em outro hospital, então pediu que eu fosse avaliada com a médica que estava ali na maternidade. Ela me examinou, fez um toque e … 5cm de dilatação! Ela então ligou para meu obstetra e ele disse que estava saindo para vir para a maternidade. A médica pediu para eu ficar deitada para fazer a cardiotocografia. Putz! Ficar 20 minutos deitada em uma maca, com contrações, quiéisso gente! Eu queria voar no pescoço dela… Mas eles nos chantageiam! Ela disse que precisava verificar se meu bebê estava bem, é claro que eu topei. Fiquei acho que por uns 10 minutos apenas porque eu comecei a passar mal e vomitei ali mesmo. Mas o bebê estava bem! Ufa.
Fomos então para a sala de parto. Lá onde havia a tão sonhada banheira! Eu queria entrar naquela banheira logo, mas a doula não me deixava. Dizia que eu iria relaxar e o trabalho de parto iria travar. Fui então para o chuveiro. Fiquei lá um tempão, não sei quanto, só lembro que a doula veio me acordar. Sim, pois eu estava cochilando no chuveiro. Era sinal de que as contrações haviam espaçado. Eu precisava me movimentar.

Saí do chuveiro e fomos caminhar pelos corredores da maternidade.
Não me lembro quanto tempo o obstetra demorou para chegar lá. Lembro que ele chegou, fez um toque e eu estava com 8 cm de dilatação. Que maravilha! As contrações haviam se espaçado, não estavam tão fortes, mas eu já estava com 8cm! Vai entender o corpo da mulher, né?! Ele pediu se eu estava com fome, eu respondi que sim, então disse pra eu tomar café. 

Lá por 8hs da manhã Paulo mandou mensagem para meu pai dizendo que podiam vir, o bebê estava esperando o mano Bernardo chegar para poder nascer.
Nós fomos caminhar pelo pátio da maternidade. Eu precisava me movimentar pois o bebê ainda estava alto. Caminhamos muito por lá. As contrações já não eram tão fortes.
Mais um toque e 8cm e bebê alto ainda. O obstetra sugeriu o rompimento da bolsa. Eu não queria. Decidi caminhar mais um pouco.
Contrações espaçadas novamente, então concordei em romper a bolsa. Agora me sentia pressionada em razão do tempo que era mais limitado com bolsa rota.
Já era meio-dia ou mais. Mais um toque e dilatação total! Ebaaa! Agora só falta o bebê descer. Muitos exercícios na bola, agachamentos, caminhadas. As contrações se intensificaram agora, ficaram mui
to próximas. Eu estava mega cansada. Não acreditava que conseguiria.
Lembro da minha doula me perguntando algo do tipo: “Do que você está com medo? Será que tem algo aí dentro que está bloqueando seu trabalho de parto?” E eu tinha medo sim, tinha medo não sei de quê. Estava com medo do final. Tinha medo de não conseguir, pois, sinceramente, não sei como eu lidaria com essa frustração. Hoje, quase 6 meses depois do nascimento dela – e meu – eu consigo perceber isso.
Mas eu respirei fundo e segui em frente. Fui para a banheira. O obstetra saiu para um descanso. A doula saiu para comer algo. Ficamos Paulo e eu ali na banheira. Comecei a sentir os puxos. Um desespero bateu, pensei que o bebê fosse nascer ali, sem médico e sem doula, e aí o marido foi fundamental. Eu gritava pelo nome da doula, eu tive muito medo. Nesse momento, Paulo me tranquilizou, disse que o que importava é que NÓS estávamos ali juntos para receber nosso bebê. E eu acreditei nele. Ele se superou, me surpreendeu. Injetou-me uma carga de força que ele não faz ideia. Eu jamais esquecerei daquele momento. Como a presença dele foi importante. Ele era minha segurança, meu ponto de apoio, o que eu precisava naquele momento para conseguir partir para o ponto mais alto do trabalho de parto.
A doula veio, viu meu estado, chamou o médico. A partir de então eu acho que entrei na tal partolândia e não tenho memórias claras sobre tudo. Lembro que eu estava exausta e com medo. Eu estava tomando soro pois me sentia muito fraca. Em um momento o obstetra (depois de me consultar) pediu para colocarem buscopam para eu dar uma relaxada, mas eles não conseguiam pegar a minha veia novamente. Tiveram que furar o outro braço. Eu tive raiva da enfermeira naquele momento. Que vontade de manda-la para a PQP, mas me contive. O Paulo entrou em cena com sua experiência dos tempos de técnico de enfermagem e orientou a “chefe de enfermagem” sobre como fazer o soro descer, e eu brava com ele porque deveria estar me apoiando e não cuidando do trabalho da equipe de enfermagem (olha o nível de estresse da pessoa aqui…). Ele e a doula riam da inexperiência da tal chefe de enfermagem, e eu sem achar graça alguma.
Eu achava que não ia aguentar. Sentia os puxos mas o bebê estava alto ainda. Disse ao médico que não sabia mais o que fazer. Ele disse pra eu deitar na cama que ele me ajudaria. Eu abominava essa idéia. Doía muito! Mais algumas contrações e novamente eu pedi socorro. Ele me disse “Ana, deixa eu te ajudar!” Fui pra cama. Acho que umas duas contrações ali, ele fez alguma manobra que ajudou o bebê a descer.
Durante esse tempo na cama meu pai chegou na porta do quarto com o Bernardo mas eu fiz sinal para que voltassem depois. Eu não queria me desconcentrar naquele momento.
Desci da cama e, orientada pela doula, fiz um ou dois agachamentos durante as contrações, e senti o bebê lá embaixo.
Fui pra banheira. De cócoras, mais umas duas ou três contrações, muita força de minha parte, meu bebê coroou!!! Eu coloquei a minha mão lá embaixo e senti a cabeça do meu bebê! Não tenho como explicar o que senti nesse momento. Uma força gigante tomou conta de mim! Foi aí que eu senti que conseguiria. Com muito alívio, soltei um “vai nascer!” que ficou gravado no vídeo. Mais uma contração, uma força tremenda, uma ardência sem tamanho, e saiu a cabeça dela, eu fiquei muito nervosa, sem saber o que fazer, médico e doula me acalmaram, e então mais uma forcinha e nasceu meu bebê. Paulo e eu o pegamos! O médico tirou o cordão do pescoço do bebê (uma circular) e eu então vi: UMA MENINA!!! Era ela, a Betina! Era a menininha que eu tanto queria (mas tinha receio de querer, de criar expectativas). Quanta emoção, meu Deus! Que momento Divino! Não sentia mais dor alguma. Sentia uma alegria imensa e uma sensação de que fui capaz. Às 14h30min nasceu a Betina, bochechuda, de olhos grandes arregalados para mim! Chorou bastante mas logo se acalmou e não tirava os olhos de mim. Que coisa mais maravilhosa isso. Muito profundo. Lembrarei para sempre desse momento.


