Parece que o mês de março tem se tornado um mês de questões “maternais” na minha vida.
Primeiro porque março é mês de aniversário da minha mãe, então sempre penso na questão “mãe”. Esse ano, minhas irmãs organizaram uma festa surpresa pra ela e nós conseguimos participar à distância, via webcam e msn, pra que eu pudesse participar e a Clarinha pudesse aparecer vestida de presente pra ela, com um laço Elke Maravilha na cabeça.
E também porque, no dia 24 de março do ano passado, eu selei aquela que seria a melhor decisão já tomada na minha vida: decidi que minha filha nasceria por meio de um parto humanizado, se possível domiciliar. Fui a um encontro com a equipe que faria o parto domiciliar dela, para conhecer a filosofia do grupo, seu modo de atuação, perguntar sobre os riscos, os benefícios, os métodos, tirar todas as dúvidas que existiam na minha cabeça – mas principalmente, esclarecer o pai da Clara sobre essa iniciativa, já que, quando eu falei pela primeira vez que queria ter o bebê em casa, ele quase teve um treco. Relatei essa experiência aqui no blog com o título de “Parto não é pra qualquer homem“, frase dita nesse “consultão” pela enfermeira Iara. Eu não poderia nem imaginar o que aconteceria dali por diante, a mudança que esse grupo ajudaria a operar na minha vida e que essa Iara aí, essa enfermeira porreta que explicou tudo como funcionaria naquele dia, se tornaria minha amiga pessoal, alguém que está sempre me apoiando e me dando helps necessários e que sei que estará na minha vida em outros momentos tão importantes quanto o nascimento da Clara. Coisa de intuição, fia, isso num mi falha…
No domingo passado, dia 20 de março, aconteceu o encontro que eu esperava desde o nascimento da minha pequeninha: o Encontro Anual de Famílias Hanami. Na verdade, o nome oficial é Encontro Anual de Bebês Hanami, mas como já é o IV encontro, os “bebês” iniciais já viraram crianças felizes que correm por tudo e brincam o tempo todo. Foi um encontro muitíssimo esperado, onde pude dar rostos aos nomes que me ajudam virtualmente, na lista de discussão, tantas e tantas e tantas vezes, mulheres que me ajudam todos os dias a cuidar bem da minha filha e que me ajudam a segurar a onda, que às vezes vem em tsunamis, e dar conta da barra, quando ela pesa demais. Mulheres que formam uma verdadeira família virtual. Falamos sobre isso diversas vezes nos últimos dias…
Um pouco antes do encontro, rolou um grande desabafo coletivo na lista de discussão, uma grande catarse coletiva mesmo, mulheres multiuso tentando dar conta de tudo, cansadas, exaustas, mas realizadas como mães e sempre buscando novas dicas e orientações. O que aconteceu a partir daí foi uma coisa como nunca vi em toda minha vida. Apenas porque eu fiz um comentário, em tom de brincadeira, dizendo que “eu gostaria de criar um serviço de personal ajudeitor de mães cansadas Tabajara” e a partir de um seminário que a Gabi, mãe do Pedro e barriguda da lista, assistiu, de repente surgiu um movimento daqueles que a gente não vê todo dia. Emocionante… Está se organizando uma “caderneta” – foi esse o nome que foi dado até agora. Um esquema de ajudar e ser ajudada, de cuidarmos umas das outras, de termos ajuda física e presencial mesmo. Mais ou menos assim: eu tenho um tempo livre no dia tal e moro em tal lugar. Vejo que outra amiga da lista mora ali por perto e está precisando de ajuda: corro lá pra dar uma força. Que força? Qualquer uma: ficar um pouco com o bebê no colo pra pessoa poder terminar de tomar banho (é, fia, é uma loucura essa vida…), ou ajudar a dar uma organizada no caos da casa, ou fazer uma comidinha, ou passear com o bebê pra mãe que não dormiu a noite tirar um cochilo, ou bater um papo mesmo, coisas assim. Coisas que só quem tem um bebezinho pequeno e mora longe de mãe, irmã, cunhada, sogra, sabe como é importante… Precisei? Vejo quem mora ali perto e disponibilizou aquele dia da semana pra ajudar e grito ME SAAAAALVA. Estamos começando a montar o esquema, mas só disso ter sido sugerido já foi muito emocionante.
Outra coisa que surgiu, de uma sensibilidade imensa: um monte de mulher trabalhando, cuidando de filho, sem tempo pra si, meio jogada nas paradas de sucesso, se sentindo desleixada. Eis que uma sugere um encontro coletivo para cuidarmos umas das outras. E eis que outra, com a rapidez de uma mensagem, oferece sua casa para isso e disponibiliza a babá que cuida do seu filho enquanto ela trabalha, para cuidar da filharada de todas enquanto cuidamos umas das outras. Olha, uma coisa linda de ver. Dá pra ter uma pequena noção de como viviam as sociedades matriarcais do passado, de religião pagã, onde a mulher tinha um valor totalmente diferente dos dias atuais e quando viviam em comunidade.
Então se criou um clima extremamente carinhoso, extremamente humano, de reciprocidade e compreensão para o encontro de domingo. E confesso que, só de escrever isso e de transpor em palavras o que senti ali com elas, já me emociono. A sensação que eu tive foi a de estar voltando às minhas origens: aquelas mulheres ali, com seus filhos por perto, crianças correndo felizes, comida farta na mesa e, o que foi chamado a atenção: SEM NENHUM CHORO DE CRIANÇA, mesmo tendo dezenas ali…
Acho que esse foi o terceiro momento mais especial que vivi nesse último ano, só perdendo para o nascimento da minha filha e para o dia em que minha filha e minha mãe se conheceram.
Estavam dezenas de pessoas que acreditam de corpo e alma que para mudar o mundo é preciso mudar a forma de olhar o nascimento, de nascer e de criar os filhos.
Tantas pessoas diferentes, sendo iguais. Tantos iguais, sendo diferentes.
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