Eu logo pedi que trouxessem o Bernardo. Ele estava dormindo no carro, então tiveram que acordá-lo  (coisa que ele não curte, obviamente). Quando ele entrou a Betina chorava ainda. Ele olhou para nós na banheira, estava sério. Começou a chorar também. Minha mãe saiu do quarto e levou ele com ela. Como eu gostaria de saber o que se passou em sua mente naquele momento… Essa parte não foi como eu sonhei. Queria que ele tivesse entrado na banheira também, queria que ele entendesse que a chegada da maninha era uma coisa boa, que estávamos todos festejando aquele momento. Mas não aconteceu. Quem sabe numa próxima oportunidade…
Entretanto, é claro o amor que ele sente por ela hoje e isso me basta.

Bem, ficamos muitos minutos curtindo a pequena ali na banheira. Uns 20 minutos, creio eu. O obstetra respeitou também nossa vontade e o cordão umbilical só foi cortado após esse tempo, depois que parou de pulsar.
Saí da banheira e fui para a maca para a dequitação da placenta e para cuidados com a pequena laceração que tive. A placenta foi guardada, conforme havíamos solicitado. Enquanto isso, Betina era pesada e avaliada pela neonatologista ali do meu ladinho. Logo após os procedimentos de praxe, Betina foi para o colo do papai enquanto eu tomava banho e me recuperava. Acataram meu pedido e o banho na pequena não foi dado naquele dia (afinal, ela havia nascido na água e não havia nada a ser limpo). Ela ficou grudada em mim durante todo o tempo em que ficamos na maternidade.
Meus dois grandes medos: ruptura uterina (medo do rompimento em si e também medo de ficar com medo e travar o processo) e anestesia (tinha medo de pedir/aceitar anestesia sem realmente haver necessidade) – nem pensei neles durante o trabalho de parto.
Me sinto realizada. Me sinto capaz. Me sinto poderosa. Eu VIVI isso! Eu não vou mais pensar que passarei minha vida sem viver esta experiência. Foi a experiência mais intensa que vivi nesses 31 anos.
Uma amiga me perguntou se foi como eu sonhei. Não foi. Eu não sonhei com a laceração e com a difícil recuperação (física e emocional). Mas acredito muito que foi o que eu precisava viver. A laceração foi por conta da força que fiz? Deveria ter esperado mais? Não sei. Só sei que não tinha mais forças, estava exausta e queria sim que tudo acabasse logo afinal, foram 4 dias entre pródromos e trab
alho de parto ativo, 2 noites e 2 dias com contrações, sem dormir. Mas quando ela enfim nasceu e eu a peguei em meus braços, todo o cansaço desapareceu, toda a dor deixou de existir, só existia minha pequena família e a realização de um grande sonho.
E hoje, 6 meses após o seu nascimento, eu olho para essa periquita tão risonha e tranquila, e sinto que ela veio pra me mostrar o quanto a vida pode nos surpreender, o quanto podemos nos superar quanto a motivação é verdadeira.
O nascimento da Betina ajudou a cicatrizar, enfim, a ferida do nascimento do Bernardo. Porém, posso dizer que a cesárea do Bernardo deu ainda mais significado ao nascimento da Betina; sem ela não teria sido assim tão emocionante quanto foi. Afinal, nossa vida é feita de nossas experiências.
Paulo, Carolina, Fernando – obrigada por todo o apoio. Vocês fazem parte fundamental dessa linda história que será contada à Betina com muito orgulho. Sem vocês ela poderia sim ter nascido naturalmente, mas certamente não seria tão lindo como foi.

Obrigada, querida amiga, por compartilhar essa momento tão especial e inspirador.
Muito obrigada.

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